Na tarde de hoje, os assistidos pela Associação Filantrópica de Proteção aos Cegos de Presidente Prudente se reuniram na Sala de Cinema Condessa Filomena Matarazzo, do Centro Cultural Matarazzo, para uma sessão especial do curta-metragem "Encontro Inoportuno". O evento contou com a exibição do filme com audiodescrição e um debate ao final - uma experiência reflexiva que levantou questões sobre adoção e relações familiares.
O filme, com direção do cineasta prudentino, Vicentini Gomez, aborda o encontro inesperado entre dois irmãos, um advogado e uma prostituta, que desconheciam seus laços familiares devido a uma adoção sem procedência. A narrativa instigante e o impacto emocional do filme trouxeram à tona histórias e vivências pessoais dos presentes.
Henrique Chagas, presidente da Associação Filantrópica de Proteção aos Cegos, expressou a intensidade da experiência: “É muito impactante porque quantas pessoas não se encontram por aí? Quantos irmãos perdidos não existem por aí? Quando percebi que eram irmãos, pensei: ‘Caramba, como que chegou a este ponto? E aí, abre a mente da gente’”, disse.
O diretor do filme, Vicentini Gomez, aproveitou o momento para comentar a motivação por trás da criação da obra: “Por que a gente fez o filme dessa maneira? Na imprensa, a gente vê constantemente histórias de irmãos que se encontram em momentos inoportunos como esse. Aqui no Brasil, temos um problema muito sério de adoção não regulamentada. A mãe não tem possibilidade de criar o filho, daí, da maternidade, a criança já sai com alguém que tem um pouco mais de dinheiro, e às vezes são gêmeos ou trigêmeos que vão para pais diferentes, lugares e Estados diferentes, como é o caso aqui. Então, a gente fez esse debate para provocar essa questão”, contou Vicentini.
A sessão contou com audiodescrição, um recurso essencial para a compreensão do filme por parte dos assistidos da associação. Luiz, um dos presentes, destacou como essa ferramenta enriqueceu a experiência: “Com a descrição através da narração, a gente consegue acompanhar as cenas e ligar ponto a ponto do filme. Quem tem a visão, consegue ver o que está acontecendo ali no momento, então, a descrição ajuda você a entender aquilo que está acontecendo”.
Maria de Fátima, também assistida pela associação, complementou: “Ajuda muito. Num filme comum, você não consegue ter uma imagem muito definida na cabeça. Às vezes, é uma cena muito rápida. Com a audiodescrição, a gente cria toda a história na nossa cabeça. No caso do filme, a gente conseguiu ter o entendimento da praça, do carro percorrendo a cidade”.
Entre os espectadores, Ariel, um dos assistidos pela associação, compartilhou uma história pessoal que ressoou profundamente com a trama de "Encontro Inoportuno". “Eu sou um filho adotivo, tenho 43 anos. Hoje, fico engalfinhando a família que me adotou. Eles estão separados. No meio desta conversa, saiu uma suposta irmã gêmea que parece comigo e tem a mesma idade. Foi praticamente o que a gente acabou de assistir. A gente ainda não se conheceu. Já estive com os avós dessa menina lá em Pirapozinho. A tia dessa pessoa chegou a falar que eu era idêntico a Aline", revelou Ariel.
Ao refletir sobre a temática do filme, ele também destacou a complexidade emocional e familiar que a adoção pode gerar: “Gostaria que a família fosse mais humana. Esse caso foi em 1981. A família infelizmente só pensa neles, não vai pensar na criança que vai crescer depois. Fui recorrer aos psicólogos da vida. Um falou para essa minha mãe adotiva. O outro, do postinho de Saúde perto de onde eu moro, falou pra eu seguir minha vida. Um outro disse pra eu entrar na Justiça. Então, a minha cabeça está dando voltas."
Caio Gervazoni
Sessão especial foi exibida na tarde de hoje na sala de cinema do Matarazzo