Tremo de medo de uma nova guerra civil entre os espanhóis. A luta entre os que querem a independência total da Catalunha e a necessidade da Espanha manter-se unida. O povo espanhol já sofreu demais com a sua Guerra Civil (1936/1939). Guerra cruenta entre irmãos. Os republicanos ajudados pelos comunistas e os falangistas de Primo de Rivera, monarquistas comandados por Franco, um oficial que ao final foi o vitorioso. Vitória(?) que significou derrota e morte para grande parte do belo país. Franco tinha ajuda dos nazistas de Hitler e que usaram o território e o povo espanhol para experimentos de artefatos militares. Quando conheci a Espanha e ali estive pela primeira vez em 1965 ainda havia muita lembrança do período terrível que o país vivera, tensão, medo, vigilância, ausência de liberdade. Franco abriu as portas da Espanha aos nazistas e o bombardeio de Guernica por aviões alemães foi uma das ações mais cruentas na história da humanidade. O quadro de Picasso é uma das referências mundiais a uma das maiores atrocidades que o mundo assistiu só comparável ao holocausto imposto aos judeus ou a guerra étnica dos turcos contra os armênios ou ainda as sublevações que dividiram a antiga Iugoslávia..Milhares de espanhóis de ambos os lados morreram, entre eles o grande poeta Garcia Lorca, que não tinha nenhuma participação na guerra. Somente após a morte de Franco e a manutenção de um regime parlamentarista com um rei à inglesa a Espanha passou a crescer e se transformou no que é hoje. Mas, não foi fácil. Quando visitei o monumento “El Valle de Los Caídos” senti uma das maiores emoções de minha vida. Construído ao pé da Serra de Guadarrama, próximo ao famoso mosteiro El Escorial, fica a 70 quilômetros ao noroeste de Madrid. Construído por subscrição popular (1940/58) consta que Franco pretendia com o mesmo marcar a vitória de seu movimento. Mas, com o tempo passou a ser um mausoléu dos dois lados e serviu de incentivo à pacificação. Há no centro da monumental obra a maior cruz do mundo com 150 metros de altura por 24 na horizontal. Não se sabe exatamente quantos espanhóis foram ali sepultados. Lá está o túmulo de Franco e Primo de Rivera, mas também, em números extraoficiais, um total de 33 mil 872 combatentes de ambos os lados. Muitos sem identificação. É um dos monumentos entre os que conheço mais me comoveram. Fui às lágrimas ao visitá-lo. Creio sinceramente que se os quase beligerantes de hoje programassem uma visita coletiva dos dois grupos, Espanha e Catalunha, ao “Valle de Los Caídos”, a paz e o simbolismo do lugar apaziguaria os espíritos prontos para a luta. A Espanha é uma só e assim gostaria que permanecesse. O mundo precisa de paz.