Cremes dentais são os produtos mais usados para aplicação diária de flúor sobre os dentes, sendo muito aceitos principalmente por fatores culturais, incluindo a limpeza dentária e promoção de hálito agradável.
No entanto, uma olhada rápida em corredores de supermercados e farmácias dedicados à venda desses produtos dá uma ideia de como pode ser difícil a escolha do creme dental ideal para cada tipo de público. A dificuldade aumenta pela grande variedade de embalagens, cores e sabores, além dos rótulos com informações essenciais nem sempre fáceis de identificar. O preço do produto é outro fator de confusão, visto que podem variar em até 40 vezes, destaca o Prof. Douglas Roberto Monteiro, do curso de Odontologia da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).
A Unoeste traz dicas importantes para facilitar a escolha do produto. Há cremes dentais com concentração de flúor variando entre 0 (zero) a 5.000 PPM (partes por milhão), informação disponível tanto no verso da caixa do produto como no verso do rótulo, ressalta Matheus Canholi Silva, aluno de graduação em Odontologia da Unoeste. “Para adultos em geral, a dica é bem simples: as concentrações mais indicadas estão na faixa de 1.000 a 1.500 ppm de flúor”.
Produtos com concentrações superiores são reservados para casos específicos em adultos, os quais incluem situações de elevado risco à cárie, podendo ser transitórias ou permanentes. Uso de aparelho ortodôntico fixo, limitações neuromotoras, fluxo salivar reduzido (como, por exemplo, após radioterapia na região de cabeça e pescoço) e períodos pós-procedimentos cirúrgicos bucais são alguns exemplos dessas situações. O Prof. Juliano Pelim Pessan, docente da Faculdade de Odontologia de Araçatuba, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica que esses produtos devem ser utilizados apenas por indicação do cirurgião-dentista, após avaliação detalhada dos riscos e benefícios para cada caso.
Quanto a dentifrícios com embalagens, cores e sabores direcionados ao público infantil, estes podem conter produtos variando entre 0 e 1.450 ppm de flúor, informação que nem sempre está escrita de maneira clara nos rótulos. Para simplificar, para crianças abaixo de 7 anos de idade, os dentifrícios devem ser utilizados desde o surgimento do primeiro dente de leite e precisam conter entre 1.000 e 1.100 ppm de flúor para conferir máxima proteção. O grande problema está justamente para as crianças de menor idade, visto que engolem a maior parte do creme dental durante a escovação, enfatiza o Prof. Monteiro. “Esta é uma situação indesejável, visto que aumenta o risco de manchamento nos dentes permanentes que estão em formação nos primeiros anos de vida [condição denominada fluorose dental]”.
Nesse sentido, uma orientação importante é determinar a quantidade adequada de pasta colocada sobre a escova. Esta deve iniciar como um pequeno “borrão” na escova, ou o tamanho de um grão de arroz cru, tão logo os primeiros dentes aparecem na boca do bebê. A quantidade de pasta vai aumentando gradualmente, conforme mais dentes surgem na cavidade bucal, chegando ao tamanho de uma ervilha aos 36 meses de vida. Essa quantidade deve ser mantida até os 7 anos de idade, enfatiza o Prof. Pessan. A escovação deve ser sempre supervisionada por um adulto, a fim de controlar a quantidade de pasta utilizada e estimular o reflexo de expectoração da espuma formada durante a escovação.
Apesar do crescente número de postagens de fake news em redes sociais indicando cremes dentais sem flúor, estes não devem ser utilizados sob hipótese alguma, visto que não conferem nenhuma proteção contra a cárie. Já para produtos entre 500 e 550 ppm de flúor, estes podem ser indicados pelo dentista em situações muito específicas, para crianças abaixo de 3 anos de idade, após avaliação detalhada dos fatores de risco à cárie. Após essa idade (de maior risco à fluorose), produtos contendo 1.000-1.100 ppm de flúor devem ser utilizados.
(Matéria integrante de projeto de extensão universitária (PROEXT-REITORIA; 18854/2022), sob coordenação do Prof. Dr. Douglas Roberto Monteiro [Unoeste])
