Ainda no Cemitério Municipal São João Batista, um lugar em especial é visitado no Dia de Finados. Dentro de uma pequena capela, o silêncio tomava conta dos adoradores. Nas paredes brancas com detalhes rosa, havia vestidos rendados pendurados no puxador da janela, bem como plaquinhas de agradecimento às graças alcançadas, o que mais parecia a decoração de um quarto de criança. Ao fundo, abaixo do quadro de Berta Lúcia, diversas caixas com bonecas foram deixadas por visitantes em forma de presentear a criança prudentina que é considera a “milagreira”.
Berta Lúcia, nascida no dia 15 de novembro de 1939, faleceu aos 4 anos de idade, vítima de meningite na cidade, uma vez que na época não existiam muitos recursos para a cura da doença. A história da garotinha é conhecida desde o seu falecimento, há 74 anos, pois conta-se que ela, ainda pequena, já apresentava diferenças em relação às outras crianças de sua idade. Conta-se ainda que um descendente de japonês foi curado de uma doença por Berta Lúcia, ao solicitar bênçãos, e construiu o pequeno memorial como forma de agradecimento.
A diarista Jaqueline Moreira, 41 anos, fez questão de deixar uma boneca que pertenceu à filha aos fundos da capela. “Quando minha menina tinha 6 meses de vida, apresentou um quadro grave de bronquite que não havia cura. Como eu já tinha conhecimento dos milagres que ocorriam aqui, pedi para que ela alcançasse a cura, o que foi atendido”, comenta. Após o acontecimento, passaram-se 25 anos e a diarista retornou ao local, como faz todos os anos, para agradecer e pedir para que a filha continue com saúde.
E teve gente que foi pela primeira vez visitar o túmulo da “milagreira”. Com os olhos lacrimejados, Daiane Stephanie Negre Luzito, 28 anos, conta que foi pedir graças pela proteção da filha, de 2 anos. “Visitar a capela é um costume que tem ultrapassado gerações, e minha mãe me motivou a conhecê-la”, afirma.
Trabalho por prazer
João de Souza, 68 anos, é funcionário público municipal aposentado. Mesmo após o desligamento dos serviços, não perdeu o costume e continua a zelar pela capela de Berta Lúcia, trabalho que desenvolve há quase 40 anos. Apesar de estar no local por tanto tempo, afirma que nunca pediu a intercessão da criança para alcançar algo em sua vida, mas que procura ouvir as histórias dos que sobem os degraus em direção ao interior do ambiente.
E olha que ele conhece muitas histórias. “Algo que me marcou durante este período foi de uma moradora de Pirapozinho que tentava vender uma casa, mas ficava sempre embargada. Certa vez, ela veio até aqui e pediu por um milagre e, em menos de duas semanas, ele se concretizou. Então, a gente percebe que são diversos tipos de pedidos, não apenas para melhoria na saúde ou busca por empregos, mas por muitas situações”, relata João, que esperava recepcionar mais pessoas durante o feriado.