Vai na fé irmão

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 20/09/2024
Horário 08:00

Mataram Dilsinho "Zelador" com várias facadas na covardia. Bando de fdps. O clima na prisão de Ilha Grande se transformou num inferno. Seu Hélio, preso político, pediu calma. Ali se misturavam presos políticos com a bandidagem comum. Seu Hélio passou a mostrar que a união, a disciplina e o respeito eram o caminho para que todos se sentissem irmãos. 
O Estado nunca cuidou do mundo dos esquecidos. Pegaram o Sabugão, o covarde que matou o Dilsinho "Zelador". O Turco que era assaltante de banco deu a primeira facada dizendo: Tu és um peido de rolinha. Vai morrer fdp. Dê um abs no diabo por nós. Seu Hélio entendeu a raiva e deixou ela respirar livremente, enquanto a maioria vingava a morte do Zelador.
Então ele disse: Paz, justiça e liberdade, o lema que iria ser repetido como se fosse um mantra. Nossa realidade é áspera. Vivemos afundados num poço de amargura. Nossas famílias sofrem por nós. Os presos comuns estavam com os olhos marejados de emoção ouvindo seu Hélio. Aderiram essa filosofia. Deu a eles um sentido maior para suas insignificantes vidas. Controlem suas mentes e sejamos unidos. O sistema quer que matemos uns aos outros. Vamos nos organizar, temos todo o tempo do mundo. Temos que criar nossa própria regra de conduta. Nossa luta é para termos dignidade, direitos e respeito. Nossa luta vai ser essa. 
Aprenderam muito com seu Hélio. Achavam estranhas as letras das músicas que seu Hélio cantava. Mas fazia eles pensarem. Vamos na fé irmãos. Temos que exigir melhores condições de vida para todos, disse Juvêncio, um pobre negro, conhecido como Catatau. Vivemos num caldeirão do inferno, disse Anacleto o "Vesgo". Mestre Loro, que era respeitado por ser um ladrão de banco, nascido no Morro do Macaco, pegou uma caixa de fósforo e começou a batucar um samba de Geraldo Babão do Salgueiro. Os presos ficaram em silêncio ouvindo o samba enquanto o sol desaparecia no horizonte na prisão de Ilha Grande. A Falange Vermelha estava nascendo.
"Morro
Tu és a minha inspiração
Para eu compor a melodia
E dizer tudo que sinto 
Em meu coração
Juro
Que sou capaz de enlouquecer
Se um dia o Salgueiro desaparecer..."
 

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