Chego em São Paulo com meu amigo irmão, Dr. Pedro Marrey, o lorde prudentino. Um cara de extrema gentileza e sensibilidade e é um dos meus melhores amigos. Na manhã seguinte, vou me encontrar com o Domenico no Shopping Frei Caneca. Domenico vai representar os produtos da Thor Export que produz sais saborizados, temperos e lenhas para pizzarias e churrascos. O proprietário Alexandre quer expandir sua marca para todo Brasil e me deu essa missão. Vou cumprir com muita honra.
Combinei com o outro amigo irmão, Demétrio Zacharias, que depois da reunião com o Domenico, iríamos almoçar juntos no charmoso restaurante no prédio da Fiesp, que fica no 16º andar com uma vista maravilhosa em plena Avenida Paulista. Chego à Fiesp e já vou logo para o 13º andar onde o Demétrio está me esperando na sala de outro querido amigo, Sérgio Barbour, diretor de Relações Institucionais da Fiesp. Conheço o Sérgio há 40 anos quando trabalhamos juntos na marca de esportes Le Coq Sportif, um amigo excepcional.
Demétrio, além de um empresário bem sucedido, é diretor titular do Departamento de Ação Regional da Fiesp, onde há mais de 17 anos trabalha voluntariamente para atender as demandas do Sesi e Senai da nossa região.
Chegando ao restaurante fui apresentado ao novo presidente do Ciesp, Rafael Cervone. Na nossa mesa sentaram o Dr. Márcio Giusti, diretor da Junta Comercial e o Dr. Oziel Estevão, diretor jurídico da Fiesp/Ciesp. Degustei uma excelente fraldinha com ervas e batata soute, tomando um suco de abacaxi com hortelã, e de sobremesa um mousse delicioso de chocolate. Nos divertimos com os embates ideológicos do Dr. Márcio e o Dr. Oziel. Depois do almoço todos tinham seus compromissos já agendados. Me despedi dos amigos agradecendo o Demétrio pelo convite.
Pego o elevador, tiro o paletó e resolvo caminhar pela Avenida Paulista, a mais icônica Avenida de São Paulo. Vou caminhando devagar vendo centenas de rostos cobertos por máscaras. As várias cores de um rico cotidiano refletem como um espelho d'água em meus olhos. Ciclistas, grafiteiros, hippies, mendigos, policiais se misturam nessa avenida entre homens de ternos e gravatas. Paro em frente ao Bar e Restaurante, Charme da Paulista, de outro querido amigo, Luis Otávio, o Brasa. Um músico de rua está tocando em frente ao restaurante, “Chão de Giz”, de Zé Ramalho: "Eu desço dessa solidão/ espalho coisas sobre um chão de giz...
Um menino vem me pedir esmola, está com fome. A realidade me mandando suas balas de canhão, como poesias de concreto, mas o escudo da solidariedade me protege. Entro no Restaurante do Brasa com o menino Charles e digo a ele para escolher quaisquer salgados. Ele escolhe dois pastéis de carne, um pra ele e outro para seu irmão. A fome naquele momento é morta, o sorriso aparece nos dois meninos que me agradecem. Mas a fome tem muitas vidas e vai voltar raivosa, ela não tem humor.
Continuo minha caminhada quando um jovem implora para eu comprar doces de brigadeiro. Ele me diz: Qualquer quantia para me ajudar a pagar minha faculdade. Não sei se é mentira ou verdade, pouco me importa e acabo comprando um brigadeiro. Um cachorro da rua abana seu rabo, passo as mãos na sua cabeça e ele encosta seu corpo magro na minha perna. Seu olhar pede socorro e fico com muita pena me sentindo como um soldado sem arma numa guerra confusa e suja.
Começo a descer a Rua Frei Caneca e meus sapatos estão me machucando. Vejo adolescentes, homens, mulheres, subindo ou descendo essa rua de mãos dadas, uma pomba num voo rasante sob minha cabeça, voa apressadamente, até as aves têm pressa nessa cidade grande. Um cara que parecia estar bêbado passa por mim cantando Belchior: "Viver é melhor que sonhar"... Meus sapatos continuam castigando meus calcanhares. Chego ao apartamento da minha filha Flávia e lhe entrego o brigadeiro como se fosse um tesouro. Tiro os sapatos e meus calcanhares estão em carne viva. Minha filha vai comprar Band-Aid. Agora é esperar o jogo entre PSG e Real Madrid pelas Champions League e se preparar para mais um dia em Sampa. Vejam Vocês.