Manhã ensolarada e os raios de sol vão beijando as nuvens colorindo a Cidade Maravilhosa. As mulheres nas praias sentem que são a garota de Ipanema. Na famosa Rua Barata Ribeiro em Copacabana, os restaurantes, como o tradicional Cervantes, aberto em 30 de julho de 1955 por Hamuss Zalman, vão servindo os melhores sanduíches na cidade cheia de encantos mil.
Meu irmão Roy, no auge da sua juventude, vai vivendo no universo carioca, estudando Educação Física na Universidade Gama Filho. Adorava assistir aos domingos o campeonato de futebol de areia na Rua Figueiredo Magalhães no bairro de Copacabana, um verdadeiro caldeirão do diabo, onde o lendário time do Juventus do temido zagueiro Pinduca, um dos primeiros lutadores de "Vale Tudo" do Rio de Janeiro, impunha respeito nos adversários.
O jogo entre Juventus x Real Constant, do craque Geraldo Gancho e do vigoroso zagueiro Paulo Romero, o Parrumpa, era um confronto de gigantes, como uma final de Copa do Mundo. O samba de Monarco e Walter Rosa vai saindo na batida do pandeiro do Roy: "Tudo que quiseres lhe darei oh flor/ menos meu amor"... Domingo tem Zico no Maracanã. O futevôlei do craque Renan, considerado o Pelé desse esporte e que possui uma beleza plástica indescritível, vai se misturando com as pipas que vão sambando no ar.
O craque Magal, também considerado o Pelé do futebol de areia, embeleza esse cenário nas praias cheias de encanto e de amor. A bola em seus pés deixava a vida mais bela. A nobreza de uma porta-bandeira se funde na elegância de um mestre-sala ao som da bateria de Padre Miguel. Roy já falava lá nos idos dos anos 70, um vôlei jogado com os pés. Ninguém acreditava e por fim ele fez um torneio de futevôlei no Prudenshopping, aqui na nossa aldeia sagrada, fazendo uma quadra de areia e trouxe o amigo Renan e Magal. Foi um torneio histórico que introduziu o futevôlei na região da Alta Sorocabana.
Os personagens do cotidiano carioca são Sui Generis. Um deles é o icônico Cícero "Boca Livre" que me foi apresentado pelo meu irmão na quadra do Salgueiro, que figura. Nunca pagou um centavo nas festas lendárias do famoso Chico Recarey. Entrava nos bares e no calor carioca, pedia uma garrafa de água e saía normalmente sem pagar. O garçom saía do bar para cobrá-lo e ele na maior cara de pau respondia: "Água vem da natureza". Está ai a explicação da origem que Cícero ganhou merecidamente a alcunha de "Boca Livre".
Entre esse universo dos amigos do Roy, relembro do Criollo, o típico carioca da gema, e também um apaixonado pelo futevôlei, sendo um dos precursores da modalidade junto com o Pará. Roy estava no apartamento do Criollo assistindo o “Globo Esporte”. Criollo está na sacada olhando o movimento nas ruas. De repente ele fala: Roy vem rápido aqui. Roy, Roy. O que foi? Vem cá rápido. Ué o que está acontecendo? Vem cá rápido pô. Roy levanta do sofá e vai até a sacada. Que foi? Criollo ainda surpreso diz: Olha aquele malandro lá embaixo. Roy presta mais atenção e vê vários pombos passeando na calçada e um cara com uma mochila nas costa. O que é que tem? Pô Roy, presta atenção. Olha a rapidez desse malandro.
Roy se inclina na sacada para ver melhor o que o Criollo estava observando. O tal malandro armava uma armadilha para os pobres pombinhos. Um barbante camuflado funcionava como uma armadilha mortal. Na hora que os pombinhos colocavam um de seus pezinhos no pequeno círculo do barbante, o malandro numa rapidez incrível de um de The Flash, puxava e os colocava na mochila. Que rapidez. Criollo fazia parte de uma parada que protegia os animais e ficou indignado com essa atitude covarde desse tal malandro. E continuou: Roy, o FDP só pega as pombinhas brancas e deixa as pombinhas de cor cinza e as marronzinhas. O que será que esse vagabundo vai fazer com as pombinhas brancas? Malandro que é malandro é igual bicho selvagem, qualquer barulho ele vaza. E foi o que aconteceu.
Criollo desceu rapidamente pelo elevador mais indignado que um flamenguista quando perde um jogo de goleada para o Vasco da Gama. Mas o malandro já tinha vazado. Chega no porteiro pedindo uma explicação e dando dura: Pô, Genivaldo, você não viu esse vagabundo pegando as pombinhas? Que vagabundo? Pô meu irmão, acorda, o cara estava pegando as pombinhas e só pegava as pombinhas brancas. O que será que ele vai fazer com elas? Genivaldo, que veio da Paraíba fugindo da miséria, responde: Oh Criollo, se tá doidão? O cara pega as pombinhas para comer. Nunca comeu pombinha não? Criollo fica com uma cara de espanto, olha pro Roy e diz: "Roy o porteiro tá na parada". E o carioca vai vivendo o domingo feliz.
"Há os que vão pra mata
Pra cachoeira ou pro mar
Mas eu que sou do samba
Vou pro terreiro sambar
Oh, vem amor..."
Persio Melem Isaac, empresário e cronista aos domingos em O Imparcial. Contato: [email protected]
Magal e Renan
Roy e Monarco