Três homens envolvidos na morte do advogado Nilson Carreira, em Presidente Venceslau, foram condenados, a pedido do MPE (Ministério Público Estadual), em sessão do Tribunal do Júri encerrada nesta quarta-feira. Entre eles, está um empresário e um ex-policial militar. As penas determinadas pelo Judiciário vão de 31 a 35 anos de prisão.
Segundo a denúncia do promotor Rodrigo Salvato, o mandante do crime é empresário do setor de transportes e ficou inconformado ao ver seus interesses contrariados em processo judicial que contou com o trabalho do advogado vítima do homicídio em 2018.
Decidido a vingar-se, o empresário ofereceu R$ 10 mil a um dos outros réus para que este o auxiliasse na empreitada criminosa. O homem, por sua vez, aliciou um ex-policial militar, oferecendo a ele o pagamento antecipado de pouco mais de R$ 2 mil para que matasse o advogado.
No dia dos fatos, o executor invadiu o escritório da vítima, rendendo o advogado, sua secretária e mais uma pessoa. Em seguida, a vítima do homicídio foi atacada com o golpe conhecido como gravata e alvejada por três tiros.
Para todos os réus, o Judiciário reconheceu a presença de três qualificadoras: motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
A sessão do Tribunal do Júri teve atuação do promotor Leandro Chaves.
A Comissão de Prerrogativas da seccional de São Paulo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) esteve presente no julgamento dos três homens envolvidos na morte do advogado. Na ocasião, a entidade classificou o caso como “um crime brutal”.
O presidente da Comissão de Prerrogativas, Luiz Fernando Pacheco, prestou solidariedade à família da vítima. “A bala que matou Nilson Carreira, tirando a vida de um valoroso colega, atingiu também toda a advocacia. Esperamos que esta condenação sirva de lição, porque nada e nem ninguém intimidará a advocacia, que está unida e mais forte do que nunca”, frisou Pacheco.
“As advogadas e os advogados somos independentes e jamais nos curvaremos a qualquer tipo de pressão. O empresário pretendeu obstruir a Justiça calando o advogado da parte contrária, um comportamento vil e intolerável. Consideramos que a pena foi justa, houve respeito ao devido processo legal e à ampla defesa, o que legitima ainda mais a decisão do júri popular”, completou o presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB-SP.
O advogado Nilson Carreira, na época com 55 anos, foi morto a tiros na manhã do dia 13 de junho de 2018, em seu escritório localizado no centro de Venceslau.
Conforme o boletim de ocorrência registrado na ocasião, por volta das 9h50, os policiais foram informados de que um homem havia sido alvejado em um edifício no centro da cidade. Imediatamente, iniciaram as diligências e avistaram um indivíduo que corria perto do local e se livrou de uma bolsa ao perceber a aproximação dos agentes.
Após ser abordado, ele foi revistado e confessou que, junto a um amigo, se deslocou de São Bernardo do Campo (SP) até o escritório de advocacia, onde amarrou as funcionárias e disparou três vezes contra a vítima. Na oportunidade, a suspeita já era de que fosse uma retaliação por uma ação trabalhista em que o profissional atuava. Nilson foi socorrido pelo resgate do Corpo de Bombeiros e encaminhado ao pronto-socorro da santa casa, mas não resistiu aos ferimentos.
Os policiais localizaram um revólver calibre 38, com três munições deflagradas e três intactas. Já na bolsa encontrada, havia fitas de mordaça, abraçadeiras de plásticos e R$ 2 mil em dinheiro.
Posteriormente, as investigações policiais identificaram que a possível causa do crime seria uma ação trabalhista ajuizada por Nilson contra o mandante do crime, em 2006, quando um motorista embriagado, que dirigia um caminhão da transportadora do empresário, envolveu-se em um acidente de trânsito que causou a morte de um motorista autônomo de Venceslau. Diante da ocorrência, a família da vítima moveu uma ação contra a empresa, avaliada em R$ 1,5 milhão, que corria há anos na Justiça.