O carisma, o talento e a voz marcante são as características que bem descrevem Tatiane Ferreira, jornalista de Presidente Prudente e atual editora e apresentadora do MG1, jornal exibido na hora do almoço na TV Integração, afiliada da Rede Globo, no Triângulo Mineiro, em Uberaba. Dentro da profissão, a história de sucesso teve início dentro de uma sala de aula da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), quando ela, decidida e determinada, disse uma frase – durante uma apresentação pessoal com os colegas de classe – que revelou a força de vontade da jovem de alcançar os seus sonhos. “Meu nome é Tatiane, tenho 21 anos e resolvi fazer esse curso porque eu serei a nova Glória Maria”. A história por trás desse desejo tem muito a ver com identificação e oportunidades.
Mas, antes de contar sobre como foi que ela chegou ao posto que assume hoje, a jornalista lembra que é preciso voltar alguns anos para entender suas origens e mostrar as “pontes” que são construídas ao longo da vida, com a colaboração de pessoas que cruzam os caminhos. Para isso, ela faz uma alusão à música do grupo Cidade Negra intitulada de “Caminhada” e que diz: “ [...] você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui [...]”. Por isso, vamos ao início.
ORIGENS QUE MOLDARAM O CARÁTER DA PROFISSIONAL
Filha de Francisco e Maria Luiza, irmã do Tiago e do Lucas, a família foi gerada no Parque Cedral, em Presidente Prudente, e passou por algumas mudanças no formato original, sendo a maior delas em 1995, quando, aos 9 anos, Tatiane, perdeu a mãe. “Ficamos eu, meus irmãos e meu pai, um paizão, que não abanou os filhos. Alguns anos depois, ganhamos uma boadrasta”. Mas, até que isso ocorresse, Tati lembra que um longo pedaço da “ponte”, aquela que é construída ao longo da vida e que foi mencionada no início do texto, foi montada. Parte essencial da sua história.
Isso porque, muitas pessoas colaboraram para que ela e os irmãos chegassem ao lugar que sempre chegaram, desde uma vizinha que cuidava dos irmãos enquanto o pai trabalhava, e várias pessoas das Igrejas Perpétuo Socorro e São Francisco de Assis. Hoje, recordando a história, ela afirma perceber que foi naquele momento, vivenciando tantas mudanças, que decidiu que gostaria de ajudar as pessoas. E foi em uma escola pública, a Escola Fátima Aparecida Costa Falcon, que os professores ensinaram que “essa menina negra, bem tímida, poderia sonhar e realizar seus sonhos”.
O INÍCIO DESTA QUE SERIA UMA CARREIRA DE SUCESSO
A jornalista lembra que, inicialmente, pensou em ser advogada e se tornar juíza, mas afirma que ao terminar o ensino médio ainda não tinha certeza de qual caminho seguir, mesmo sabendo que o jornalismo sempre esteve presente na vida dela, já que o pai é um grande ouvinte do rádio, o que a fez ter referências locais como Barbosa da Silveira, Osvaldo Torino e Laerte Silva. “Sempre fui curiosa e gostava de ler os jornais da cidade. Eu também admirava os telejornais locais, com referências como Cíntia Aquino e Vivian Padovan”.
“Os colegas de sala ficaram de olhos arregalados, para a jovem (eu) de cabelos cacheados, negra e da voz firme. Naquele momento tive a certeza de que estava no caminho certo, ou melhor, construindo minha ponte da maneira certa”.
esmo com tantas referências, Tatiane recorda que algo a incomodava: o fato de não ver ninguém que tivesse o cabelo e a mesma cor que a dela. “Questão de identificação, entende?”. Ela buscava se ver no jornalismo local, e encontrou em telejornais nacionais o ícone da profissão, Glória Maria, que a fazia pensar que um dia Tatiane seria como ela. Foi quando, nos primeiros dias de aula, durante uma atividade de apresentação a professora Lêda Marcia Litholdo (que ela é fã) pediu para que cada um dissesse o nome, idade e o que motivou a procurar pelo curso. Foi quando ela soltou a frase, lá do início do texto, de que seria a nova Glória Maria. E ela caminha para isso.
“Os colegas de sala ficaram de olhos arregalados, para a jovem (eu) de cabelos cacheados, negra e da voz firme. Naquele momento tive a certeza de que estava no caminho certo, ou melhor, construindo minha ponte da maneira certa”.
Caminhos na profissão
A trajetória de Tatiane Ferreira contou com estágio na Rádio Globo aos domingos, o trabalho na assessoria do HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, de Presidente Prudente e produção na TV Band Paulista, na mesma cidade. Na emissora, teve a oportunidade de fazer reportagens na rua e, logo em seguida, foi convidada para ser repórter da TV Fronteira, afiliada da Rede Globo.
“Em seguida trabalhei em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, de lá voltei para o Estado de São Paulo, em São José do Rio Preto, como repórter de um programa de entretenimento no SBT Interior”. Enquanto estava no noroeste paulista, foi convidada para apresentar um programa jornalístico em Uberlândia, onde ficou por um período e, em seguida, convidada para trabalhar em Uberaba, na TV Integração, local que está atualmente como editora e apresentadora do MG1, jornal que é exibido no horário do almoço.
Afinal, a ponte foi construída?
Para a profissional, não há dúvidas de que ela ama o local que está, já que é onde a Tatiane Ferreira pode ser ela mesma. “Afinal, pra chegar até aqui, encontrei com algumas pessoas que tentaram me desanimar e até fazer desistir com comentários nada agradáveis”, como aqueles que tarjavam o cabelo dela de muito chamativo.
Hoje, a jornalista diz que é bom demais saber que existem outras “como ela”. Mulheres, negras, cacheadas ou crespas sendo jornalistas e aparecendo na TV pra que crianças tenham a oportunidade de “se ver”, sonhar e realizar todos os seus objetivos. “Bom, este é um pedacinho da trajetória desta prudentina, que mesmo desbravando outros lugares, nunca esquece que tudo começou em Presidente Prudente, minha cidade amada”.