Embora o Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual) alegue que os atendimentos na Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente estão mantidos até o fim da negociação entre as instituições, conveniados relatam dificuldades para conseguir o agendamento de exames. Na contramão, o hospital comunica que presta referência a atendimentos de média e alta complexidade, logo, a realização de exames não está inclusa nas tratativas com o instituto.
Nesta semana, a servidora pública Cilene Maria de Souza, 51 anos, tentou marcar duas ultrassonografias que precisa fazer todos os anos, mas foi informada que “o hospital não estava realizando os agendamentos, sem justificar o motivo”. Uma vez que o convênio com o Iamspe está previsto para encerrar no dia 31 de agosto, ela resolveu ligar para o instituto, em São Paulo, que informou “não ter conhecimento sobre o problema”, prometendo-lhe entrar em contato com a santa casa. Como alternativa, Cilene recorreu a um instituto de radiologia conveniado ao Iamspe, entretanto, conseguiu agendar as duas ultrassons somente para o dia 9 de abril de 2018.
Anteriormente, a trabalhadora já havia passado por uma situação parecida. Ela ligou duas vezes na santa casa para agendar uma ultrassonografia no ombro, conseguindo na segunda tentativa. Na ocasião, o marido de sua amiga buscava o mesmo exame desde março, porém, sem êxito. “Eu pedi então que eles dessem a minha vaga para ele, mas encontraram um jeito de encaixar os dois. Tem coisas que a gente não entende”, expõe. Cilene conta que, até três meses atrás, a equipe do hospital avisava os conveniados sobre o prazo de encerramento do contrato, como forma de preveni-los. No entanto, a impressão que tem é que “estão utilizando os clientes para pressionar o instituto a fazer o reajuste de preços”. “Com isso, o tempo vai passando e os usuários ficam reféns. Eles precisam nos dar uma satisfação, porque as contribuições são descontadas dos nossos holerites”, pontua.
A engenheira ambiental Milena Talavera, 24 anos, por sua vez, também foi vítima desse impasse. Em meados de maio, ela foi orientada pelo Iamspe a procurar a santa casa, todavia, o hospital não agendou os procedimentos solicitados. “Depois de um tempo, liguei novamente e falaram que eu precisava ligar todo dia 1º do mês para saber se estavam realizando exames ou não e se tinham vaga. Chegaram a dizer que iriam retornar em até dois meses para marcar, mas até agora nada. Então, desisti por lá e marquei em outro hospital”, argumenta.
“Depois de um tempo, liguei novamente e falaram que eu precisava ligar todo dia 1º do mês para saber se estavam realizando exames ou não e se tinham vaga”
Milena Talavera,
usuária do Iamspe
Não é a única
Por meio de nota, o Iamspe comunicou que a santa casa não é o único prestador de exames. Atualmente, conta com mais dois prestadores somente para exames de imagem, com disponibilidade de agenda para raio-X para a primeira quinzena de setembro. De acordo com o instituto, os usuários de Prudente e região podem entrar em contato direto com o Ceama (Centro de Assistência Médica Ambulatorial), que realiza agendamentos de consultas e exames em toda a rede credenciada.
“Na região, o Iamspe está presente em 17 municípios e oferece mais de 116 serviços médicos, laboratoriais, hospitais, além do Ceama”, aponta o instituto. Novamente questionado, o Iamspe reiterou que “o atendimento da santa casa continua até o fim das tratativas”, mas sem informar uma data.
Entenda o caso
Como noticiado por este diário, com base em informação divulgada pelo promotor de Justiça, André Luis Felício, a santa casa deixará de atender, no fim deste mês, os servidores estaduais por meio do Iamspe. A autoridade adiantou que, em razão disso, deverá ingressar com medida cautelar incidental na ACP (ação civil pública) já proposta, mas ainda não julgada, a qual compele o Iamspe a operacionalizar repasses financeiros necessários para implementar os convênios já existentes e contratar novos para atendimento aos contribuintes, referente à consultas, exames e cirurgias. Além disso, solicita que a autarquia arque com os gastos dos servidores que tiverem que recorrer à contratação de serviços particulares.
Sindicatos
Para o presidente do Sindasp (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo), Daniel Grandolfo, esta é uma “situação complicadíssima e muito preocupante”, considerando que a santa casa é “o único local onde os servidores podem encontrar um tratamento com dignidade”. “Nosso sindicato está em diálogo com as autoridades estaduais para que intervenham e intercederam por nós, a fim de que a gente possa restabelecer o convênio com o hospital”, comenta.
Já a coordenadora da subsede da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Ana Lourdes Kuhn Lopes Pinheiro, pontua que foram realizadas “diversas” manifestações sobre o assunto, onde “foi mínima a participação dos usuários”. Apesar disso, a Apeoesp, juntamente com outras entidades, continuará lutando pela manutenção do Iamspe. “Está sendo realizado abaixo-assinado entre todas as categorias de usuários. Novas audiências públicas estão ocorrendo em todo o Estado, sendo que, em setembro, será na Câmara de Prudente. Precisamos lutar. Todos nós”, convoca.
