Tupã aponta rombo de R$ 50 milhões na Prefeitura e diz que situação é “caótica”

Prefeito comenta sobre situação financeira do município, contrato com Ciop, desativação da Cidade da Criança, possível privatização do Prudentão e projetos para novo mandato

PRUDENTE - MELLINA DOMINATO

Data 05/01/2025
Horário 04:30
Foto: Mariana Padovan/Secom
Tupã retorna à Prefeitura de Prudente oito anos após último mandato
Tupã retorna à Prefeitura de Prudente oito anos após último mandato

Eleito prefeito de Presidente Prudente com 56.800 votos, 52,81% do total, Milton Carlos de Mello, Tupã (Republicanos), acompanhado do vice José Osanam Albuquerque Junior, do PL (Partido Liberal), iniciou oficialmente seu trabalho à frente da administração municipal nesta sexta-feira, com visitas à UPA (Unidade de Pronto Atendimento), Parque de Obras, vias públicas, entre outras localidades. 

Nesta entrevista exclusiva ao O Imparcial, o novo prefeito, que já comandou o Executivo da capital do oeste paulista de 2009 a 2012 e de 2013 a 2016, e foi gerente regional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) de 2017 a 2022, revela a situação em que recebe a cidade e aponta que já identificou situações que, para ele, deverão ser contornadas, anunciando ainda que trabalhará sempre ao lado do Legislativo, cujos representantes já recebeu no Paço Municipal também na manhã desta sexta-feira. 

Engenheiro, casado e que nas eleições municipais contou com o apoio da maior coligação da capital do oeste paulista, formada por oito siglas, Tupã pede a compreensão e colaboração da população prudentina para uma “somatória de esforços”.

O Imparcial - O senhor retorna à Prefeitura de Presidente Prudente oito anos após seu último mandato. Qual deverá ser seu plano de trabalho e que projetos executados pelo senhor em suas gestões anteriores devem ser retomados?
Tupã – Primeiro projeto que nós vamos retomar e já retomamos na manhã de hoje (sexta-feira), que é um projeto que seria de todos os prefeitos, é a questão da zeladoria. A nossa cidade sempre foi muito elogiada pela sua beleza, pela sua limpeza, e nós queremos que a cidade volte a ser dessa maneira, volte a ser referência em limpeza pública. E isso nós vamos fazer. Vamos voltar com o projeto Cidadescola, que é um projeto onde nós atendemos com uma educação diferenciada, período integral para as nossas crianças. Isso demanda um pouco de tempo, mas nós já vamos retomar agora. Uma saúde de qualidade, informatizada, bem como a informatização da Prefeitura de Prudente. Condições para os nossos produtores rurais produzir, geração de emprego... Então, são vários projetos que nós retomaremos e não acabaremos com os projetos que forem interessantes, que foram bons para a cidade de Presidente Prudente.

- No final da gestão passada, a Prefeitura enfrentou um impasse com o Ciop (Consórcio Intermunicipal do Oeste Paulista) referente a uma dívida de R$ 10,6 milhões, que será quitada pela administração em 12 parcelas mensais, com vencimento a partir de 15 de janeiro de 2025. A notícia pegou o senhor de surpresa durante o período de transição? Está satisfeito com a solução acertada? E quais são seus planos a curto e longo prazo em relação ao contrato com o Ciop?
Olha, para mim foi uma surpresa, até porque eu sabia, todos nós da cidade sabíamos, que havia sido assinado um parcelamento anterior. E esse parcelamento, infelizmente, não foi cumprido. Eu acho que isso é responsabilidade tanto do prefeito quanto de quem estava nas pastas, para que isso fosse cumprido. Quer dizer, “embarrigaram” com uma nova administração. Então, eu, particularmente, como prefeito da cidade, eu jamais iria fazer isso. Deixar para uma outra administração pagar. “Irresponsabilidade”, é como eu chamo isso. Agora, o acordo foi firmado. Nós temos que procurar cumpri-lo. E é isso que nós vamos fazer. Até porque teve o aval do Ministério Público Estadual. Nós vamos conversar também com MPE, vamos conversar com o Ciop. E, do Ciop, nós queremos o quê? Que o valor pago pela Prefeitura de Prudente, que é um valor per capita por habitante, além de toda a mão de obra, nós queremos ter uma saúde de qualidade. Nós já vimos hoje (sexta-feira), eu já estive na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) junto com a equipe da saúde e já vi algumas coisas que eu não gostei. Então, eu quero ver, vou cobrar do Ciop o que é a obrigação de cada um fazer e aí nós vamos tomar providências, porque, na verdade, o Ciop é um prestador de serviços da Prefeitura. Então, como uma empresa de ônibus, como outros prestadores de serviços de construção, ele tem que prestar um serviço de qualidade para Presidente Prudente.

