O garoto sentou-se na geral do Pacaembu e alojou-se junto a torcedores do São Paulo. O grande goleiro Oberdan Catani lhe dissera que o Corinthians era adversário do Palmeiras e que o São Paulo era inimigo. Oberdan vinha do tempo em que a torcida do São Paulo, parte pequena dela, tentara tomar o Parque Antártica na marra em 1942. O Palestra Itália teve que mudar nome e estatutos na semana de decisão do campeonato. O jogo que iria ver era um Palmeiras x São Paulo, torneio Rio-São Paulo de 1949. O menino estava na capital e não podia perder a oportunidade de ver Aquiles dos Reis, recém transferido do Corinthians prudentino para o Palmeiras. Fiquei no meio da torcida do São Paulo e vi os torcedores tricolores aplaudirem o grande atacante vindo de Campo Grande via Presidente Prudente. Conversamos alegremente e os são-paulinos lamentaram que o tricolor não fosse mais ágil que o Palmeiras ao contratar o grande jogador. Eram outros tempos. Mesmo que o mundo ainda tratasse as feridas provocadas por um conflito mundial, no futebol reinava a paz. E os torcedores aplaudiam o que o futebol apresentava de melhor. Admirava-se o esporte, sua beleza, sua plasticidade, seu aspecto lúdico acima do furor clubístico que hoje vigora. Vivemos um período de estupidez humana em quase todos os sentidos. Estados Unidos e China exibem sorrisos de seus governantes no aspecto externo enquanto que interiormente a agressividade domina. A estupidez atinge todas as camadas e o grupo criminoso que vai derrotando o Brasil se espalha por todos os cantos do país e almeja conquistar um quadrilheiro a mais a cada dia. Os dirigentes do futebol sucumbem a essa onda terrível de tudo o que de pior pode existir nesta humanidade incapaz até de evitar que a violência tome conta do futebol. Infelizmente esta é a realidade que vivemos quando os clássicos paulistas, os jogos de maior interesse e ainda emoldurados pela beleza que o futebol pode proporcionar tenham que ser assistidos por uma torcida única. Essa é a maior demonstração da impotência, de fragilidade, de falta de comando que é exposta a cada clássico. Um crime de lesa-futebol que nossos governantes praticam e que o povo, cabeça baixa, humilhado, reverente à imposição de incapazes que se apossam de cargos imerecidamente aceita derrotado. Como admirador do futebol, admiração que coloco acima de qualquer tendência clubística é que lavro mais uma vez o meu protesto contra tal estado de inutilidade de nossos dirigentes. Em todos os sentidos, do futebol ao comando da nação. Ah! O árbitro Daronco, na última quinta, demorou 6 minutos para entender que o zagueiro do Bahia não devia levar cartão vermelho e apenas amarelo. Esse é o trabalho do VAR?