Não é incomum ouvirmos pessoas de gerações anteriores reclamando dos jovens da geração atual. A conversa é sempre mais ou menos a mesma: “Ah, os jovens de hoje em dia não querem nada com nada”, ou “Na minha época é que havia respeito, hoje o que temos é somente uma depravação”. Bom, indo nessa toada, já sou vivido o suficiente (para o leitor que não me conhece, estou na casa dos 38 anos) e tenho memória para lembrar que essa história é bastante antiga.
Quando eu era mais jovem, cansei de ouvir que minha geração não prestava, que a música da minha época não era boa (estou falando mais ou menos do final dos anos 90 e início dos anos 2000), que o futebol não era mais o mesmo. Me lembro como a seleção de futebol masculina foi criticada em 2002. Hoje ela é ovacionada. “Os campeões do penta”. A seleção de 84. Há sempre esse culto ao passado. Já na faculdade, ouvia os professores dizendo que quem estudou para valer foram eles e que agora a gente queria tudo mastigado, que a gente não se dedicava o suficiente. Bom, isso eu ouvia na minha juventude. Para minha surpresa, vejo o pessoal da minha idade, que passou por todas essas críticas, fazendo o mesmo com os jovens atuais.
É certo que há mudanças comportamentais de uma geração para outra. Ou..., será que é tão certo assim? Assunto polêmico. Somos mais de 8,0 bilhões de pessoas no planeta Terra e querer enquadrar tanta gente assim em padrões de comportamento geracional não me parece algo muito confiável tamanha as diferenças que a nossa espécie comporta. Não há esquema pronto que dê conta da diversidade do ser humano. Mas volto para não perder o foco.
Podemos falar com certa razoabilidade que em algum nível há diferenças entre gerações. Até aí tudo bem, é saudável que essas diferenças aconteçam. O problema começa quando uma geração de pessoas mais velhas procura invalidar toda cultura produzida pela geração que está chegando, subjugando seus gostos e comportamentos. Cultura é tudo aquilo produzido por um povo em um determinado tempo histórico. Qual a métrica para dizer que a cultura de um determinado tempo é melhor que a outra? Não é incomum que a métrica seja simplesmente aquela que atende aos interesses da classe dominante.
Trazendo a discussão para o cenário brasileiro, de acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil é o segundo país com a maior proporção de jovens, de idade entre 18 e 24 anos, que não conseguem nem emprego e nem continuar os estudos — os chamados "nem-nem" —, ficando atrás apenas da África do Sul. Nessa faixa etária, 36% da população de jovens brasileiros está sem ocupação. O termo “nem-nem” ao meu ver é usado muitas vezes de forma extremamente pejorativa em relação à nossa juventude. Não há mal nenhum em constatar que temos uma massa de jovens que não trabalha e nem estuda. O problema é que muitas vezes esse dado é utilizado para culpabilizar a própria juventude, como se fosse desocupada e não quisesse nada com nada. Como se não estudar e nem trabalhar fossem escolhas dos nossos jovens.
Já vi o termo “nem-nem” ser abordado dessa forma dezenas de vezes. O que precisamos entender é que muitos jovens não trabalham por falta de oportunidades de bons empregos. De emprego digno, que garanta acesso minimamente à uma moradia, alimentação e lazer. Muitos dos jovens não estudam por falta de condições materiais para tal ou porque as perspectivas são muito ruins. Não é incomum vermos jovens graduados trabalhando em subempregos.
Há sem dúvida jovens que nem trabalham e nem estudam por pura acomodação. Que a crítica que se julgue cabível seja feita então a eles especificamente. Mas em um país profundamente desigual como o Brasil, basta um olhar mais atencioso e empático para perceber que nossa juventude está estagnada por falta de oportunidades e de perspectivas de um futuro melhor.