Reunião sertaneja

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista que não tem conta secreta na Suíça e nem em Xiririca da Serra

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 18/06/2023
Horário 05:30

Toda segunda-feira, principalmente de tarde, era batata: lá estavam eles reunidos em animadas conversas em um bar no Largo do Paissandu, no belo e majestoso centro velho de São Paulo. Eles eram donos de circos e artistas sertanejos, que acertavam shows nos fins de semana, como testemunhei no fim dos anos 60.
Os shows eram negociados entre uma cachacinha, uma cervejinha e também entre goles de café. Duplas, sanfoneiros e outros artistas compareciam em peso ao bar. Afinal, era preciso garantir o leite das crianças.
Os cachês eram modestos e, quando chegava sexta-feira, eles viajavam, principalmente, para cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Que eu saiba, pouquíssimos artistas sertanejos, aqueles da música de raiz, ficaram ricos.
Até mesmo a dupla mais famosa, Tonico e Tinoco, não fez um pé-de-meia robusto para garantir a sobrevivência na velhice, a "melhor" idade (quem foi o cara-pálida que criou essa bobagem?). Com quase 90 anos, Tinoco, após a morte do Tonico, ainda se apresentava em circos modestos para ganhar uns caraminguás.
Hoje em dia os novos "sertanejos", com cachês milionários, estão por cima da carne-seca e até da carne molhada. É bem capaz que uma dupla de ponta, como, por exemplo, Fernando e Sorocaba, ganhe em cinco shows o que Tonico e Tinoco ganharam em toda a carreira.
Eles se apresentam em festas agropecuárias, principalmente rodeios, e estão cada vez mais ricos, com fazendas, carrões e aviões.
Além dos artistas sertanejos, também me recordo de outras atrações no Largo do Paissandu, como os dois cinemas desse, digamos, logradouro público. Um dos cinemas era o Cine Paissandu, grandão (no sentido de espaçoso) e imponente.
O outro cinema era o Cine Ouro, uma sala que posso tachar de sofisticada. Tinha até pianista. Ele tocava antes do início dos filmes. Também no Cine Ouro assisti a um show do cantor chileno Antonio Prieto, famoso à época graças ao sucesso da bela canção "Cuando Calienta El Sol". 
É no Largo do Paissandu que ficam a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e a Igreja Luterana, esta bastante atingida pelo incêndio que destruiu o edifício que abrigava mais de 300 sem-teto.
O desabamento de um prédio, alto ou baixo, deixa todo mundo assombrado. Tão terrível quanto a tragédia é a opinião de certas "otoridades". Uma delas disse que havia comércio de drogas no prédio e insinuou que os moradores foram os culpados pela tragédia. 
Outra "otoridade" simplesmente foi escorraçada. Gente do povo botou esse sujeito para correr. Falta de sensibilidade social desse energúmeno. O centro velho de São Paulo é belo, mas há muito tempo está abandonado. Será que um dia será revitalizado? Chamem os arquitetos. Eles são do ramo. 

DROPS

Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo.
(Luiz Gonzaga Belluzo, economista)

Brasil, fraude explica.
(Carlito Maia, publicitário)

O avião é moderno, mas o trem de pouso ainda é maria-fumaça.

Chegou a época do ranger de dentes e não é por medo do dentista.
 

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