Sociedade da autoexploração e esgotamento profissional

OPINIÃO - Leonardo Delatorre Leite

Data 16/10/2021
Horário 04:30

“Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”, afirma o filósofo sul-coreano, Byung Chul Han. Para o autor supracitado, a sociedade contemporânea é definida em termos de autoexploração, isto é, os indivíduos se submetem a uma rotina opressora em termos de compromissos, obrigações e tarefas exaustivas, atuando, assim, como prisioneiros e guardas, vítimas e agressores; visto que não precisam de uma coerção externa para ingressarem num mecanismo estrutural que fomenta tão somente um ideal materialista de lucro, obtenção de resultados e sucesso profissional. Nesse sentido, o chamado esgotamento profissional encontra suas origens na chamada sociedade da autoexploração. Nas palavras do próprio pensador, a contemporaneidade deixa claro que exploração é possível mesmo sem dominação. 
Numa primeira análise, vale ressaltar que o ideal responsável pela redundância do progresso pessoal ao quesito do mercado de trabalho dialoga, de forma categórica, com uma cosmovisão materialista liberal, caracterizada pela incapacidade de enxergar valores que transcendem ao quesito financeiro ou aos elementos de uma visão hedonista e individualista. Ademais, a filósofa alemã Hannah Arendt dirigiu duras críticas ao entendimento segundo o qual o desenvolvimento integral do homem se dá pelo trabalho. Desse modo, para a pensadora em questão, os indivíduos se realizam genuinamente pelo exercício da liberdade. Destarte, insta trazer à baila a afirmação segundo a qual o capitalismo está para o socialismo, assim como o nazismo para o stalinismo. Em última instância, nazismo e stalinismo são totalitaristas. No fim, capitalismo e socialismo são materialistas, sistemas que reduzem o indivíduo ao aspecto econômico e supervalorizam o ideal de realização plena do homem pelo trabalho (ou pelo consumo no primeiro caso).
Em vista disso, pode-se afirmar que o esgotamento profissional tipifica uma mentalidade que reduz a felicidade ao campo material, como se os valores morais e espirituais fossem inúteis ou secundários para a vivência da alegria genuína. Infelizmente, é triste averiguar o quanto os indivíduos se abdicam de princípios eminentes em prol do sucesso no mercado de trabalho ou até mesmo da estabilidade financeira. 
Dessa forma, o homem contemporâneo, em benefício do materialismo, abre mão do espírito comunal, da dedicação aos princípios de caridade e da própria liberdade (não compreendida aos moldes pífios do liberalismo, mas enquanto um valor atrelado a uma dimensão axiológica ligada ao bem comum e aos elementos da contemplação da verdade e prática das virtudes). 
Diante dos fatos supracitados, é preciso purificar a mente das estratégias de dominação da sociedade da autoexploração e compreender que a alegria autêntica e verdadeira está nas pequenas coisas, a saber: nos laços de amizade, nos momentos de alegria com a família e num simples abraço genuíno. Segundo o teólogo, Charles Spurgeon: “Não deixe aquilo que é urgente tomar o lugar daquilo que é importante em sua vida”. Afinal, amizade, arte, caridade, verdade e justiça são, no final das contas, o sentido derradeiro da existência humana.
 

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