Ser aceito para mudar

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 23/01/2023
Horário 05:15

Um homem que cuidava bem do seu gramado se viu às voltas com uma imensa multidão de dentes-de-leão. Usou todos os métodos que tinha ao seu alcance a fim de eliminá-los; mas a praga lá estava mais viçosa. Dirigiu-se ele, então, a um departamento do Ministério, creio eu, da Agricultura. Na carta enumerou tudo quanto já usara para acabar com os tais dentes-de-leão, perguntando, no fim: ‘que me resta fazer?’ Passados alguns dias, a resposta veio: ‘Nós sugerimos a você que aprenda a amá-los’!

Essa estória, contada pelo jesuíta indiano Anthony de Mello, cuja busca espiritual logrou boas práticas para quem procura conhecer a Deus e com este estabelecer uma relação de profunda amizade; ele parte do olhar em derredor para chegar ao olhar da contemplação. Na vida espiritual não se chega às alturas (ou às profundidades do mistério) sem silêncio, meditação, reflexão e orientação. Descobrir a presença da Santíssima Trindade no mais íntimo do próprio ser é meta a alcançar. E todos podem! Um passo é aceitação de si e daquilo que não se pode mudar.

Voltando à estória inicial, diz Mello, eu também tive um gramado de que me orgulhava e também o vi praguejado com dentes-de-leão que combati com todos os meios de que dispunha. Aprender a amá-los não foi coisa fácil! Comecei essa tarefa tentando conversar com eles cada dia. Um papo cordial, amigo. Em resposta, eu só tinha um silêncio emburrado. É que ainda estavam ressentidos pela guerra implacável que eu movera contra eles. Deviam estar também um pouco suspeitos da minha nova atitude e meus motivos. Mas não demoraram muito a responder-me com um sorriso. Relaxaram-se. Chegaram mesmo a responder às coisas que eu dizia. Bem depressa ficamos bons amigos. Meu gramado, naturalmente, virou uma ruína! Mas, em troca, fiquei com um jardim maravilhoso.

Fui um neurótico por muitos anos. Cheio de depressões, angústias e egoísmos. E toda gente me dizia que mudasse o gênio, e todos me dizendo: ‘és um neurótico!’ Eu ressentia isso e concordava, ao mesmo tempo, e queria mudar, mas não podia, apesar de tentar tudo que era possível. Mas o que mais me feriu foi meu amigo, o meu melhor amigo, ele também, sempre dizendo: ‘tu precisas mudar; estás neurótico!’ Certo dia, porém, este meu amigo me disse: ‘Não mudes! Permanece assim como és! Gosto de ti do jeito que és; não consigo deixar de te amar!’ Que melodia foi, nos meus ouvidos, esta frase do amigo: ‘Não mudes! Não mudes! Não mudes... eu gosto de ti!’ Então, me relaxei; voltei à vida e, oh grande maravilha, aí foi que mudei!

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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