Eu avistava aquela linda árvore pela janela do meu escritório enquanto rabiscava as primeiras ideias da crônica semanal. Ela parecia aquela personagem do livro “Meu Nome é Vermelho”, de Orhan Pamuk, uma das leituras mais impactantes que já tive nos últimos tempos. Neste instigante romance do prestigiado escritor turco, a árvore é um elemento simbólico importante que representa a ligação entre o mundo material e espiritual, a natureza, a arte e o tempo. Ela é retratada como uma testemunha silenciosa dos eventos que ocorrem ao seu redor, guardando segredos, memórias e mistérios. Enfim, a árvore é imaginada como um ser consciente e sensível, capaz de observar o mundo ao seu redor e compartilhar suas próprias reflexões e emoções. O que a árvore queria soprar nos meus ouvidos?
De repente, meus pensamentos foram interrompidos pelo pouso suave de uma borboleta em uma das folhas trêmulas da árvore, como se fosse um sinal dos guias ancestrais. Com delicadeza, a borboleta abriu suas asas e revelou um padrão surpreendente de cores e formas cintilantes, contrastando com a serenidade verde da folhagem. E assim, por um instante fugaz e eterno, a árvore e a borboleta se tornaram cúmplices de um momento único de contemplação e encantamento, entrelaçando suas histórias silenciosas em meio aos segredos e suspiros da natureza sussurrante que as cercava. Parecia que a borboleta, com suas antenas sensíveis, percebia a trama sutil que se desenrolava entre as sombras das folhas, os sussurros do vento e os ecos de segredos guardados há séculos.
Não bastasse tal cena diante dos meus olhos, um bem-te-vi veloz e atrevido pousou bruscamente em um galho próximo. Com um olhar afiado e voraz, o pássaro mirou a borboleta, cujas asas cintilavam como joias raras. E, num movimento ágil e predatório, lançou-se em um voo certeiro em direção à borboleta, que tentava desviar desesperadamente. Suas asas delicadas batiam freneticamente, num esforço final para escapar do destino implacável que se aproximava. Num instante fugaz, o bem-te-vi capturou a borboleta com seu bico afiado. O contraste entre a beleza efêmera da borboleta e a brutalidade da lei natural ecoava no ar, enquanto o bem-te-vi saciava sua fome com a doce recompensa de sua caçada bem-sucedida. A árvore, testemunha passiva, curvou-se sob o peso da dualidade da vida e da morte, da beleza e da brutalidade. O vento sussurrava tristemente, como um lamento silencioso, despertando uma nova consciência sobre a efemeridade da existência e a beleza fugaz da vida.