A imigração de venezuelanos para a região de Presidente Prudente é algo constantemente relatado por este diário. Muitos recorrem ao fluxo migratório para o país vizinho a fim de escapar da crise socioeconômica e política que afeta a vida da população venezuelana, e encontram na capital do oeste paulista um recomeço. Alguns, inclusive, chegam aqui só com a roupa do corpo e poucos pertences, tendo que recomeçar a vida do zero. Mas, nesta terra centenária há também pessoas e entidades que trabalham voluntariamente em prol dos venezuelanos, pessoas em situação de rua, dependentes químicos, entre outros que precisam de um amparo social. A Igreja Adventista da Promessa é uma dessas entidades que presta apoio aos venezuelanos que estão interiorizados na cidade.
No dia 14 de novembro, membros do Projeto Prato Cheio, da Igreja Adventista da Promessa, conheceram a história da venezuelana Maria José dos Santos Barrios, de 35 anos, que saiu da Venezuela no dia 30 de julho de 2017 em busca de melhores condições para ela e seus três filhos. A situação do país situado na costa norte da América do Sul, como fora relatado na edição deste domingo, não era a mais favorável para a vida da jovem mãe. “Saímos de lá porque passávamos por muitas necessidades, a ponto de não termos nada para comer. Eu não conseguia um trabalho e tive que ir vendendo pouco a pouco as minhas coisas de casa para poder dar de comer aos meus filhos”, descreveu emocionada à reportagem.
O caminho em terras brasileiras iniciou em Corumbá (MS), cidade que fica na divisa Brasil/Bolívia, no dia 1º de outubro deste ano, mas, logo em seguida seguiu por Três Lagoas (cidade que fica na divisa dos Estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo), até desembarcar com a família em Presidente Prudente no dia 28 do mesmo mês. No dia 11 de dezembro, portanto, a reportagem conheceu a história de Maria ainda na Casa de Acolhimento instalada no Estádio Municipal Caetano Peretti.
No encontro de Maria com os voluntários lá no mês de novembro, movidos pela história e condições da jovem mãe, o grupo iniciou uma busca por recursos que pudessem ajudar a família a se reerguer no município de Prudente, como relata o coordenador do Projeto Prato Cheio, da Igreja Adventista da Promessa, Josué Cardoso dos Santos. “Encontramos um hotel que fazia R$ 30 a diária, mas só tinha duas camas de solteiro no quarto. Logo, a situação ficava complicada para ela e a família”, descreve. “Então, um advogado [da 29ª Subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em Presidente Prudente] cedeu gratuitamente um apartamento dele por seis meses e nós assumimos o condomínio. A igreja e outros advogados da OAB também contribuíram com doações para que a família não ficasse no apartamento sem nada. Conseguimos cama, colchões, geladeira, fogão, utensílios domésticos, alimentação, entre outras coisas”, acrescenta.
Na última quinta-feira, 17 de dezembro, Maria Barrios se mudou para o novo endereço ao lado da família. “Eles tiveram uma dedicação ao arrumar a casa para nos acomodarmos, e isso foi muito bonito. Foi muito emocionante para os meus filhos e para mim”, contou a venezuelana. Mesmo instalados, o projeto continua buscando ajuda junto a empresários dos municípios para que membros da família consigam um emprego.
Ajudar o próximo é uma missão digna de respeito, principalmente, por compartilhar o bem ou mesmo uma palavra de conforto. De acordo com Josué Cardoso dos Santos, no final de março, um grupo da igreja se reuniu e começou com recursos próprios a fazer marmitas, a fim de ajudar pessoas em situação de rua, dependentes químicos e venezuelanos que buscam por um recomeço na capital do oeste paulista. Posteriormente, também passaram a entregar copos de água. A entrega, que é feita todos os sábados, soma até esta última data a entrega de 2.105 marmitas e 2 mil copos/garrafas de água.
“Mais de 2 mil pessoas já foram beneficiadas com alimentação do Projeto Prato Cheio e entorno de 80% delas não se encontram mais no mesmo lugar, seja aqueles em situação de rua, dependentes químicos e venezuelanos. Costumo dizer que alguma coisa na vida dessas pessoas foi transformada e graças a Deus já não estão mais nas ruas. Alguns, inclusive, já arrumaram emprego e alugaram casa. É gratificante ver que um apoio, uma palavra e uma conversa pode mudar a vida de uma pessoa”, explica Josué.
O projeto atualmente é mantido com recursos próprios de cerca de 20 voluntários, além de contar com apoio de empresários que contribuem direta e indiretamente nas diversas ações realizadas.
SAIBA MAIS
Conforme noticiou este diário, o Atlas Temático das Migrações Venezuelanas, produzido pelo Núcleo de Estudos da População da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), revela que, de 5 de abril de 2018 a 10 de julho de 2020, impulsionado pelo programa federal Operação Acolhida, o número de imigrantes da Venezuela interiorizados em Presidente Prudente foi 73. No mesmo período compreendido, municípios do Estado de São Paulo receberam 6.563 estrangeiros do país situado na costa norte da América do Sul, com destaque para o ano de 2019, período em que ocorreu um maior fluxo imigratório, 3.951 pessoas.
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