Templo de Umbanda é reconhecido pelo MinC como ponto de cultura em Prudente

Certificado emitido pela Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural fortalece atuação comunitária do terreiro e evidencia luta contra o preconceito racial e religioso

VARIEDADES - CAIO GERVAZONI

Data 29/11/2024
Horário 08:00
Foto: Cedida/Templo de Umbanda Oxóssi e Ogum
Templo de Umbanda Oxóssi e Ogum  realiza giras abertas ao público todos os sábados, às 19h30
Templo de Umbanda Oxóssi e Ogum  realiza giras abertas ao público todos os sábados, às 19h30

Localizado na Rua do Museu, 1.929, no Jardim das Rosas, o Templo de Umbanda Oxóssi e Ogum foi reconhecido, no último dia 22, pelo MinC (Ministério da Cultura), como um ponto de cultura em Presidente Prudente. 

O certificado emitido pela Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, do MinC, destaca que “o coletivo desenvolve e articula atividades culturais em sua comunidade, e contribui para o acesso, a proteção e a promoção dos direitos, da cidadania e da diversidade cultural no Brasil”. 

O sacerdote do templo, Flavio “de Oxóssi” Aparecido da Silva, relata que o reconhecimento por parte do MinC é de suma importância para o terreiro manter suas atividades e mostrar à sociedade local a atuação do coletivo como uma organização cultural e comunitária. “Estamos aqui para ficar e ajudar as pessoas que necessitam de abraço, de palavra, ou apenas de ouvir as pessoas, já é uma ajuda. Esse visto é muito importante para nós”. 

Entre as atividades do terreiro, Flávio destaca a distribuição de chocolates na Páscoa para crianças carentes, tal como no Dia de São Cosme e Damião e Doum quando a turma do terreiro leva bolos e refrigerante no Lar Santa Filomena. “Distribuo cestas básicas para as pessoas que me procuram e que precisam. Quando fazemos homenagem aos orixás, nós compartilhamos a comida e o axé dos orixás. Isto traz cura e saúde para o corpo e a mente das pessoas”, conta o babalorixá. 

Além da distribuição de alimentos, o templo também realiza atividades que extrapolam o caráter religioso. Entre elas, estão a promoção da história e cultura afro-brasileira, celebrações e eventos culturais - com festas sazonais abertas à comunidade - e a manutenção de um acervo, que preserva objetos, trajes, músicas e histórias relacionadas à Umbanda. 

Um templo que resiste ao preconceito

No entanto, o reconhecimento do Templo de Oxóssi e Ogum não veio sem a quebra de obstáculos. Segundo Flávio, o preconceito contra religiões de matriz africana é uma barreira constante na luta por reconhecimento e respeito. Quando o terreiro foi instalado no local atual, enfrentou a resistência de vizinhos, que frequentemente faziam denúncias de “barulho” às autoridades.

“Os fiscais vinham porque diziam que tinham recebido várias ligações. Mas não era sobre barulho, era preconceito. Por ser uma religião de matriz africana e por eu ser um sacerdote preto, isso pesou muito”, revela o pai de santo. 

Para driblar a discriminação, o sacerdote se amparou na legalidade. “Temos tudo em ordem: certificado de solo, estatuto registrado em cartório, alvará. Apesar disso, sempre tentaram nos tirar daqui”, explica.

Ele relembra, também, um episódio em que foi excluído de um espaço de diálogo inter-religioso. “Fui convidado para um evento com um padre e um pastor, mas a organizadora achou melhor eu não participar porque disse que eles não ficariam à vontade com a minha presença. Esse tipo de situação acontece muito”.

Uma vitória simbólica

Segundo Flávio, o processo para o terreiro obter o reconhecimento como um ponto de cultura foi marcado por empecilhos. Inicialmente, a Comissão de Cultura de Presidente Prudente inabilitou o pedido, e foi necessário um esforço conjunto para provar a importância cultural e social do terreiro.

“Sempre vou lutar contra o preconceito, e uma das respostas para isso é um templo de Umbanda ser reconhecido como um ponto de cultura. Não podemos nos esconder ou ter medo. Precisamos ser vistos pela sociedade”, destaca o líder religioso.

O babalorixá acredita que o preconceito está enraizado no desconhecimento e na falta de diálogo sobre as religiões de matriz africana. “Muitas pessoas não conhecem. E, além de ser um sacerdote de Umbanda, sou um homem preto. Isso aumenta as dificuldades, mas também reforça a nossa luta”.

Hoje, o Templo de Umbanda Oxóssi e Ogum conta com 45 médiuns e realiza giras abertas ao público todos os sábados, às 19h30, com abertura das portas às 18h45. 

Cedida/Templo de Umbanda Oxóssi e Ogum

Recentemente, Flávio recebeu uma diplomação na Federação União de Tendas de Umbanda de Candomblé do Brasil, em SP

Publicidade

Veja também