- Como o senhor avalia a situação financeira da Prefeitura de Prudente atualmente? As contas estão no azul ou no vermelho? Será preciso propor um plano de contenção de despesas para equilibrar as finanças municipais?
Situação caótica! Nós não temos esses valores, mas sabemos, um exemplo, que a própria Prudenco (Companhia Prudentina de Desenvolvimento) deve mais de R$ 25, R$ 30 milhões. Não se tem uma certidão negativa de nada. A Prefeitura, hoje, não pode solicitar um empréstimo. Talvez, mesmo um projeto que seja aprovado pelo governo do Estado ou federal, nós não podemos atuar, porque não tem a certidão em dia. Então, falo a mesma coisa: irresponsabilidade. Nós, quando estivemos à frente da Prefeitura, nos dois mandatos anteriores, eu não quero fazer comparação, mas é importante falar: nós deixamos R$ 118 milhões em caixa. E, hoje, nós pegamos um rombo de mais de R$ 50 milhões. Então, nós vamos equacionar todas as questões dos fornecedores com que a Prefeitura tem dívida. Enfim, nós faremos um trabalho profissional e, paralelo a isso, iremos apresentar à sociedade, à população prudentina, qual é a real situação da Prefeitura de Prudente. Um exemplo: nós estivemos hoje no Parque de Obras da Prefeitura e só tem um caminhão andando e uma máquina. Em uma cidade do porte de Presidente Prudente? Sucatearam tudo. Então, nós vamos mostrar isso para a população.

- Uma das principais reclamações da população prudentina gira em torno hoje da sujeira na cidade. O senhor também acredita que Prudente está suja? Como a sua gestão pretende trabalhar para manter a cidade limpa?
Primeiro: nós precisamos colocar os equipamentos em ordem. Como eu disse, não tem caminhão, não tem máquina, não tem nada. Não existe crédito para se comprar uma agulha. A Prefeitura tem fama de má pagadora e nós queremos reverter isso, até porque nós precisamos do comércio. Se nós queremos fomentar e desenvolver nossa cidade, o primeiro caloteiro não pode ser a Prefeitura. Então, nós queremos colocar em ordem as finanças da Prefeitura e, ao mesmo tempo, trabalhar nessa questão da zeladoria. É isso que nós vamos fazer, dando condições para a Prudenco. Mas nós vamos pedir também um prazo para a população prudentina. Nós não vamos conseguir fazer isso do dia para a noite. Eu imagino seis meses para nós colocarmos a nossa cidade em ordem.

- No âmbito do turismo, a Cidade da Criança permanece fechada e depende do repasse de recursos estaduais para poder receber reforma e, consequentemente, ser reaberta. O senhor pretende se debruçar sobre essa questão com o intuito de recolocar o complexo em funcionamento?
Nós temos esses planos, inclusive, o nosso secretário de Turismo, Wesley Cotini, já esteve se movimentando nesse sentido. Vamos imaginar isso: ele esteve lá na Secretaria de Turismo do Estado e a Prefeitura de Prudente nunca solicitou recursos para o turismo. Nunca solicitou. Nunca solicitou nenhum recurso. Eu poderia participar com uma cidade que tem expertise para se tornar uma estância turística? Nem isso. Nem esse documento se apresentou. Cidade da Criança: calamidade. Deixaram lapidar um prédio público que era um bem valioso. Nós temos procurado e já recebemos visitas de empresários, mesmo na transição, para que nós possamos, então, traçar um grande passo, um grande projeto de recuperação de nossa cidade. O que nós não podemos deixar é no estado que estava. Nós vamos chamar a sociedade também para discutir isso daí, mas é uma das prioridades da nossa administração, fomentar o turismo, até porque isso, a Cidade da Criança com o Parque Aquático, na sua época, trazia riqueza, dividendos para nossa cidade. Hoje, não traz dividendo e ainda é uma questão negativa para nossa cidade.

- Pouco antes do fim do mandato da gestão anterior, a Prefeitura divulgou que deveria apresentar novo valor da tarifa de ônibus nas próximas semanas. A legislação municipal prevê o reajuste do valor da passagem em todo mês de dezembro. O senhor já se informou sobre essa questão? E como avalia a situação do transporte coletivo municipal?
Eu avalio hoje como horrível. Eu não sei, posso até estar falando alguma coisa sem conhecimento, mas essa questão quem vai analisar para gente é o setor jurídico. Com a empresa de transporte que opera hoje em Prudente, nós precisamos saber qual é a responsabilidade de cada um. Por que que se paga quilômetro rodado? Por que que os ônibus não passam? O que é? Falha da Prefeitura? Da empresa? Vamos imaginar o seguinte: até hoje, ninguém da nossa equipe de transição foi procurado pelas empresas de ônibus. Então nós, agora, como já assumimos de maneira geral, vamos tentar descobrir o que que ocorre no transporte. Que cada um seja responsável pela sua parte dentro desse contrato. Mas que se ofereça transporte de qualidade. Do jeito que está é um serviço caro e horrível.

