Ao acordar já sentia as dores, aquelas, nauseabundas, etéreas, do viver mesmo. O longo dia pela frente, as horas enfadonhas, o não desejo pelas coisas, uma desolação sem motivo, algo como uma tragédia psíquica tomava conta do rapaz, que passava as segundas-feiras assim, insólito. Era tristeza também, mas leve, no geral, toda a questão parecia pertencer a um sentimento de angústia profunda, indeterminada, apesar disso.
Era curioso o fato de que o sentimento se abatia de maneira feroz sempre às segundas-feiras, nunca em outros dias, o que conferia ao drama uma certa razão de ser, algo ligado à especificidade dos dias em nossa cultura. Sentir-se duramente abatido por uma tristeza leve, mas presente nas segundas-feiras não me parece incomum. Nesse caso, em especial, era toda a vida que se via paralisada e as dificuldades do dia a dia tornavam o problema ainda mais grave.
Levantava e como todos se dava aos afazeres, dos mais comezinhos aos mais necessários e todos aqueles ainda que se dispunham pela vida de estudante. Pensava, sobretudo, nessa questão da segunda-feira, por que nela e não na terça, mesmo na quarta, quinta ou sexta? Engraçado, na terça ia bem, um pouco melhor que na segunda, quarta e quinta era como se estivesse tudo bem, e mesmo na sexta, dia de certa excitação com o final de semana, que logo se frustra, por sinal, o bom humor quase sempre é substituído pela angústia, aquela, da segunda, mas é passageiro.
Nos finais de semana não pensava nisso, a não ser domingo, no final do tarde e começo da noite, quando se via tomado desse sentimento do viver, uma insatisfação com essa absurdidade. Vinha, desde a adolescência, em busca de razões para tanto e buscava respostas em todos os lugares. Na religião, não as encontrou, pouco se aproximou dela. Como estudante, lia de tudo, filosofia, física, literatura e poesia, se encantava, mas em nenhuma dessas páginas havia resposta. Ela estava sempre ali, como presença, junto com ele, determinada e indeterminada.
Nos dias em que as coisas iam bem, gostava de estar com os outros, cuidando, se preocupando, e sempre que podia tocava no assunto, ouvia opiniões, fazia perguntas, ponderava, analiticamente anotava em sua memória a fala de amigos, colegas, conhecidos. As conversas o confortavam, de forma passageira, todos os dias, menos na segunda-feira. Alguns se preocupavam com ele, outros apenas notavam sua excentricidade, afinal, seus sentimentos são comuns a muitos de nós, todos os dias, não apenas nas segundas.
Interessante é que todos vivem assim, sem respostas, e são muitos poucos como o jovem estudante, que vive a aflição da falta delas. A maioria segue com seus afazeres cotidianos, sofrendo e encarando a realidade como se fosse assim que deveria ser, sem se perguntar as razões desse existir. A angústia e o absurdo da existência perpassam a cabeça desse espírito frágil e inquieto, mas, é próprio do ser a inconstância do devir e amanhã é o dia. Para ele, a dúvida do existir é o que o faz viver, autenticamente, nessa sua historicidade.