Você estudaria para ser milionário?

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 12/12/2023
Horário 06:00

Foi ao ar no último domingo o episódio em que Luciano Huck entrega o primeiro prêmio da história do quadro “Quem quer ser um milionário”. A pernambucana Jullie Dutra levou para casa R$ 1 milhão e escancarou a milhões de telespectadores que, junto com sua fé, a razão do sucesso neste desafio foi o conhecimento que adquiriu em anos e anos de muita dedicação aos estudos.
Bem, eu não me assusto com isso, mas ao me deparar nas redes sociais e nos portais com o destaque para esta condição, fico com a sensação de que realmente ser uma pessoa estudiosa é sim estar em um ponto fora da curva e que esta condição é sim fator de sucesso na vida, por mais óbvio que tudo isso pareça.
Jullie disse em entrevistas que inclusive sempre foi o “patinho feio” da turma, a “nerd” que não era chamada para os rolês porque viva estudando e vou confessar que me identifiquei muito com ela. Lembro de não estar várias vezes nas rodinhas mais populares, porque entre ir para a farra e estudar, optava pelo segundo.
Mas hoje, quando olho para a estabilidade que me cerca, e por estabilidade digo que não seja apenas uma questão financeira e sim ter condições de trabalhar e me sustentar em qualquer espaço e a qualquer tempo, eu penso que a minha escolha foi a melhor de todas. 
Optar pelo conhecimento pode ser difícil quando se tem 13, 14 ou 15 anos ou até mesmo já na vida adulta. Mas nunca será em vão e ao longo do tempo, seja com as coisas dando certo ou dando muito errado, você entenderá o que significa a expressão “Não existe almoço grátis” e que não se trata apenas de uma questão de diplomas ou títulos e sim de condições de encarar bem a vida e seus desafios. 
E de certa forma, o que hoje eu faço em sala de aula não é preparar os melhores jornalistas do mercado, mas sim orientá-los em nome de um conhecimento que aí sim, dará a qualquer um, condições de vencer na vida. A inteligência adquirida é como um arsenal que possuímos para que seja usado a qualquer instante. Se não há arma, não há como lutar e resta apenas abaixar a cabeça e se render. 
Não me julgo melhor que ninguém e, por sinal, há muito ainda para percorrer, mas será sempre pela busca pelo conhecimento que minha estrada estará sempre asfaltada. 
E que isso sirva hoje não só para você, que precisa escolher entre o mais fácil e o estudo. Vale especialmente a quem tem a responsabilidade de preparar futuros cidadãos. 
Quem é pai como eu, ou mãe, não pode nunca desistir. O mundo digital é muito complexo e sedutor mesmo. Só que nossas crianças nasceram nele, são frutos e nativos digitais e querer tirá-los deste espaço é batalha perdida.
O que eles precisam, porém, é de conscientização de que a vida é muito mais do que joguinhos, redes sociais, dancinhas e apps. A internet bem usada é riquíssima, mas também pode ser o caminho mais fácil para transformar nossos filhos em completos idiotas no futuro. Não negligencie isto.
E por mais difícil que seja e você até duvide do conhecimento como uma forma de se vencer na vida, filhos não podem ter o futuro decidido em cima de convicções duvidosas.
Se a criança diz que não gosta de ler, que não gosta de estudar, que odeia ir à escola, é preciso repreender sim. Não é opção. Ou é, se você gosta de arriscar muito e perder sempre.
Para fechar, uma passagem que aconteceu comigo na universidade. As aulas noturnas sempre vão até 22h30, mas invariavelmente uma boa quantidade de alunos saía 22h e alegava para isso que os motoristas dos ônibus que vinham de outras cidades é que “exigiam”. Até aí, decisão da pessoa. 
Porém, um dia uma aluna me questionou sobre o fato de continuar dando a aula até 22h30 e que ela seria prejudicada porque tinha que sair 22h. Enfim, queria saber o que eu iria fazer sobre isso. 
Bem, só pude dar a ela um conselho: “Olha, não vou deixar de dar aula até 22h30 porque sou pago para isso, mas recomendo que você faça um acerto com o motorista que está exigindo sua presença antes da aula terminar. Diga a ele que, quando se formar, ele irá ajudar a pagar parte de suas contas porque o salário que você irá ganhar em subempregos por aí não será muito bom.” Ela foi a melhor aluna da turma naquele ano e nunca mais saiu antes do horário.  

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