A tarefa mais inglória para um homem ocorre quando sua mulher pede para ele comprar absorvente. O desafio começa antes mesmo de iniciarmos a missão, porque dando vazão a nossa objetividade, normalmente perguntamos “qual deles você quer?”. Via de regra a resposta será “qualquer um!”. Pobre diabo aquele que acredita nisso.
Qualquer homem com mais de 30 dias de casado e a saúde mental razoavelmente em dia sabe que “qualquer um” significa justamente o oposto. A mulher quando diz que basta “qualquer um” está em verdade notificando oficialmente o marido de que o mínimo que dele se espera é que conheça as preferências de sua mulher e que saiba exatamente o que ela precisa. Isso é atávico.
Desde os tempos imemoriais é nossa função providenciar o necessário para a sobrevivência e se mostrar capaz de atender a tais exigências. Mesmo hoje, mulheres completamente independentes, ainda que tenham renda bem maior, darão preferência para parceiros que possam proporcionar ao menos segurança emocional, proteção e mediação das agruras do cotidiano, mas isso é assunto para outra oportunidade. Portanto, completamente imprudente seria insistir em interrogar a mulher sobre qual marca de sua preferência, pois já teria fracassado antes mesmo de começar a missão.
No mercado, evidentemente que não podemos chegar direto ao ponto de ataque. Passamos pelo setor de frios, checamos o açougue e verificamos se há alguma novidade na adega para só depois chegarmos ao local do embate, à maneira de quem analisa cuidadosamente o território antes de invadi-lo. Mesmos os mais experientes não deixam de se impressionar. É quase todo um corredor exclusivamente para o produto. Centenas de marcas, modelos, tamanhos, quantidades e preços. O avanço tecnológico é tanto que alguns dão a entender que possuem ventilação eletrônica embutida, outros com design de adaptação corporal automática, sem contar aqueles que indicam funcionamento programado de acordo com determinada hora do dia ou da noite, como indicam as mais variadas figuras e instruções nas embalagens.
Então nos veremos inevitavelmente longos minutos ali parados, perdidos em meio àquela miríade de opções. As mulheres mais experientes passam e riem de nós, porque sabem exatamente a aflição que estamos a experimentar, comandantes que foram do envio para muitas missões semelhantes. Os mais jovens e inexperientes, moças ou moços, olham com extrema desconfiança, pois acreditam se tratar de algum pervertido com fixação por utensílios femininos, dada a quantidade de tempo que, sem que o saibam, somos forçados a permanecer no local.
Nem adianta estabelecer o critério do preço, isto é, de que produto mais caro seria o melhor, visto que a infindável variedade de modelos torna impossível saber a verdadeira relação custo-benefício. Os mais desesperados chegam a pensar em pedir um conselho para alguma mulher por perto, mas nunca se viu alguém que tivesse coragem de fazê-lo, pelo menos nenhum que esteja ainda vivo. A racionalidade masculina não se encaixa neste universo em particular.
O que fazer então? Rogar amparo dos deuses, esticar o braço e pegar a embalagem que estiver ao seu alcance. Com sorte, chegamos em casa exibindo relutantemente o resultado de nossa busca e ela dirá que “Não era bem esse, mas está bom. Obrigada, amor!”. Se for assim, tenha certeza de que este foi um bom dia.