Restaurante chinês

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 08/03/2025
Horário 04:03

Me vi sentado no chão, em tatames individuais, de pernas cruzadas, em posição de lótus, em volta de uma mesa grande, com 6 lugares e no máximo 40 cm de altura. O ambiente não era escuro, antes tinha uma luz amarelada, de tom pastel, com algum incenso no ar. Todos tomavam seus chás e falavam mandarim, eu supunha. Observei melhor e notei que eu era o único ocidental ali. Os convivas sorriam sempre e faziam reverência com a cabeça enquanto escutavam seus pares, parecendo concordar com o que diziam de forma bastante cordial. 
Provei do chá, cuja xícara ainda exalava vapores doces, mas de aromas suaves. Tentava compreender o que diziam, mas era impossível, a não ser por certas nuances que pude captar nos sorrisos e na cordialidade extrema. As paredes eram de tom alaranjado, de uma laranja desbotado, com enfeites decorados com folhas de bambu, com ideogramas no seu centro. Me sentia confortável, apesar daquela situação certamente inexplicável. Os presentes me faziam participar da conversa, sorrindo e me servindo mais chá. Eu apenas aceitava e retribuía os sorrisos e por alguns instantes posso dizer que me sentia em casa. 
Uma jovem garçonete, de cabelos muito lisos e pretos, trouxe Bolos da Lua, que serviu em pratinhos de porcelana branca ricamente decorados. Todos aguardaram ela terminar de servir e só degustaram a iguaria depois que ela deixou a sala. A jovem sorria delicadamente enquanto nos servia, reverenciando cada um dos presentes com uma leve agachada no seu corpo. Me sentia especial, naquele instante, e não me preocupava com o absurdo de estar ali. Do meu lado esquerdo havia um senhor, que aparentava ter uns 80 anos. Do lado direito, um jovem de não mais de 25. Os dois entreolhavam-se e pareciam que falavam a meu respeito, pois olhavam em meus olhos enquanto falavam. O jovem, então, virou-se para mim e perguntou, com um perfeito inglês de sotaque britânico:
- O que tem achado da sua visita a Pequim? 
Não surpreso, mas de certa forma desconcertado, pensava no que dizer, mas me sentia pressionado com o fato de que todos viraram suas atenções para mim, inclusive e principalmente, o octogenário ao meu lado, que parecia atento e ansioso pelo que poderia dizer. Respondi o que me vinha à cabeça: 
- Sim, estou muito feliz de estar aqui, podendo rever parte de um mundo que hoje não me pertence mais. Tenho profunda admiração e respeito pelo Oriente, de modo que tenho aproveitado cada segunda da minha curta estadia. O aprendizado é constante e mesmo agora me sinto lisonjeado pela atenção e carinho que todos me dispensam. 
- Sim, pessoas como você são sempre muito bem-vindas entre nós. Podemos dizer que também estamos felizes com sua presença, respondeu o jovem, que parecia mesmo bastante satisfeito. Os presentes acompanhavam a conversa com certa curiosidade, mas com discrição e educadamente. O octogenário então disse, em mandarim, e que entendi perfeitamente: 
- O professor é um homem sagrado que nos dá o saber, a mais preciosa das riquezas; o pai dá-nos a vida do corpo, o professor a vida da alma. 


 


 

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