Falar de seminário, muitas vezes, pode trazer à mente a imagem de um mosteiro, onde só há espaço para a oração e recolhimento. O Seminário Diocesano Nossa Senhora Mãe da Igreja de Presidente Prudente, no entanto, trata de desfazer essa visão equivocada.
"Seminário é formação antes de tudo", conforme pontua o quarto reitor, monsenhor Miguel Valdrighi, ao se referir à tradicional casa vocacional prudentina, que completou 50 anos de existência em março deste ano e que no dia 27 terá uma das etapas de comemoração da data com o lançamento do videodocumentário "Eis-me Aqui!", produzido em parceria com a Faculdade de Comunicação Social de Presidente Prudente, da Unoeste. A exibição será na sala de cinema Condessa Filomena Matarazzo, no Centro Cultural Matarazzo, a partir das 19h30.
Monsenhor Miguel Valdrighi, 4º reitor do Seminário Diocesano de Presidente Prudente
Na condição de escola que oferece preparação vocacional, a casa contribuiu com a formação não apenas de sacerdotes, mas de verdadeiros cidadãos. Construída sobre alicerces firmes da Igreja Católica e erguida a partir da força do povo fiel, sua história se entrelaça com a criação da própria Diocese de Presidente Prudente. "Não conseguimos desvencecilhar a história prudentina de tudo o que aconteceu no seminário em 50 anos e como a cidade e a casa de vocação se interagiram", conta o atual reitor padre Gerisvaldo Viana.
Na década de 60, a bula papal redigida por João 23 estabelecia o desmembramento da Diocese de Assis em uma nova região administrativa. O crescimento populacional da Alta Sorocabana e do Pontal do Paranapanema mostrava a necessidade da formação de um clero local. "Havia uma carência muito grande de padres, aqui tinha em torno de uns 20, e a maioria era de estrangeiros", conta o segundo reitor da casa, monsenhor Expedito Pereira Cavalcante.
Com a instalação da nova diocese, dom José de Aquino Pereira veio de Dourados (MS) com a missão de encaminhar a construção de um seminário. Naquele período, a igreja passava por uma reforma litúrgica, na qual previa sua adaptação à sociedade contemporânea, marcada pelo questionamento e a descrença das tradições católicas. "Era um período pós-conciliar, em que muitos seminários estavam fechando as portas e as vocações, desaparecendo", lembra o ex-seminarista Lucas Gois de Campos.
Mesmo assim, dom Aquino lançou-se ao desafio de tornar concreto o projeto que representava a esperança da diocese. Escolheu homens e mulheres para erguer a obra em um terreno de 10 alqueires, situado na zona suburbana da cidade. "Ele formou equipes de Pastoral Vocacional. Essas pessoas eram colaboradores diretos dele, na parte financeira, de manutenção, de campanhas que se fazia para a construção", completa o padre Jerônimo Gasques.
A diocese tinha pressa! Após o lançamento da pedra fundamental, em setembro de 1963, o empreendimento seguiu adiante. Leigos, dos mais importantes até as pessoas mais simples da sociedade, colocavam-se a serviço da arrecadação material e com o pouco doado aqui e ali, a primeira ala do seminário foi inaugurada no dia 19 de março de 1966, mesmo ainda inacabada. "Era quase que uma aventura estar ali dentro, enfrentando tantas coisas e isso não era para nós motivo de desânimo", recorda o segundo reitor padre Antônio Ilário Felici.
Os sinais de uma vida simples, com características rurais, deixava clara a formação humana desenvolvida ali dentro desde a abertura. "O seminário era completo para nós, tínhamos diversão, tínhamos oração, tínhamos alegria. Era um momento importante para a nossa vida formativa", afirma o ex-seminarista padre Silvio Costa de Oliveira.
Sustentada no tripé oração, trabalho e estudo, a casa possibilitava muito mais do que o discernimento e a orientação vocacional, as experiências vividas no seminário deixaram marcas positivas na historia de todos que passaram por lá. "Naquele momento foram plantados a semente de todos os valores e os princípios que permeiam a minha vida. São esses valores e princípios que eu procuro passar para os meus filhos e que permitiram que eu me tornasse o ser humano que sou hoje", conta Rildo de Jesus Nantes Cunha, que foi seminarista de 1984 a 1988.
Com meio século de existência, 1.045 jovens passaram pelo seminário, com uma taxa de seminaristas ordenados que chega a cerca de 9%. "O que, indubitavelmente, pode ser considerado um percentual excepcional, quando os relatos e os registros específicos dão conta que apenas 3,5% dos seminaristas perseveram e chegam ao sacerdócio", conforme afirma o padre Éverton Aparecido da Silva.
Dentro desta expectativa, e recém-ordenado no dia 13 de maio, padre Rafael Adreatta, diz que cada um dos padres e professores que sempre estiveram com ele nessa caminhada foram essenciais para a conformação vocacional. "Eu entrei no seminário um adolescente e saí como um adulto. No total, foram 11 anos, quatro em Presidente Prudente e sete em Marília. A cada dia eu tinha mais certeza desse chamado. Até que na última sexta-feira isso se confirmou com a ordenação", declara.
Ele ainda comenta que antes de uma formação como padre, é necessário que o aluno se torne um bom homem. "O seminário é uma instituição que marcou profundamente minha vida. Não só pelo fato de me formar como sacerdote, mas, sobretudo, pela formação humana que recebi nos quatro anos que passei por aquela casa, de 2005 a 2008", conclui.
Porém, mais que direcionar homens ao sacerdócio, o Seminário Diocesano "Nossa Senhora Mãe da Igreja" tem a função de trabalhar com a formação pessoal de cada um que se propõe ao estudo. Um exemplo disso é o empresário Raulmar Benko Guerra, que apesar de não ter descoberto a vocação ao sacerdócio, conta que os dois anos que passou pela diocese como aluno "lhe serviu para uma criação completa de um homem de bem e um bom pai de família".
"Eu cheguei ao seminário com 12 anos e, apesar de não ser comum para um garoto desta idade, ali eu me sentia completo e reconhecia o acolhimento que eu recebia. Para mim era como a continuação da minha família." Hoje, com 57 anos de idade, Raulmar acrescenta que a experiência proporcionada pelos ensinamentos do seminário foi o alicerce de vida, no qual ele poder pautar, dali em diante, o formato de homem que ele deveria ser perante a sociedade.
Nestes 50 anos, entre leigos e sacerdotes, padre Éverton ressalta que não se deve apenas reviver a história, mas sim deixar claro a verdadeira missão: "preparar homens que tenham a consciência dos deveres de amor e união à sociedade e, principalmente, a fé para com Deus".
SERVIÇO
AOS INTERESSADOS
No dia 27 de maio, o Seminário Diocesano de Presidente Prudente terá mais uma etapa das comemorações do Jubileu de Ouro com o lançamento do videodocumentário "Eis-me Aqui!", produzido em parceria com a Facopp (Faculdade de Comunicação Social de Presidente Prudente), da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista). Será às 19h30, na sala de cinema Condessa Filomena Matarazzo, no Centro Cultural Matarazzo.