Sirlei Oliveira: treinadora de pais

Professora tem a vivência de que bons resultados na educação vão além dos processos de ensino e de aprendizagem, com o envolvimento da família e da comunidade

PRUDENTE - HOMERO FERREIRA

Data 26/04/2020
Horário 07:15
Cedida - Sirlei Oliveira defende a tese da verdade vivenciada: a de que ninguém faz nada sozinho
Cedida - Sirlei Oliveira defende a tese da verdade vivenciada: a de que ninguém faz nada sozinho

Bons resultados na educação são obtidos com projeto pedagógico de qualidade associado a outros procedimentos, entre os quais estão: o envolvimento dos pais, condição que tem o efeito multiplicador de alcançar a família e a comunidade. A professora Sirlei Oliveira é pioneira em Presidente Prudente em formação e autorização da UDF (Universidade da Família) para dar aulas do curso Como criar seus filhos, utilizando as apostilas dessa ONG (organização não governamental).

Além da formação no magistério, Direito e Pedagogia, incluindo outros cursos ao longo de sua carreira de mais de 25 anos como professora efetiva da rede municipal de ensino, é habilitada pela GFI (Growing Families Internacional) como treinadora de pais. Sua atuação tem contribuído para fazer a diferença em escolas e comunidades de diferentes regiões da cidade, na condição de gestora escolar. O primeiro impacto foi verificado na Escola Municipal Professora Odette Duarte da Costa, no bairro Morada do Sol.

Em 2013, o então prefeito Milton Carlos de Mello, Tupã, e a secretária municipal de Educação, professora Ondina Barbosa Gerbasi, instituíram o Programa Escola de Pais no município, com o objetivo de articular e criar mecanismos indutores de interação entre escola, família e sociedade. Naquele ano e desde o ano anterior, Sirlei respondia pela Escola Municipal Dr. João Ceribelli Pacca, na Vila Nova Prudente, onde iniciou o trabalho com as famílias e percebeu o interesse dos pais em ser melhores.

Foi então que buscou ferramentas para apoiar as famílias em suas dificuldades de relacionamento com os filhos e a escola. Surgiram relações de profunda empatia e foi uma experiência com bons resultados. Como uma coisa puxa outra, foi chamada para resolver problemas na escola do Morada do Sol, na zona norte; então deixando a Nova Prudente, na zona sul. Era a unidade escolar de menor classificação em avaliação externa, dentre mais de 30 do primeiro ciclo do ensino fundamental.

UMA GRANDE

TRANSFORMAÇÃO

Em 2014, tinha início o projeto socioeducativo planejado pela secretária e sua equipe, para ser desenvolvido por Sirlei e sua equipe, sob a orientação da supervisora Mara Suzete Pereira Cabral do Amaral. Projeto para o triênio 2014-2016, sendo que o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2017 foi de 6,9: um salto de 76,9%, da mais baixa pontuação da rede municipal de ensino, que era de 3,9.

Uma conquista que a educadora não chama para si, por entender que ninguém constrói nada sozinho, pensamento que tem como tese e verdade vivenciada a de que bons resultados são obtidos mediante pessoas comprometidas e apaixonadas, sendo que nessas condições podem mudar o mundo. Aí Sirlei pensa como a antropóloga norte-americana Margaret Mead (1901-1978): o de nunca pensar que um pequeno grupo de indivíduos altamente dedicados não pode mudar o mundo; pois, na verdade, são os únicos que já o fizeram.

A reportagem pode testemunhar o quanto a escola mudou para melhor. Aquele espaço público deixou de ser visto como outro qualquer, que era frequentado como se fosse uma praça, onde as pessoas entravam e saíam a qualquer momento. Até animais faziam o mesmo, com equinos pastando a grama ao redor do prédio. Tudo mudou, com os alunos e pais ajudando a cuidar de tudo, inclusive com a implantação da horta escolar. Foi uma transformação radical, do tipo da água para o vinho.

A escola passou a ter uma identidade de impacto na comunidade do Morada do Sol e do bairro vizinho, o Parque Residencial Francisco Belo Galindo. A escola deixou de ser apenas mais um espaço público e passou a ser protagonista na vida dos habitantes dos dois bairros, com a ajuda da sociedade prudentina. Recebeu contribuições como as de treinamento da equipe em métodos de alfabetização e produção textual, por Arlette Piai e Onaide Mendonça.

Foi criada uma força-tarefa que envolveu as secretarias municipais, com o apoio das universidades; do Ministério Público do Estado na área da Infância e da Juventude, através do promotor Luiz Antonio Miguel Ferreira; e de várias instituições, tais como a Organização Internacional Soroptimistas, Rotary Club, Sociedade São Vicente de Paula, igrejas, ONGs e voluntários em geral, incluindo os da própria comunidade. O projeto contemplou dispositivos constitucionais e do Estatuto da Criança e do Adolescente.