- A gestão passada anunciou o projeto de concessão do Estádio Paulo Constantino, o Prudentão, mas não conseguiu levar em frente devido a um obstáculo jurídico, que proíbe a concessão de serviços e bens públicos nos últimos 90 dias do mandato de prefeito. O senhor acredita que a privatização do Prudentão é uma medida acertada? Pretende dar continuidade ao projeto?
Acho que é uma medida acertada. Nós vamos retomar esse projeto, sim. Nós achamos importante com toda essa dificuldade da Prefeitura, mas é lógico que nós queríamos ter recursos para isso daí. Nós temos uma equipe de futebol que nos representa muito aqui em Presidente Prudente. Mas nós vamos abrir um chamamento para que as pessoas possam administrar o Prudentão.

- Ainda no campo do esporte, Prudente foi duramente criticada nos últimos anos devido à falta de incentivos às equipes de atletas. Inclusive, seria sede dos Jogos Abertos do Interior em 2024, mas perdeu o evento para São José do Rio Preto (SP) por conflitos de calendário. Quais projetos pretende executar para promover o esporte na cidade e projetar os atletas locais a nível regional e nacional, considerando a importância da infraestrutura adequada, programas de formação e apoio a atletas de diferentes modalidades?
Nós queremos resgatar. Presidente Prudente sempre foi muito forte no esporte, sempre foi referência. Nós tivemos a pergunta anterior relacionada ao esporte, ao Prudentão, e o que trouxe, o que que elevou o nome de Presidente Prudente quando nós tínhamos o Prudentão em boa situação? E isso nós queremos com o esporte. Primeiro: recuperação das nossas praças esportivas. Quando eu digo praças esportivas, eu não digo só campo de futebol, eu digo as quadras, nós oferecermos qualidade. Nós temos que descentralizar, levar escolinhas para os bairros de Prudente. As pessoas hoje têm dificuldade até com o transporte coletivo, com o preço da passagem. Então, nós temos que ir aos lugares. Não é as pessoas virem aqui até a Prefeitura. A Prefeitura tem que ir nesses lugares. Nós temos que fomentar o esporte. E como é que nós fomentamos o esporte? Nós precisamos de parceiros, então quando existe credibilidade, eu tenho certeza de que o empresário prudentino vai nos ajudar a fomentar, a formar novas gerações de atletas para que nós possamos voltar a ser referência. E o esporte, ele é uma prioridade, porque ele anda junto com a educação. Não tem como desvincular um do outro. Se nós dermos um esporte de qualidade para a nossa criança, você pode ter certeza de que ela vai ter outra conduta na sua vida, outros ensinamentos além do que aprende com o pai e com a mãe. Então, o esporte vai voltar a ser forte em Presidente Prudente.

- Prudente tem demonstrado resistência à adesão das festividades. Não teve decoração natalina no ano passado e deixou de oferecer programação de carnaval. O senhor deverá estudar a retomada dos eventos de carnaval na cidade?
Sobre essa questão, o secretário de Cultura, Paulo Sílvio da Costa Sanches, já está vendo. Se for preciso uma resposta imediata agora: eu acho que esse ano seria muito difícil, até pela própria dificuldade da Prefeitura. Mas nós queremos criar mecanismos. Outra coisa, as festividades, vamos dar um exemplo: Natal. O que que nós precisamos fazer? Nós precisamos oferecer, no centro da cidade, aos comerciantes do centro da cidade, uma qualidade boa de acesso às pessoas, um calçadão limpo, as ruas paralelas limpas, não com odor de lixo. Luzes, segurança para o lojista, para a população. E nós vamos participar, sim. Nós iremos participar. Nós queremos trazer a população para o centro da cidade.

- Para encerrar, que mensagem o senhor deixa para a população prudentina?
Deixo uma mensagem de muita gratidão e de compreensão, que a população pode esperar da nossa equipe muito trabalho. Não é fácil, nós sabemos de todos esses desafios, fomos eleitos para tentar contornar e vamos conseguir contornar. Mas vamos contornar isso com muita ajuda da população. Precisamos da ajuda da população na questão da dengue, na questão da limpeza pública, de jogar seus entulhos, restos de construção, móveis, em lugares próprios. A Prefeitura tem que oferecer isso. Nós só vamos nos tornar uma cidade boa para se viver se nós tivermos uma somatória de esforços dos políticos, eu falo Executivo e Câmara Municipal, e com a população nos ajudando. Lógico, o que tiver dentro da democracia, o que tiver que ser criticado que se critique. Mas que também se dê sugestões. A Prefeitura está aberta a sugestões. Nós vamos e contamos com a ajuda da população para recuperar nossa cidade.

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