Jonathan Augusto Rocha, 30 anos. “Cresci tomando pedradas, chutes”. Essa é a lembrança do morador de Presidente Prudente, quando questionado sobre a realidade do LGBTQIA+. “Começam quando a gente passa a ser diferente de outros meninos, quando algo está ferindo o ego dele [agressor]. Nunca levei isso a sério, nunca fiquei deprimido, mas sempre lutei para não perder esse espaço que estamos conquistando”.
O prudentino é somente um entre vários homens e mulheres homossexuais que, desde pequenos, ouvem comentários do tipo: “vê se vira homem”; “isso aí é uma fase, depois passa”; “é falta de apanhar”; “mas também, foi criado por mulheres”; “futebol é coisa de macho”; bem como apelidos como “baitola”, “veadinho”, “sapatão”, entre outros. Além de frases que doem aos ouvidos das vítimas, há aqueles que agem de forma velada, mais precisamente, com olhares e atitudes.
“Eu trabalhava em um hospital e ocorreram duas situações. Teve um paciente que começou a me xingar em inglês, achando que a gente não entendia”, lembra Jonathan. A ele, eram direcionadas palavras como “gay” e “viado”. “Era muita coisa ao mesmo tempo. Levamos o caso para a Justiça, mas como ainda homofobia não era considerado crime, acabamos perdendo. Outra situação, que não levei muito a sério, era de um dependente químico que teve um surto durante a madrugada, e teve um momento em que ele rasgou meu jaleco, falou que eu era ‘viado’”, lembra.
“Nesse momento, quando o paciente está fora de si, a gente não pode levar a sério. Então, eu respondi: ‘meu pai me aceita, minha mãe sabe’. Mas o mais sério foi esse que falou em inglês, porque ele sabia o que estava fazendo, ele era de idade e tudo mais, mas sabia”, relata. Jonathan afirma que a maior parte dos agressores são homens, principalmente, quando anda na rua de roupas curtas ou justas.
Roberto Kawasaki - Jonathan mora com os pais, irmã e sobrinho
Atualmente, Jonathan mora com os pais, a irmã e o sobrinho de 8 anos, na casa que fica em frente ao salão de beleza ao qual é proprietário. Talentoso na hora de se maquiar, bom gosto para escolher a melhor peruca e roupas coloridas, cheias de brilho, dá vida às personagens drag queens. “Hoje, graças a Deus lutei muito pelo meu espaço, tenho pessoas incríveis ao meu lado. No começo, foi difícil a família entender, mas hoje ajudam super, são incríveis”, afirma. “Muitos amigos já foram vítimas de homofobia, inclusive, de apanhar na frente do bar. Quem está de fora parece que nunca vê, mas algum dia vão entender que isso é uma luta”.
SAIBA MAIS