Vida sem pães

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 11/01/2025
Horário 04:30

Mudou-se para a cidadezinha em busca de conforto, calmaria e bem viver, o que tem sido comum. Entre prós e contras da escolha, consideraram apenas as vantagens da província para a vida, minimizando, os pormenores negativos naquilo que são, coisas poucas e facilmente superáveis. A vida urbana cansa e não deixa viver, agora não, 3 mil habitantes, pássaros cantando, o bucólico e o idílico na porta de casa. 
Acontece que o rapaz tinha por hábito o consumo de pães franceses, sempre frescos e com a melhor manteiga, diariamente, costume adquirido na vida da metrópole e todas as suas onipresentes padarias. O problema, nesse caso, é que o hábito havia se tornado, desde muito, uma ideia fixa, algo como uma necessidade irremediável. Coisa simples, diriam, afinal pães são acessíveis em todo lugar. 
Sim, poderia ser, menos na nossa cidadezinha. Com apenas uma padaria e um supermercado, conseguir pães franceses frescos naquele paraíso, revelou-se, com o tempo, verdadeiro e épico martírio. No primeiro dia a que se deu essa incumbência de buscar os pães, saiu de casa às 7h30 e caminhou cinco minutos até o supermercado. Chegando lá, na pequena padaria do estabelecimento, soube que o pão acabara. 
____ Mas ainda são 7h35? Questionou, a atendente então respondeu:
____ Vai na padaria da avenida que talvez você encontre. 
O rapaz saiu andando rápido e pensamento que deveria ser ironia aquele talvez você encontre, já que, dali do supermercado até a padaria seria somente mais quatro minutos andando e padarias sempre têm pão em horários desses. Chegando na padaria, a mesma pergunta, dessa vez, porém, com resposta curta e seca:
____ Acabou!
____ Como assim, acabou? Ainda não são nem 7h40, exclamou indignado.
____ Vem amanhã cedo que tem. Respondeu ironicamente o padeiro. 
Voltou contrariado para casa, com pães de forma, industriais, insalubres, solução provisória, pois voltaria amanhã e cedo. No outro dia, saiu de casa às 6h40 da manhã, convicto de que resolveria o pequeno problema e enfim, teria pães frescos, não consumidos desde a mudança. Chegando no mercado, viu na prateleira apenas dois pães franceses. “Ta reservado” foi a resposta. Não acreditando, questionou a atendente, que rispidamente perguntou:
____ Você não é daqui, é? 
O rapaz respondeu, educadamente, não queria prolongar a conversa e correr o risco de perder os pães da padaria. Lá, pequena fila para os pães. Ao chegar sua vez, escutou a palavra da vez, acabou o pão.  Decepcionado, ficou a pensar nas tantas padarias que existiam apenas no seu antigo bairro e nas diferentes qualidades de pães franceses produzidos por cada uma delas. Adorava a cidadezinha e sua doce vida, mesmo, sem seus pães franceses. Conformou-se a voltou para casa sem eles. Nos dias seguintes, novas tentativas frustradas e o hábito diário do consumo dos pães franceses foi ficando para trás. 
Um dia, porém, ele finalmente entendeu. Na padaria ou no supermercado, os pães são feitos sob encomenda, todos os dias, aos amigos e conhecidos que reservam o seu. Para viver na comunidade, é preciso ser parte dela, quando chegar a esse ponto, os seus pães estarão lá, esperando. 
 

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