Segredos do milho

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 30/06/2024
Horário 05:06

Quando chega o frio, além das sopas, tenho predileção pelos pratos feitos com milho. Especialmente as polentas tal como saem da panela. Sem molho ou com molho, combina com frango assado, carne assada ou ensopada. Não gosto de usar o pó de polenta semipreparada. Sei que é mais fácil, mas é relaxante seguir o preparo tradicional. Dissolvo o fubá na água fria, mexendo bem para não encaroçar. Levo ao fogo brando mexendo sempre até engrossar. E fico ali com meus pensamentos. 
Queria experimentar aquele prato tradicional lá da região norte da Itália, especificamente da Lombardia e Vêneto. Por onde vou encontrar polenta? Na Croácia, Eslovênia e Romênia? Nas comunidades de descendência italiana em diferentes partes do mundo, como nos Estados Unidos. Brasil, Argentina, Uruguai e Austrália?
Fico imaginando como o milho chegou tão longe. Foram os agricultores primitivos da América Central que cultivavam o teosinto (uma gramínea selvagem ancestral), os responsáveis por um processo de seleção artificial que resultou no desenvolvimento do milho ao longo de milhares de anos. São os povos ameríndios os verdadeiros guardiões de um acervo genético precioso. O milho é um dos alimentos sagrados Guarani Mbya! Sua plantação é fértil nas regiões em que os Guarani costumam viver. Eles preservam diversos tipos. Tem aquele com espiga de grão vermelho/roxo, o de grão preto (azulado), de grão branco; de grão amarelo e, por fim, o grão pintado que é o da espiga com todos essas cores misturadas na mesma espiga. Lindo!
Curioso como no Brasil, com a herança portuguesa das festas juninas pelos rituais católicos, ao invés de se ter o trigo como objeto de celebração de plantio e colheita, foi o milho que passou a ser o centro da festa como alimento simbólico. Nas religiões de tradição africana, o milho é consagrado a Obaluaiê e Omolu, orixás das enfermidades contagiosas e de pele, atuando como potência de força, paz e cura.
Imagino o milho sendo levado para todos os lados. Foram os exploradores espanhóis que levaram o milho para o velho continente no século XV. Na Itália ele chegou durante o Renascimento. Não passava de uma curiosidade botânica e ornamental mas, ao longo do tempo, o milho desempenhou um papel crucial na alimentação durante períodos de escassez e insegurança alimentar.
Opa! A polenta começou a engrossar e a saltar da panela. Já deve estar cozida porque já vejo o fundo. Que delícia...a polenta tem um sabor único e reconhecível que é influenciado principalmente pelo fubá de milho!

 

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