Um objeto

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 12/04/2025
Horário 04:30

Eu nasci nos Estados Unidos, no Vale do Silício, na Califórnia. De lá saíram as 207 patentes diferentes que estiveram por trás da minha concepção. Mais tarde, passei a ser fabricado na China e de lá que venho. Meu bisavô sempre dizia, com certo orgulho, que éramos a maior e mais revolucionária invenção do século XXI. Fomos concebidos, minha família e eu, antes de 2007, mas viemos ao mundo nesse ano. 
Hoje, com 18 anos, me sinto cada vez mais importante, diria até que somos, todos nós da nossa espécie, seres onipresentes, pois estamos, em todos os lugares, o tempo todo. Temos múltiplas funções e nos ocupamos, cada vez mais, com atividades complexas e cotidianas dos nossos usuários. Proporcionamos acesso à informação e ao conhecimento de forma instantânea, levamos entretenimento e diversão por meio dos serviços que podem ser acessados através de nossos recursos. 
Podemos, ainda, tirar fotos e produzir vídeos com enorme qualidade de imagem. Temos, inclusive, sido protagonistas nesse tipo de atividade, substituindo ou suplantando as máquinas fotográficas e filmadoras do passado, até mesmo, na produção de filmes e documentários. Claro, estamos fotografando e filmando de tudo, de crimes a acidentes de avião, de gatinhos tomando leite a grandes eventos políticos. Afinal, estamos em todos os lugares o tempo todo e com nossa capacidade técnica, não poderia ser diferente. 
Às vezes, é preciso dizer, me sinto em crise de identidade sobre o que sou e sobre o que devo fazer com minha existência. Tem gente dizendo que já somos parte de nossos usuários, algo como um complemento capaz de potencializar as capacidades do ser humano. Potencializar a capacidade de se comunicar, de acessar informação e produzir conhecimento e proporcionar entretenimento podem sim, serem atividades nobres. E também, é preciso concordar, facilitamos a vida e o cotidiano de todos, de modo que, me sinto útil quando penso nisso. 
Entretanto, temos sido proibidos por aí, nas escolas, nas atividades sociais, em alguns ambientes de trabalho. Alguns humanos estão, inclusive, tão dependentes que não apenas não conseguem se afastar de nós, como precisam procurar tratamento médico e psiquiátrico para essa dependência. Talvez não fosse assim no início, mas hoje, pode ser que façamos tanto mal quanto bem aos humanos. Nem sempre penso nisso, mas, é uma reflexão, talvez, necessária. 
O que sou? Apenas um aglomerado tecnicamente quase perfeito de vidro, metais nobres e raros? Componentes eletrônicos e energia proporcionada por uma bateria de íons de lítio com duração limitada? Tenho um software, atualizado de tempos em tempos, que poderia ser, talvez, algo como nossa consciência. Evidentemente, nosso chip de processamento e nossa memória RAM simulam o cérebro humano, e nosso HD, a memória. Alguns de nós, modelos mais avançados, já trazem recursos de inteligência artificial e posso dizer que pensamos por meio desses recursos. No meu caso, essa é uma questão resolvida. O problema é para você, que não se desgruda de mim. O que sou para você? Sua vida? 
 

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