Eram 12h51 quando o telefone tocou e embora eu já estivesse ciente do desfecho e digerindo a situação que se avizinhava a dor foi forte. Mas a morte ninguém espera, ninguém aceita, por pior que seja a situação.
Revivi a amizade daquele que tinha como Amigo, assim, mesmo, com “A” maiúsculo.
Acima da amizade eu tinha ainda admiração, porque muito mais que amigo, coisa particular, ele era um grande homem.
E nesta época de superexposição pelas mídias sociais, o meu Amigo era um cidadão anônimo virtual. Dois ou três grupos fechados e sérios. Nada mais. Não tinha selfies, não tinha ostentação, não tinha mentira virtual, não recebia likes e não tinha “seguidores”.
Por detrás da toga ou do balandrau foi um servidor da sociedade, coisa que poucos conhecem e sabem, porque não tinha – e ele não queria – divulgação.
Distribuiu muita Justiça, fez muita ação social aos menos favorecidos e fará muita falta, para muita gente.
Seus últimos atos se perpetuarão no “SOS Criança”, entidade a qual vinha se dedicando com afinco há muito tempo. Crianças usufruirão das benesses de seu servir. Crianças que muito precisam.
Naturalmente silencioso, como é peculiar aos orientais, ele se foi sem reclamar da vida, de problemas, de nada. Lutou arduamente, mas perdeu para a doença.
Em sua natural simplicidade, no nosso último encontro, duas horas antes do telefonema, tirou o respirador, falou meu nome e disse: “Hoje não estou bem, amigo. Desculpa”.
Eu me questionei e ainda me questiono: como em uma situação crítica de vida e morte ainda se pede desculpas pelo que não fez? Desculpar de que, meu Amigo? Era sua generosidade peculiar.
Vivemos intensamente a amizade, em viagens de família, nos domingos de bate-papos. Pena que se cessaram muito antes do que deviam.
E por que do grande homem? Pelo afinco com que se dedicou à sua profissão, muita vez abdicando de horas com a família ou amigos para trabalhar e entregar Justiça; pelo afinco de seus esforços em ajudar o próximo silenciosamente; pelo afinco com que socorreu amigos em situações peculiares; pelo afinco que dedicou à família.
Não foi um grande homem por likes, seguidores, selfies ou fotos na mídia digital para mostrar o que era e o que fazia. Foi um grande homem porque se entregou por inteiro, sempre, a tudo que abraçava.
A doença acabou com o afinco, mas nunca apagará a sua imagem e seus feitos.
Eu que peço desculpas, amigo, por não conseguir traduzir em palavras tudo que você foi e tudo que você representa para muitas pessoas. O momento me atormenta com a ideia de sua perda. Nem sei o que mais dizer, além daquilo que meu coração nessa hora me permite.
Descanse em paz Emerson Ueoka, você foi um exemplo de grande homem, exemplo a ser seguido e sua memória será eterna, meu grande Amigo.