Tecnologia e comportamento inovador: gestão em tempos de Covid-19

OPINIÃO - Gabriel Abbade

Data 04/04/2020
Horário 05:24

Sob o cenário do Covid-19, aqueles conservadores com relação à tecnologia passaram de uma hora para outra a adaptar serviços e processos ao mundo digital, o que de certa forma os fizeram "abrir a mente" para o lado tecnológico da vida. Para quem não vendia nem atendia on-line, agora é questão de sobrevivência. Mas será que precisamos disso? De uma situação de "vida ou morte" para aderirmos às inovações? Aqueles que já estavam habituados ao mundo digital se encontraram anos luz à frente de certas pessoas e certos negócios mais conservadores que tiveram de se ver apertados e forçados a inovarem para lidar melhor com a crise.

Fica então a seguinte pergunta: Como o comportamento inovador com relação à tecnologia pode ajudar na gestão de crises? Posso dividir três categorias de pensamento com relação ao avanço da tecnologia sobre as nossas vidas: conservadores, fanáticos e inovadores.

Os conservadores são os que criticam negativamente o mundo digital sinalizando apenas os malefícios que a tecnologia traz à nossa saúde mental. Geralmente são eles que direta ou indiretamente justificam os empecilhos e condenam tal avanço.

Os fanáticos são aqueles empolgados e apaixonados pela tecnologia, que como todo apaixonado às vezes, exageram em certos aspectos como, por exemplo, na "positividade" que a tecnologia pode exercer às nossas vidas, pois, entusiasmados como são, acreditam que a tecnologia pode estar presente em tudo, nos ausentando das tarefas mais simples e corriqueiras em nosso cotidiano em busca de tornar tudo digital, até mesmo o ato de decidir a refeição do dia. Enquanto uns pecam pela falta outros pecam pelo excesso, mas ambos eu diria que pecam pela excelência, pois visam a mesma finalidade: nosso bem estar.

Mas, e os inovadores? Bom, se os conservadores só enxergam os problemas e os fanáticos apenas o excesso de soluções, os inovadores são aqueles que conseguem driblar os problemas levantados pelos conservadores e os excessos levantados pelos fanáticos. Desse modo, com sua sagacidade, os inovadores encontram caminhos jamais imaginados pelos conservadores, e cegamente ignorados pelos fanáticos, utilizando os benefícios que a tecnologia pode nos fornecer, seja no mundo de trabalho como também em nossas vidas pessoais, sem anular nosso valor humano.

Em tempos de isolamento social, a tecnologia tem proporcionado a manutenção das prestações de serviços e a continuação de determinados trabalhos que agora podem ser realizados à distância graças à tecnologia. Porém, há certos aspectos em nós humanos aos quais a crise serviu de gatilho e que os computadores estão longe de reproduzir com tamanha exatidão: o medo, a angústia, a necessidade do contato humano e da socialização.

Quanto à socialização, podemos sobreviver por dois meses de chamada de vídeo com aquele que amamos e que estávamos antes acostumados a conviver face a face durante muitos anos até a crise chegar. Mas, será que conseguiríamos viver uma vida toda assim? Sem ver nem tocar ninguém, somente através das redes sociais? Alguns fanáticos diriam que sim, a maioria dos conservadores com certeza diria que não. Comportamento inovador na gestão em tempos de crise é aquele que dosa o que há de produtivo na tecnologia com o que é insubstituível pela própria, e desse modo tem mais autonomia e liberdade criativa para tomar iniciativas que, mesmo imersas na crise, serão capazes de manter o foco e a direção nos objetivos desde antes estipulados.

Os inovadores sobrevivem à crise, pois já habituados e com "bom senso tecnológico", conseguem continuar vendendo, produzindo, dando assistência, tudo isso à distância, mas por serem bons dosadores, conseguem também reconhecer que os tempos serão de queda. Não anularão o lado humano da crise, o fato de que sofreremos pelos múltiplos aspectos: econômicos, sociais, pessoais, políticos. Talvez seja a hora de adiar prazos, mas não abrir mão dos objetivos; adiar eventos, mas não desistir dos propósitos. É hora de focar no que temos de elementar para as nossas ações, variar as estratégias sem tirar os olhos da missão; adiar os sonhos sem abrir mão de sonhar.

 

 

Publicidade

Veja também