Um balanço do primeiro ano de funcionamento do Sistema Órion, criado pelo 18º BPM/I (Batalhão de Polícia Militar do Interior), demonstra que das 285 das ocorrências registradas, 66% (190) foram encerradas após receber o devido encaminhamento. Atualmente, um terço dos casos (95) segue em andamento. A tecnologia social inédita consiste em um programa de computador que agrega um grande banco de dados de ocorrências sociais, voltado para o fortalecimento da rede de proteção ao cidadão.
Fassina apresentará Sistema Órion em encontro, na terça-feira
"Identificamos que, em média, 60% dos chamados recebidos pelo 190 não são criminais. São pessoas doentes, desempregadas sem moradia, sem atenção psicossocial, problemas de relacionamento que não são caso de polícia", afirma a major PM Renata Fassina. Mesmo se tratando de situações que exigiam cuidados de outros órgãos, a polícia continuava atendendo essas ocorrências, mas o "tratamento" era engessado pelo sistema e a pessoa, muitas vezes, não recebia a assistência necessária.
Diante disso, o 1º-tenente Jefferson Paulo Romão, 1º-tenente Anderson Garrid e o cabo Rodrigo Sahu da Silva idealizaram o Sistema Órion, plataforma informatizada para a disponibilização dos dados das ocorrências e atuação colaborativa com outros órgãos mais equipados para cuidar desses casos. Dentro desse trabalho, os policiais militares são capacitados para apurar seu olhar social. "Se sou chamada por conta de tráfico de drogas, por exemplo, e encontro uma criança ou um idoso em situação de negligência, vulnerabilidade ou maus-tratos, já informo isso no próprio boletim de ocorrência, o caso vai pro sistema e segue para um acompanhamento especializado", declara Renata.
A coordenadora do Movimento Seja Gentil e capacitadora Paulina Paulino revela que o principal objetivo da iniciativa é tornar a rede de proteção forte e organizada para que seja capaz de acolher o cidadão, sem que ele precise reincidir e "cair no sistema" novamente.
Além do aprimoramento do diálogo entre os órgãos assistenciais e de investir na humanização do serviço prestado pela PM, outros bons frutos surgiram desse trabalho multidisciplinar. "Os integrantes da rede estão trazendo novas ideias, trocando experiências e divulgando boas práticas, como projetos voltados para crianças, alcoolistas, de horta comunitária, dentre outros", acrescenta.
Encontro de trocas
Hoje são mais de 80 órgãos cadastrados na rede, incluindo 21 assistências sociais dos municípios abrangidos, 14 assistências sociais da saúde, 18 Cras (Centros de Referência da Assistência Social), 21 conselhos tutelares, cinco Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e três CMDCA (Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente).
Esse trabalho será apresentado na terça-feira pela major PM Renata Fassina durante o 3º Encontro de Trocas de Tecnologias Sociais, realizado pelo Instituto Sou da Paz, na capital paulista. Três casos serão expostos: a Rede Maranhense de Justiça (MA), o Programa Integrado de Prevenção à Violência "Cada Jovem Conta!" (RS) e o Sistema Órion, de Prudente.