ATUAÇÃO PAUTADA

EM RELAÇÕES

Em sua trajetória na rede, Sirlei atendeu a outros chamados e foi diretora do programa de educação integral e integrada Cidadescola, depois foi para a Escola Municipal Professora Vila Alvarez Gonçalves, no Jardim Cambuci; e Escola Municipal Dr. Aziz Felipe, no Jardim Itatiaia, ambas na zona leste. Sua atuação segue pautada na relação escola e comunidade, especialmente no estreitamento das relações entre pais e filhos, com a obtenção de bons resultados na educação.

Mas, afinal, quem é Sirlei? Qual é a sua história de vida, que a levou a atuar transformando outras vidas? A reportagem especial de O Imparcial foi buscar essas informações que tem origem nos pais mineiros de Capelinha, na região sudeste de Minas Gerais. Vicente Gomes dos Santos, jovem e solteiro, na companhia de um irmão e de amigos, trocou Minas por São Paulo para trabalhar na lavoura em Alfredo Marcondes. Santos ficou três anos e retornou para o seu Estado.

Foi lá que se casou com Margarida Xavier da Costa. E foi lá que tiveram cinco de 10 filhos, dos quais dois faleceram ainda pequenos, Aparecida e Nelci, restando Maria, Alice e Aracy. Em 1952, em viagem de vários dias, a família foi morar e trabalhar em Alfredo Marcondes, onde nasceu Val. Depois, foram para Caiabu e lá nasceram José Carlos e Maria de Fátima, que morreu do mal de sete dias. Na década de 1970, mudaram-se para o distrito prudentino de Floresta do Sul, onde, no dia 14 de outubro de 1972, nasceu Sirlei Aparecida Gomes dos Santos Oliveira. Também nasceu uma menina prematura que morreu no nascimento.

Em 1983, nova mudança: desta vez, para a cidade de Presidente Prudente. Sirlei viveu sua infância em Floresta que, embora seja do sul, fica na zona norte, a 26 km da zona urbana e no mesmo caminho do Morada do Sol, que por muitos anos foi conhecido como Km 7 da estrada vicinal Raimundo Maiolini. Estudou na Escola Estadual Celestina de Campos Toledo Teixeira até a 5ª série e viveu a riqueza das brincadeiras de rua: pular corda, jogar amarelinha ou bets, esconde-esconde... Nas férias, trabalhava com os pais nas lavouras de amendoim, algodão e tomate.

MAGISTÉRIO NA

ADOLESCÊNCIA

Aos 12 anos, Sirlei ingressou na Guarda Mirim. Trabalhava de dia e estudava à noite na Escola Estadual Professor Adolpho Arruda Mello. Acabaram as brincadeiras que deram lugar à participação na comunidade católica, com envolvimento nas campanhas da Fraternidade, de apoio aos menos favorecidos, o engajamento nas luta dos sem terra e teto; forjando, assim, a sua identidade social. Foi catequista e líder de jovens. Participou da comunidade União e Consciência Negra.

Ainda na adolescência, ingressou no curso magistério, na busca de transformar outra brincadeira de criança, que era dar aula para os coleguinhas, em realidade de atuação profissional. Aos 18 anos, casou-se com Edimilson Goulart de Oliveira, atualmente orientador de loja da rede de farmácias Droga Raia. A primeira de três filhos é Nathalia, que tem 28 anos e junto com o marido Hiago Angelucci têm a vida missionária no movimento internacional Jocum, que reúne cristãos de várias dominações. Vivem em Almirante Tamandaré (PR), na região metropolitana de Curitiba, com o filho Pedro, de três anos.

O professor de bateria Lucas tem 24 anos e cursa o último ano na Faculdade de Direito da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), a mesma em que sua mãe se formou na turma de 1998 na condição de aluna com crédito educativo. No ano seguinte foi aprovada no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e ingressou como técnica da Fundação Procon-SP, em Prudente. Lá ficou até 2000 e de 2005 a 2009 exerceu a advocacia, concomitantemente às atividades na educação. A caçula Ana Júlia está com 13 anos.

Após o curso de Direito, Sirlei fez Pedagogia na Unoeste e vários outros cursos, incluindo o de treinadora de pais, cuja atuação ocorre em cursos presencial e à distância, oferece treinamento em Curitiba, onde em julho haverá imersão para professores do Brasil inteiro. É autora do e-book treinamentodepais.com, disponibilizado para ser baixado gratuitamente. Tem uma vida de intensas atividades e já se candidatou à vereadora, mas não alimenta mais esse interesse, em nenhum cargo.

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