Eu e minha irmã Mariza, que tinha chegado dos Estados Unidos, fomos convidados pelo querido amigo Demetrio Zacharias e pela minha eterna madrinha Candinha, a almoçar na Steakhouse El Toro, uma churrascaria muito conceituada localizada na Rua Mario Ferraz, 351, em São Paulo, no bairro Jardim Paulistano. Demetrio sabe que gosto muito de pão e me presenteou com um pão artesanal orgânico. Um local charmoso e de excelente qualidade.
Depois de almoçarmos, minha irmã foi com o Demetrio para o flat no Hotel Radisson no Itaim, onde estava hospedada. Resolvi andar pela charmosa Avenida Faria Lima carregando meu pão artesanal orgânico. A caminhada era longa até chegar ao metrô Faria Lima. No caminho, ciclistas e pessoas com patins passavam em velocidade curtindo a liberdade numa tarde ensolarada na grande Metrópoles. E lá vou eu com meu pão artesanal orgânico.
Chego ao Shopping Iguatemi, o paraíso do luxo. Fico hesitante se dou uma volta no shopping ou não. Ligo para minha filha Flávia e resolvo passear nesse paraíso do luxo. Pensei em comprar a famosa e deliciosa bomba de chocolate da Ofner, mas a diabete matou sem piedade meu profano desejo. Passo pela loja Gucci e me deu vontade de comprar uma bolsa para a Mulher Maravilha. O preço me fez ficar somente na vontade.
Fiquei encantado com a loja de sapatos femininos da marca Christian Louboutin. Um sapato maravilhoso de Scarpin custa a bagatela de R$ 19,5 mil. A Mulher Maravilha vai continuar usando as legítimas Havaianas.
E assim fui passeando com meu pão artesanal orgânico extremamente aterrorizado com os preços. Na Louis Vuitton, uma Mochila Campus confeccionada em couro Damier Infini Astral Silver e vem com a emblemática padronagem xadrez da Maison em alto-relevo e um zíper prateado, num preço módico de R$ 18 mil.
Quem disse que a classe operária vai chegar ao paraíso é um tremendo mentiroso. Passei por um processo de enlouquecimento passando a questionar meu lugar nesse mundo e por pouco não perco a minha identidade. Que loucura esse paraíso do luxo. Passei a ser "aquele que somente vê". Parei em frente à marca de luxo masculina mais cobiçada pelos homens, Ermenegildo Zegna. Fiquei parado quase uma hora ensaiando a minha entrada. Parecia que iria enfrentar o dragão da famosa série “Game of Thrones”. Entrei pisando duro com meu pão artesanal orgânico como se fosse o machado "Mjölnir" do super herói Thor.
Fui atendido pelo funcionário Gustavo, que trajava um terno Zegna. Era mais bonito que o Brad Pitt. Primeiro estranhou o meu pão artesanal orgânico, deve ter pensado que iria pedir um pingado. Notei no seu olhar o raio x em minhas roupas, lógico que percebeu que estava diante de um "pé de rato". Expliquei a ele que queria refazer meu guarda roupa e comecei e mentir grande. Ele educadamente começou a me mostrar as opções: Calças de R$ 8 mil, ternos que vão de R$ 30 a R$ 60 mil, tênis de flanela de lã por R$ 7 mil, camiseta estampada em algodão por apenas R$ 2.300, "Suéter Oasi Jumper em Cashmere" por apenas R$ 8.550 e fui sonhando um sonho impossível.
A tecnologia, o bom gosto, a criatividade, o corte, tecidos e a modelagem fazem da marca Zegna, o status merecido que conquistou no mundo da moda masculina. Gastar R$ 200 mil seria o mínimo para ter o mínimo de uma coleção dessa lendária marca. Me mantive como um frio guerreiro de chão de fábrica, não fiz cara de espanto e tive que controlar os 20 músculos faciais exprimindo um humor natural de quem está acostumado com essa realidade de luxo. Me despedi com meu pão artesanal orgânico com uma dor no pescoço insuportável por causa do esforço de controlar os 20 músculos faciais e cheguei à triste conclusão que realmente para se chegar ao paraíso do luxo só se na outra encarnação eu for da Família Rothschild. Vejam vocês.