O filósofo inglês Francis Bacon, enquanto um entusiasta do empirismo, associou o progresso da humanidade com o desenvolvimento científico. Sob essa perspectiva, a evolução da sociedade é definida a partir do fomento aos mecanismos e nuances do conhecimento racional, da experimentação e da legitimação da ciência enquanto fornecedora de verdades. Por certo, o método científico contribuiu, de forma categórica, para a prosperidade material humana. Não obstante, é comum atestar o crescimento de teorias negacionistas, que objetivam desmerecer as conquistas atestadas empiricamente.
Todavia, também é possível averiguar uma crescente valorização absoluta da ciência, isto é, do cientificismo, uma crença funesta e potencialmente destrutiva. Afinal, qual é o papel da ciência no mundo contemporâneo e qual a melhor forma de compreendê-la?
Numa primeira análise, é premente frisar a eminência do método científico, pois seus mecanismos possibilitaram a evolução material da sociedade, bem como acarretaram melhores condições de vida, a ampliação do conhecimento médico e, por conseguinte, o aumento na expectativa de vida. Entretanto, compreender a ciência como a única forma de entender a realidade implica o sacrifício de uma variedade de modos do saber e interpretações do mundo.
Nesse sentido, insta trazer à baila as atrocidades cometidas pela ciência no século XIX, visto que o chamado conhecimento empírico favoreceu visões eurocêntricas e etnocêntricas, as quais serviram de base teórica para exploração dos povos da Ásia e da África no processo denominado de neocolonialismo. Portanto, o método científico não é infalível, tampouco absoluto.
Ademais, as preciosas lições de moralidade, justiça, amor, compaixão e magnanimidade não são advindas do racionalismo e do empirismo, mas do potencial simbólico do homem, das emoções, do vínculo com o transcendente e da própria arte. Desse modo, o estudioso norte-americano Joseph Campbell afirmava que o mito representa um dos principais instrumentos de formação pedagógica, pois transmite importantes valores morais e um senso eminente de bondade e resiliência. Além disso, o desenvolvimento tecnológico, que caminha lado a lado com o progresso da ciência, apresenta um potencial de escravização do homem, tornando-o refém de vícios, de prazeres fúteis, da alienação e do individualismo.
Diante disso, afirma o pensador Jürgen Habermas: “A crença cientificista em uma ciência que possa um dia não apenas complementar, mas substituir a autocompreensão pessoal por uma autodescrição objetivante, não é ciência, é má filosofia”.
Em vista dos fatos supracitados, é importante frisar o papel da ciência como instrumento do desenvolvimento humano, do combate à ignorância, da atenuação do negacionismo e, por fim, como um meio utilizado para o progresso qualitativo da sociedade, não somente do sucesso quantitativo. Todavia, a visão segundo a qual o método científico é capaz de fornecer todas as verdades é equivocada, imoral e destrutiva. Eis a visão prudente: A ciência é uma das formas de conhecimento e não a única.