Vender ou não vender? 

OPINIÃO - Wilson Kunze

Data 21/12/2024
Horário 05:15

Hoje, apresento uma versão reduzida do Caso 09 do meu livro “Casos Empresariais: a Tomada de Decisão na Prática”, que é tema do mais recente episódio do Casos Empresariais Podcast.  Este caso, baseado em fatos reais, traz inúmeras situações que estimulam debates e reflexões. No entanto, o ponto central que quero destacar é: qual seria a sua decisão diante dos fatos narrados? A história é um convite à análise cuidadosa e à ponderação, essenciais antes de tomar qualquer decisão.

Caso 9 - Plataforma de Serviços de Saúde
São 5h45 da manhã, e o despertador do celular começa a tocar “Rock And Roll All Nite”, da clássica banda Kiss. É o som que anuncia o início de mais um dia, mas não um dia qualquer. Este é um daqueles que pode mudar os rumos da minha vida pessoal e profissional para sempre. Deixo a música tocar enquanto já estou acordado, perdido em pensamentos sobre o que está por vir. O ritmo energético da música flui pelo meu corpo, preparando-me para enfrentar o desafio que me espera.
Levanto-me e tomo um banho frio, ouvindo “Time” de Pink Floyd, minha playlist favorita no Spotify. A letra de Roger Waters, que reflete sobre o tempo e nossa capacidade de tomar o controle de nosso destino, parece particularmente simbólica nesta manhã. Não há como escapar do peso das decisões que me aguardam. Assim como a música sugere, o tempo não espera por ninguém, e a partir de certo ponto, precisamos agir para moldar o futuro.
Depois de um café apressado e uma despedida silenciosa de minha esposa e filhas ainda adormecidas, parto para a empresa. No trajeto, Gabriel, o Pensador canta “Muito Orgulho, Meu Pai”, e o som me faz revisitar lembranças da infância, recheadas de felicidade e lições de vida. Recordo-me das histórias que meus pais contavam e do senso de responsabilidade que incutiram em mim. Nem tudo foi fácil, porém. As memórias da tragédia que abalou minha família vêm à tona: a perda de meu irmão mais velho e, pouco depois, minha mãe, eventos que desestruturaram nossa vida familiar e financeira.
Meu pai, um empresário bem-sucedido, perdeu o foco nos negócios durante a doença da minha mãe, e isso levou à ruína da empresa que ele havia construído com tanto esforço. As dificuldades financeiras forçaram-nos a recomeçar do zero, algo que me marcou profundamente e moldou minha resiliência. Aos 18 anos, consegui uma bolsa integral em uma faculdade de tecnologia, o que me permitiu construir minha trajetória acadêmica e, mais tarde, profissional.
Foi lá que reencontrei Ivan, meu amigo de infância, e juntos começamos a sonhar com um projeto inovador: uma plataforma que conectasse pacientes e profissionais de saúde por meio da tecnologia. Após anos de dedicação e investimento – inclusive a venda de um imóvel que herdei dos meus avós –, lançamos a plataforma no mercado. Inicialmente, enfrentamos dificuldades, mas a ideia começou a ganhar força. Hoje, 12 anos depois, a empresa cresceu exponencialmente e se tornou uma referência no setor, com soluções que incorporam tecnologias como áudio, vídeo e dispositivos de monitoramento remoto.
Chego à empresa às 7h25 e cumprimento Dona Salete, nossa zeladora, antes de subir para a sala. Sentado à mesa, a ansiedade toma conta. Eu e Ivan estamos diante de um dilema crucial: recebemos uma proposta de compra de um grande grupo de tecnologia. A oferta é atrativa e pode mudar nossas vidas, mas também significa abrir mão de algo que construímos com tanto esforço e paixão.
Os prós e contras pesam em minha mente. Por um lado, há a possibilidade de expandir nossa plataforma em uma escala que seria impossível sem um grande parceiro. Por outro, há o receio de perder a essência do que criamos, ou de nos tornarmos apenas mais uma peça na engrenagem de uma grande corporação.
Enquanto espero Ivan chegar para nossa reunião final, a frase de “Time” ecoa em minha mente: “The time is gone, the song is over, thought I’d something more to say”. Hoje, precisamos decidir sobre o futuro... nosso e da empresa. 
 

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