O Magrebe é uma região localizada no noroeste da África, que reúne países de cultura árabe como Marrocos e Tunísia, e engloba parte do deserto do Saara. Este nome em árabe significa “onde o sol se põe”.
O título do show – “Lá pras bandas do Magrebe” – se relaciona à música de mesmo nome, criada por Franco das Camélias, e que menciona uma viagem noturna pelo deserto, até o encontro de um oásis onde o músico fica: “até a onça beber água”.
“Quando surgiu essa composição, eu estava escutando bastante o Tinariwen, banda formada por tuaregues e que têm um som muito peculiar, chamado de ‘blues do deserto’. Ao mesmo tempo, na ocasião, lembrei de outro som bem diferente: a abertura da música ‘Night in Tunisia’, do Dizzy Gillespie. Isso influenciou a melodia da canção que, no fim, acabou adquirindo uma levada meio rockabilly”, explica Franco.
O deserto e o oásis metafóricos originalmente remetiam ao desafio de driblar condições áridas e encontrar terrenos férteis para a criação musical em Curitiba (PR), onde Franco morou por muitos anos. Residindo em Presidente Prudente desde 2021, o artista considera que a música ainda é atual e reflete a magia de encontrar novos parceiros e espaços para tocar no oeste paulista.
“Pessoas especiais criam oásis em meio à aridez do cotidiano nas cidades. Tenho a sorte de estar encontrando alguns oásis em Prudente”, afirma o cantor. “Nesse projeto conto com a parceria de músicos experientes, que trazem novas sonoridades para as composições. Todos são muito versáteis e disponíveis para mergulhar nessa viagem musical comigo”, acrescenta.
“É interessante a forma como abordamos a linguagem musical da península Ibérica. Soa algo regional, de Portugal, mas com outras influências. Está sendo legal tentar imprimir a minha sonoridade, mais ligada ao rock e ao blues, em cima disso”, conta o guitarrista Zé Barbosa.
“No show fazemos uma junção de vários elementos, remetendo a lugares distantes. Para mim é desafiador criar isso com a viola caipira, transitando entre a cultura brasileira e influências de outras regiões”, diz Pedro Zuquerato.
“O repertório, para mim, remete a uma onda da psicodelia nordestina dos anos 1970, trazendo nuances de outros idiomas e habitats. Essa coisa ibérica, que também tem uma influência árabe forte, faz a gente viajar dentro das histórias que são contadas nas letras”, afirma Guilherme Sala.
Os arranjos do show foram criados coletivamente e contaram também com a parceria do baterista Zé Junqueira. “Foi legal ter participado desse processo, criando junto, explorando uma versatilidade que sempre busquei. Cada um, no seu processo, foi se redescobrindo, saindo da sua zona de conforto, para contribuir com o som do Franco”, diz Junqueira.
Para Franco das Camélias, a região do Magrebe se tornou um ponto capaz de refletir diversas influências. “É uma região que está próxima de Portugal, país que inspirou várias músicas do show, especialmente relacionadas ao livro Os Lusíadas, de Camões. E, curiosamente, Camões viveu por um período em Ceuta, na região do Marrocos, onde perdeu a visão do olho direito em uma batalha”, conta Franco.
Algumas músicas do show, como “Menino cigano sem lei” e “Largo da Princesa” também apresentam uma inspiração do flamenco, que vem da Espanha, vizinha da região.
Existem ainda outras geografias e sonoridades envolvidas. Como, por exemplo, o tango argentino “Tango del naufragio miserando”, o rock/gospel “Fornos de Óbidos” e “Non glória de mandar”, inspirada no som do Movimento Armorial de Ariano Suassuna.
O show do cantor e compositor, Franco das Camélias, ocorre neste sábado, às 19h, no Espaço Laje, no Centro Cultural Matarazzo, de Presidente Prudente.