Na pequena cidade de Muzambinho, interior de Minas Gerais, um menino de família humilde declama os 108 versos do icônico poema, O Corvo, do poeta americano, Edgard Allan Poe, no cinema de sua cidade. Um menino de olhos castanhos carregava no seu coração o pensamento do poeta português, Fernando Pessoa: "O homem é do tamanho dos seus sonhos", e ele sonhava grande.
Não existia silêncio na família numerosa desse menino. Havia sempre comidas, gargalhadas e desavenças comuns entre os irmãos. Seu pai Orozimbo e sua mãe Gabriela davam o tom do respeito e do amor. Esse menino cresceu num ambiente familiar onde a felicidade morava, pois o amor estava sempre presente. O caráter desse menino era seu castelo. Seu grande sonho era ser médico e se formar na conceituada Escola Paulista de Medicina em São Paulo. Percebeu desde cedo que os sonhos exigem paciência e muita vontade e garra.
Esse menino tinha muito medo do ócio, não gostava da monotonia, da paz e do sossego. E assim ele foi para São Paulo fazer o cursinho para realizar seu grande sonho. Morava com sua Tia Lulu, era a década em que ia nascer o Rei do Futebol. Seus esforços foram recompensados quando percorreu seu dedo na lista dos aprovados e seu nome estava lá nas 60 vagas entre 120 candidatos e 80 vagas. Passou no concurso público de escriturário para trabalhar na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Eram 1.700 candidatos para 90 vagas e agora conseguiu uma estabilidade financeira própria para custear a Escola Paulista de Medicina.
Estudava de dia e trabalhava à noite. Em 16 de dezembro de 1947, o menino humilde de Muzambinho se formou médico recebendo o primeiro Prêmio Dr. Plínio Caiado de Castro como o melhor aluno da sexta turma de médicos. Queria abraçar seus pais, que já moravam na cidade de Presidente Prudente, seu grande sonho foi realizado.
Antes de ele se formar conheceu Marina num casamento de um primo e se encantou com os olhos verdes dessa carioca da gema. Muitas cartas foram trocadas por ele e por ela, agora queria juntar dinheiro para se casar com Marina. Já em Presidente Prudente, trabalhava no Hospital Nossa Senhora das Graças do seu amigo, Dr. Odilo Antunes de Siqueira, adotando o nome profissional de Dr. Gabriel Costa Neto, pois seu tio, também médico, que incentivou a família a vir a Prudente, se chamava Dr. Costa Neto.
Devidamente instalado sentiu que a hora de casar com seu grande amor tinha chegado. Em 15 de agosto de 1950, na Gávea, no Rio de Janeiro, finalmente o menino de Muzambinho se casa com Marina. Formam uma grande família e de suas mãos divinas dá vida a milhares de bebês. Eu com meus irmãos tivemos a honra e a felicidade de vir ao mundo pelas mãos do Dr. Gabriel Costa Neto. Além de um excelente médico, se tornou um pecuarista muito respeitado, contribuindo para a evolução da pecuária da nossa região.
Tudo que ele fazia era bem feito. O choro de um bebê recém-nascido era para ele como uma Sinfonia de Ludwig van Beethoven e o sorriso de uma mãe ao ouvir o primeiro som de seu filho recém-nascido era para ele um ato de Deus.
Dr. Gabriel Costa Neto viveu a medicina como um Samurai vivia o Bushido, o caminho do guerreiro. Antes de ir para a eternidade, Dr. Gabriel Costa Neto disse para um dos seus filhos: "Cuide de sua mãe, dê a ela tudo que ela precisa". Nesse momento creio que ele está com seu grande amor, junto com seus pais saboreando um gostoso doce de abóbora que tão bem sua mãe fazia, onde o silêncio nunca teve espaço na sua vida. Obrigado por tudo Dr. Gabriel Costa Neto.