Cumprindo uma tradição que possui mais de meio século, o ritual da figueira foi conduzido por fiéis novamente ontem, Sexta-Feira Santa, em Presidente Prudente. Em busca de cura ou em agradecimento pela graça recebida, cerca de 20 pessoas se reuniram às 12h para cravar sete pregos na copa da árvore em forma de cruz, horário em que Jesus Cristo teria sido crucificado.
A simpatia é envolta por uma atmosfera espiritual extraordinária, capaz de arrebatar até os mais céticos, diante do momento de silêncio, respeito e oração. A crença é de que, ao pregar os pequenos objetos de metal na frondosa figueira, o poder da fé por trás da ação seria capaz de curar doenças como bronquites, asmas, rinites, entre outras.
Em Prudente, todo ano, fiéis cravam sete pregos na copa da figueira em forma de cruz
A imponente árvore fica praticamente escondida nos dias comuns, em meio a um matagal no Residencial Jardim São Paulo. Quem passa pela área erma sequer imagina os emocionantes relatos de cura e milagre por trás do local, sagrado para muitos. Tudo começou com o pai de Jorge Leandro Pieretti, 53 anos, que foi responsável por manter viva a tradição por cerca de 50 anos, até falecer e deixar a responsabilidade para o filho, que foi curado de uma bronquite por conta da simpatia.
Existem pessoas que fazem o ritual por sete anos, outras que vão apenas até conseguir o objetivo, algumas que passam a vida inteira indo à figueira e agradecendo, segundo Jorge. "É o poder da fé das pessoas que resulta na cura, e não o ato de cravar um prego em um pedaço de madeira", esclarece.
Aparentemente, a herança do ritual está garantida na família. Gabriela Giani Pieretti, filha de Jorge, levou seu bebê para testemunhar pela primeira vez o momento que passará a fazer parte de sua vida ao longo dos próximos anos, como ocorreu com sua mãe, que inclusive foi curada de uma rinite após a realização da simpatia.
O número de participantes tem diminuído conforme o tempo passa, segundo ela. "Não acho que seja apenas um desapego da fé, mas uma junção de fatores. A figueira original era em outro espaço, e não fazemos o ritual mais naquele lugar. Além disso, houve protestos nos últimos anos, o que também influencia um pouco", declara Gabriela.
Mas ainda há quem mantenha a fidelidade na ação, como é o caso da manicure Rubian Carla Gomes, 28 anos. Esse foi o sexto ano que ela cravou pregos na figueira, para agradecer pela cura da bronquite de seu filho. "Em 2018 fecham os sete anos e eu cumpro o ciclo, mas ainda assim continuarei vindo, para pedir por bênçãos e curas a outras pessoas e agradecer".