Sobre a amizade 

OPINIÃO - Leonardo Delatorre Leite

Data 27/12/2020
Horário 04:30

“Sozinho não sou grande o suficiente para externar em atividade o homem que sou por inteiro”. Eis uma das mais belas afirmações de C.S Lewis acerca da amizade em sua famigerada obra “Os Quatro Amores”. Lewis era categórico no pensamento segundo o qual a amizade representa um dos laços íntimos humanos mais necessários para a vida em seu sentido complexo e holístico, desde a esfera social até a dimensão espiritual. Sendo assim, dizia de forma inequívoca: “A amizade não possui valor de sobrevivência; antes, ela é uma daquelas coisas que dá valor à sobrevivência”.
Os pensadores da Antiguidade valorizavam de forma incisiva as relações de companheirismo e de auxílio mútuo entre dois amigos. Platão, Aristóteles e Plutarco discorriam acerca da amizade em suas reflexões e ponderações. Diante do que foi exposto, alguns questionamentos se fazem necessários, tais como: “Será que entendemos o real significado da amizade? (...) Será que sabemos quem são nossos verdadeiros amigos?" 
Primordialmente, cabe frisar que o amor fraterno representa a dimensão axiológica e valorativa dessa grandiosa relação. Desejar o bem do amigo, sobretudo os bens de ordem espiritual, é o fundamento de um companheirismo verdadeiro e autêntico. Por conseguinte, pode-se dizer que a amizade pautada na virtude jamais se esgota. A vida virtuosa deve ser a origem e o objetivo derradeiro da relação que se verifica entre dois amigos. 
Ademais, já dizia São Tomás que a autêntica amizade pressupõe o compartilhamento dos mesmos valores e, em última instância, da mesma cosmovisão. Desejar as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas são traços do verdadeiro amor por trás da amizade. O crescimento na caridade deve ser o fator determinante na união entre os amigos. Destarte, conforme supramencionado, a amizade cujo centro é a virtude jamais se encerra. 

A vida virtuosa deve ser a origem e o objetivo derradeiro da relação que se verifica entre dois amigos 

A intimidade também é um dos pressupostos para o companheirismo autêntico. A espontaneidade, a ausência de medo em compartilhar as angústias, a total facilidade em reconhecer suas falhas e pedir perdão refletem a intimidade necessária para constituição da magnanimidade presente no companheirismo. Conforme frisava o teólogo e pensador Francisco de Sales, “No mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios”. 
Por fim, a amizade deve ser útil. Não nos confundamos aqui com a utilidade em termos materiais e efêmeros. A amizade deve ser útil para que cresçamos na justiça, no Sumo Bem, na coragem e na fortaleza. Nada melhor para encerrarmos as reflexões aqui estabelecidas do que uma breve reflexão de Plutarco, a saber: “Visto que a verdadeira amizade busca, sobretudo, três coisas: a virtude como algo belo, a intimidade como algo doce e a utilidade como algo necessário (pois devemos aceitar um amigo depois de avaliá-lo, ter alegria em sua companhia, ser-lhe útil quando necessita)”.  


 

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