Há 104 anos, o Shokonsai, que significa “convite às almas”, reúne tradição e fé da colônia japonesa, no único cemitério japonês no Brasil. A celebração anual será realizada neste final de semana, com início neste sábado (13) com encerramento no domingo (14) com a cerimônia das velas (confira a programação em destaque).
Segundo o coordenador geral do evento e vice-presidente da Associação Cultural, Esportiva e Agrícola de Álvares Machado, Luiz Takashi Katsutani, o povo japonês tem um nível de espiritualidade diferente dos demais. “O dia do Shokonsai, é o dia que ele está convida as almas de todos os antepassados para voltar. Para o japonês, isso é motivo de alegria, os antepassados novamente com eles. Por isso entregam flores, comida e além de tudo, tem música, tem tudo que significa alegria. Pois, para os japoneses, o culto aos antepassados é algo muito importante e só poderia ser feito com muita festa”, afirma.
Neste ano, são esperadas 8 mil pessoas durante o fim de semana, não só de descendentes japoneses, mas também de não descendentes. “A admiração pela cultura japonesa é também compartilhada pelos não descendentes, que gostam da nossa cultura, apreciam a música, as danças e a gastronomia japonesa, e o comportamento em termos de ética, honestidade, resiliência e dedicação ao trabalho”, diz Takashi.
Mistérios do Shokonsai
O Shokonsai é uma festa que resiste ao tempo, que comemora os antepassados e mantém viva a importância dos japoneses no Brasil. Realizado há mais de um século, sempre no segundo domingo do mês de julho, a cerimônia proporciona à colônia japonesa o reencontro no Cemitério de Álvares Machado, palco de toda a festa.
De acordo com Luiz Takashi, o Shokonsai envolve alguns mistérios. “Em 103 anos de evento, nunca choveu no dia [domingo]. Esse é um dos mistérios passados de geração para geração, mas que não tem um motivo. Ninguém sabe explicar o porquê do tempo bom no segundo domingo de julho, todo mundo só sabe que isso acontece”, explicou Takashi.
Outro mistério, segundo o coordenador do evento, ocorre durante o ritual das velas. “Às 17h, voluntários colocam uma vela em cada túmulo e todas queimam por inteiro. Após às 17h vem uma calmaria que permite que as velas fiquem acesas até queimar totalmente. Este é um mistério que também não tem explicação”.
Cemitério Japonês
Luiz Takashi conta que as primeiras famílias de imigrantes japoneses chegaram em Álvares Machado, em 1917. Dois anos depois, um surto de febre amarela e outras doenças mataram muitos japoneses. “O cemitério mais próximo ficava em Presidente Prudente, 15 km de distância. Os corpos eram levados a pé, carregados por duas pessoas. Como a quantidade de mortes aumentou, as idas para a cidade vizinha ficaram inviáveis. Então, Naoe Ogassawara pediu permissão para fazer um cemitério em uma área de cinco alqueires, o que foi permitido”.
O primeiro sepultamento, de acordo com informações de Luiz Takashi, foi de Massae Watanabi, uma menina de apenas dois anos de idade, no dia 19 de novembro de 1919. Ao todo, foram sepultadas 784 pessoas. O último enterro registrado foi em 1942. Porém, pelo cemitério é possível ver túmulos com a data de 1943. “Não foi por falta de espaço ou de demanda que não houve mais sepultamentos no local. No período da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, um decreto do então presidente Getúlio Vargas proibiu os enterros. Não foi identificada uma data certa dessa restrição, mas foi algo que a colônia acatou”.
Entre o trabalho de pesquisa, foram levantadas as informações das pessoas sepultadas. "Dos 784 sepultamentos, 68% såo de crianças com até 5 anos de idade. Outro dado é de que quase 48% eram bebês de até um ano, que nasceram e morreram ou já nasceram mortos".
De acordo com Takashi, “segundo a pesquisa, é porque as mães tiveram que trabalhar muito na lavoura, subalimentadas, e as crianças, sem condições, nasciam e acabavam falecendo”.
Em 1980, o cemitério e outras áreas no mesmo espaço, como o palco das apresentações culturais e a primeira escola fundada pelos imigrantes, foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.
O local é mantido pela Aceam (Associação Cultural, Esportiva e Agricola Nipo-Brasileira de Álvares Machado). Entre os japoneses e seus descendentes enterrados no local, há apenas um brasileiro, de nome Manoel.
No registro de seu óbito, consta apenas o primeiro nome. “Segundo a história, em uma noite de ano novo, ele viu que em uma casa havia uma briga. Um desconhecido invadiu uma casa onde estavam três japoneses. Eles tentaram expulsar esse homem, mas ele tinha um facão e começou a atacar. O Manoel entrou em defesa deles, mas todos morreram. Por ter morrido defendendo japoneses, ele foi enterrado no local”.
Programação
Em 1920, um ano após a criação do cemitério, foi realizado o Obon, que é o evento de finados feito no Japão. “No primeiro ano, foi uma coisa muito simples, uma data dentro do calendário japonês, e eles celebraram as missas. No ano seguinte, a ideia já evoluiu para o Shokonsai. Ao invés de ser o Obon, que tem uma data, eles fizeram o Shokonsai, que é uma data parecida, mas eles poderiam fazer no domingo, não necessariamente no Obon, e eles resolveram fazer o Shokonsai, começando a ter o caráter do festival e isso evoluiu”.
Sábado – 13/7
- 16h: apresentação de dança japonesa
- 16:15: apresentação de balé
- 16:30: apresentação de capoeira
- 17h: J.Jofre MMA (mestre Jerson Jofre
- 17h30: KPOP (Grupo Your Illusion)
- 17h45: KPOP (Grupo Sunday)
- 18h: Desfile Cosplay
- 18h30: apresentação de música com a Orquestra Camerata
- 19h: Taikô (Grupo Dantai Fênix)
- 20h: Banda Kizura
- 20h30: Dança – Billie Jean (George e as Georgetes)
- 20h45: Show Pascoal Mitida (São Paulo)
- 21h30: Odori – Sakura Ondo (Grupo de Álvares Machado)
- 21h45: Show com Sergio Tanigawa (São Paulo)Domingo - 14/7
- 9h: culto budista na capela
- 10:30: oração no monumento dos soldados desconhecidos da segunda guerra mundial
- 11h: abertura oficial no palco
- 12h: início das atrações artísticas - dança, karaokê, taiko, artes marciais
- 16h30: Bon Odori
- 17h30: Ritual das velas
No sábado a praça de alimentação vai estar aberta a partir das 11h. E no domingo, a partir das 10h, com 20 pratos típicos japoneses. Também haverá 25 expositores de diversos segmentos como artigos orientais, semi-jóias, entre outros.