Uma volta ao mundo ou ao quarteirão?

OPINIÃO - Roberto Bertoncini

Data 21/06/2024
Horário 05:00

Estamos de novo diante aos sempre constantes enigmas e provocações que só a arte nos traz: onde é a fonte do talento, da criatividade e do saber fazer? Nos grandes museus do mundo, sonhados a partir de pequenas ilustrações em livros ou em algum smartphone. E como somar a nós próprios todo o conhecimento do mundo que poderia estar resumindo numa varanda da casa da vó, numa roseira da casa da tia, numa criança? Afinal é necessário este trabalho imenso para que a nossa expressão flua, a arte nos espera sorrateira do nosso lado ou em lugares especiais e sonhados pelo mundo? Como responder a isso?
Vamos ver dois casos pra nos guiar, aquele de Giorgio Morandi que pouco saiu da sua aldeia, pintava potes e garrafas da cozinha, mas nelas resumia o mundo com uma poética preciosa e única. Também temos aqui em nossa terra, uma outra abordagem. Juliana Scorza, que de cada grande giro pelo mundo conta e reconta histórias das mais diversas pessoas e lugares nos apresentando um vasto mundo com profusão de cores e personalidades.
Nesta vida acadêmica temos sempre visitas técnicas, tanta satisfação aparece nos estudantes ao se depararem com o material de estudo solidificado em sua frente. Assim o conhecimento toma o peso do arrebatamento necessário para que a vida e arte fluam.
Aqui, começamos a entender que a volta pelo quarteirão e um giro pelo mundo poderão ter o mesmo sentido, mas onde estará este sentido?
Nas lembranças da casa da vó, com mesa posta e treliças nas janelas ou na magnificência das grandes esculturas que encontramos nos museus British ou no Louvre? 
Vou simplificar mesmo... com um grande e insofismável lugar comum. O significado sempre estará no olho de quem vê e procura neste olhar saciar a sua sede do entendimento e da necessidade da arte.
Um passeio pelo Museu Metropolitan de Nova Iorque, entediado e querendo compras na Macy,s, não fará o mesmo efeito de uma volta no quarteirão redescobrimento os brilhos e cores de uma cidade ideal e inesquecível.  E o contrário também acontece, o desprezo pelo o que está do nosso lado e a necessidade de viver num mundo que só aparecia em livros e filmes. 
Para Tolstoi, contar sobre sua aldeia te tornaria universal, mas vou um pouco além com a devida vênia: o que te torna universal é saber que o mundo faz parte de você e você faz parte dele, o que você não conhece é apenas o próximo passo que te tornará mais humano. 
Conhecer o mundo ou o quarteirão faz parte da viagem mais difícil e delicada que pode não te tornar um artista, mas seguramente te tornará um ser digno da vida: a tomada de consciência.
Consciência: o saber junto, o saber com o saber com o outro, e o saber diante de si mesmo.
Essas são as questões do comprometimento, falaremos depois sobre o outro lado também: o repertório e a referência.  
Boa viagem!

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