Os segredos do comportamento humano são insondáveis, prova-o o suicídio – “fardo escuro” da vida de muitas pessoas, uma patologia do espírito e descrença da existência. Diante dele sofrem família e sociedade. Nalguns países o suicídio figura entre as principais causas de morte dos jovens. Durante séculos, o assunto foi tabu, motivo de vergonha, razão de escândalo. Por desconhecer os muitos complexos fatores que interferem no ato, exagerou-se a responsabilidade pessoal do suicida. Julgava-se que dependia de um plano premeditado e levado a termo com total lucidez. Hoje, tem-se uma visão diferente, mais humana, desse complexo fenômeno. Mesmo assim, há uma incapacidade para conter esta autêntica epidemia social.
Não estariam – os que atentam contra a sua própria vida – gritando contra esta sociedade privada de solidariedade, que cultiva relacionamentos individualistas, impessoais e materializados, que confunde o urgente com o importante? Não seria um alerta para a sociedade que tem dificuldade em dar tempo e escuta, que só procura resultados imediatos e acaba amando as coisas e servindo-se das pessoas? Uma sociedade de estética hedonista, valorizando o que a seu critério é “normal” e “com sentido”?
Comportamentos de autoagressão são o resultado de uma saúde cada vez mais fragilizada por um ambiente altamente alienante. Padre Mateo Bautista relata um fato: “não foi sem motivo que um amigo me sussurrou, um dia, diante de um suicídio: ‘Hoje, todos fracassamos’. No fundo, ‘ninguém se suicida sozinho’ (A. Artaud). O suicídio é uma assinatura pendente. Não fala apenas da morte, mas de uma vida que se truncou porque não descobriu a vida.” O Catecismo da Igreja Católica ensina que cada um é responsável por sua vida diante de Deus (o doador e Senhor). Cada pessoa é administradora e não proprietária da vida; não pode dispor dela (n. 2280).
Assim, o suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano a conservar e perpetuar a própria vida e é contrário ao amor do Deus vivo (n. 2281). Mas o mesmo Catecismo lembra que distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida (n. 2282). Ninguém deve julgar que a pessoa suicida está condenada por Deus; os caminhos de sua misericórdia nos são desconhecidos. Importa rezar pelos suicidas, sem desesperar de sua salvação. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida (n. 2283).
Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!