Em outubro de 2014, nas páginas de O Imparcial, era possível ler sobre o fechamento de pelo menos 6 mil postos de trabalho, ocasionado pelo enceramento de usinas de açúcar e álcool na região de Presidente Prudente, que ocorrem desde 2010. Pouco mais de três anos, ainda é possível ver o reflexo que a crise no setor fomentou, uma vez que, só em 2017, aproximadamente 1 mil vagas de emprego foram fechadas na área sucroalcooleira, conforme levantado pelo gerente regional do Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Wadir Olivetti. O número representa uma redução de quase 9% na quantidade de carteiras de trabalho assinadas. O cenário pode e deve ter sido impulsionado com a finalização dos trabalhos de mais duas empresas do setor no entorno.
Na conta exata, somente nos últimos oito anos, oito usinas fecharam as portas na região de Prudente, sendo seis até o final de 2014 e mais duas daí em diante. Na verdade, o presidente do Sindetanol (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Química, Farmacêutica e Fabricação de Álcool, Etanol, Bioetanol e Biocombustível de Presidente Prudente e Região), Milton Videiro Sobral, explica que os fechamentos dizem respeito à Usalpa - Alta Paulista Indústria e Comércio Ltda, de Junqueirópolis; e Cia. Flórida - Flórida Paulista Açúcar e Etanol, de Flórida Paulista, que já veio de um antigo fechamento - antiga Floralcoool -, teve recuperação, mas novamente não suportou.
Levando em conta esses dois últimos fechamentos, o Sindetanol aponta que por trabalhadores por ele representados, foram cerca de 800 demissões: 250 da Cia Flórida e 550 da Usalpa. Os dados mostram então uma crise no setor desde 2010, que é confirmada por Milton. Para ele, isso mostra uma queda significativa em relação à mão de obra. “Hoje, quem está em seu emprego faz de tudo para não perder. Em tempos antigos, a gente podia ver até uma migração de funcionários de uma empresa para outra. Com esse cenário, isso não existe mais”, pontua.
E com isso, muitos foram para fora da região, migraram de setor ou permaneceram estagnados. “Para se ter uma ideia, já chegamos a representar 16 usinas da região, hoje são oito. Agora imagina esse número em demissões?”, completa. No cenário atual, 13 usinas operam na região, mas duas não efetuam a moagem da cana, sendo elas a Usina Santa Mercedes Açúcar e Álcool Ltda., em Santa Mercedes; e a Odebrecht Agroindustrial - Unidade Alcídia, de Teodoro Sampaio. “Está última, por sua vez, não fez mais safra desde 2015, mas já busca parceiros para que em 2019 isso aconteça”, expõe.
O que abre espaço para outra discussão, que é o caso da produção de cana-de-açúcar. O gerente do Fiesp/Ciesp destaca que a região ainda é menor, em comparação com outras áreas. “Prudente produz em média 180/190 toneladas por dia, enquanto Ribeirão Preto (SP) tem a média de 300 toneladas, por exemplo. A gente justifica isso pelo solo arenoso existente aqui”, afirma. E se por um lado não há produção, não tem lucratividade, o que fomenta para o fechamento, conforme ainda considerado por Wadir.
“As usinas que sobraram na região parece que estão sólidas. Com isso, a gente espera que, ao longo dos tempos, a produtividade melhore”, completa o gerente. Aposta essa que também é pontuada pelo presidente do Sindetanol. Para Milton, já há indícios de que a safra 2018/2019 que está prestes a ser iniciada tem tudo para ser melhor que a última, que segundo ele não foi ruim. “E que assim as coisas voltem a ficar financeiramente melhor”, finaliza.
Reflexo constante
Em Flórida Paulista, em meio a essa situação, a antiga Usina Floralcool virou Cia Flórida, mas mesmo assim não se recuperou. Como a única empresa existente por lá, isso mostra o quão difícil ficou no munícipio. Quem mostra isso também é a presidente do Sindicato Rural da cidade, Roseli Carlos Melo Esposo, ao dizer que o “cenário ficou cada vez mais difícil e sem ter o que fazer”.
À reportagem, ela argumenta que o mais prejudicado foi cortador de cana, que não tem conseguido se realocar no mercado. “Outras funções, como um motorista, por exemplo, ele pode ter mais opções. Agora um cortador, se não há produção, ele não tem o que fazer”, promove. O que abriu espaço para mão de obra informal, ainda de acordo com Roseli, uma vez que esses trabalhadores que não conseguem emprego acabam vivendo de “bicos” e aceitando qualquer proposta sem carteira de trabalho que aparece.
SAIBA MAIS
Usinas que ainda operam na região:
- Usina Santa Mercedes Açúcar e Álcool Ltda., em Santa Mercedes
- Usina Caeté S/A, unidade de Paulicéia
- Branco Peres Açúcar e Álcool S/A, em Adamantina
- Odebrecht Agroindustrial - Unidade Conquista do Pontal, em Mirante do Paranapanema
- Odebrecht Agroindustrial - Unidade Alcídia, em Teodoro Sampaio
- Umoe Bioenergy S/A, Sandovalina
- Glencane Bioenergia S/A - Unidade Rio Vermelho, em Junqueirópolis
- Usina Alto Alegre S/A - Açúcar e Álcool, em Presidente Prudente
- Bioenergia do Brasil S/A, em Lucélia
- Usina Atena, em Martinópolis
- Usina Cocal, em Narandiba