Tiradentes

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor da pinga e do pingado, a primeira em doses moderadas 

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 23/04/2023
Horário 05:30

Anteontem, sexta-feira, foi comemorado o Dia de Tiradentes, considerado o único herói nacional. Sério? Será? Joaquim José da Silva Xavier deu a vida pela independência do Brasil. "Se duas vidas eu tivesse, daria as duas", disse ele. Grande brasileiro. Merece ser lembrado com respeito. 
Ele ganhou o apelido Tiradentes por ser dentista. Vai daí: tira dentes, em suma, arranca dentes. Imaginem tratar os dentes naquela época (1792). Não devia ser fácil nem para o dentista e nem para o paciente, o coitado com dor de dente. Não é mole ter dor de dente. Uma tortura.
E não é que palavra puxa palavra, como dizia Machado de Assis? Tortura. Tiradentes morreu enforcado por desafiar a coroa portuguesa, ladra do nosso ouro na região da então Vila Rica. Ele e mais alguns amigos patriotas lutavam pela libertação do Brasil de Portugal.
Morrer enforcado é uma forma de tortura. Uma crueldade contra a vítima. Pior que isso só a guilhotina (nossa, até passei a mão no pescoço). Tiradentes e seu grupo foram traídos por Joaquim Silvério dos Reis. E tem gente que se surpreende com a traição de Silvério. Não me surpreendo até por ele sempre foi "dos Reis". 
Não satisfeito em enforcá-lo, a rainha de Portugal, Dona Maria I, salvo engano conhecida como "a louca", mandou esquartejar o corpo de Tiradentes. Cabeça, tronco e membros foram espetados em postes. Era para servir de exemplo e desestimular rebeliões, como a Inconfidência Mineira.
Tiradentes também era dono de escravos. Isso mancha a sua biografia? Não sei. Ter escravos naquela época de total obscurantismo era considerado normal. Bem, normal não era, mas a situação era daquele jeito que os historiadores registraram. Escravidão é a pior exploração do homem pelo homem. Uma chaga da humanidade.
A escravidão não acabou. Ela apenas mudou de nome. Agora, se entendi direito, ela é chamada de escravidão econômica, com a maioria "sem nenhum", como diz o samba do compositor Elto Medeiros (segundo o próprio, é Elto mesmo).
Se fosse nosso contemporâneo, Tiradentes, que também foi militar e comerciante, estaria na linha de frente no combate à escravidão. Ou no trabalho "análogo à escravidão", expressão repetida à exaustão na televisão. Aliás, uma expressão horrorosa. Tiradentes também seria dono de uma clínica dentária, pois era do ramo.

P.S.: Por muito tempo funcionou em São Paulo um presídio que tinha o nome de Tiradentes. Tremenda contradição, uma ofensa ao herói da liberdade.

DROPS

Classificado: vende-se tanque russo usado. Tratar com Zé Lensky na Ucrânia.

Baixaria na Câmara é coisa do baixo clero.

É como diz o rei Midas: "Daria todo o meu ouro por um prato de comida, pois ouro não mata a fome".

O rei Charles ouve Ray Charles.   
  
 

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