A cantora Preta Gil, 50 anos, usou as redes sociais para comunicar que o “câncer voltou” em quatro locais diferentes do corpo: dois linfonodos, uma metástase que fica no peritônio e uma lesão no ureter. Ela descobriu após fazer exames de rotina e já começou um novo tratamento. Em 2023, a cantora recebeu o diagnóstico de câncer de intestino. Uma cirurgia para remoção do tumor foi realizada em agosto e em dezembro ela anunciou o fim do tratamento após um procedimento para reconstrução de parte do trato intestinal.
O retorno do câncer após um tratamento é chamado de recidiva. O oncologista André Genaro explica que a doença pode voltar no ponto onde começou, ou pode voltar na região onde foi tratada ou em órgãos distantes:
- Recidiva local: é quando o câncer volta no mesmo lugar onde houve a primeira ocorrência da doença;
- Recidiva loco-regional: o câncer volta nos linfonodos próximos à região do primeiro câncer;
- Recidiva à distância ou metástase: quando o câncer volta em outra parte do corpo, geralmente distante de onde ocorreu pela primeira vez.
O oncologista exemplifica: “O paciente teve câncer de reto, operou, fez uma emenda, fez tratamento complementar e está em seguimento [acompanhamento]. Daí teve um sangramento, foi feito colonoscopia e mostrou que tem uma doença ainda, a doença voltou na emenda, aí é uma recidiva local, pois não mostra em mais nenhum local, daí a base do tratamento é a cirurgia, a gente vai tentar operar e tirar de novo a doença. A doença voltou em um local próximo - perto do tecido - é uma recidiva loco-regional e pode fazer quimio para estabilizar a doença e, possivelmente, uma nova cirurgia mais pra frente. A doença voltou à distância - aí tem metástase - essas metástases têm o benefício de cirurgia também - vai lá e tira a metástase e tenta tratar com cirurgia. Mas a base do tratamento da doença à distância é a quimio. Então esse paciente deve ir para tratamento sistêmico - à base de quimio ou outros modelos que podem ser utilizados, como a imunoterapia, para combater a doença que já saiu do sítio dela de origem”.
O oncologista alerta que existem outras diferenças. Além da recidiva, existe o aparecimento de um outro tumor que não é recidiva, mas o aparecimento de um tumor primário. “Não se trata de recidiva, mas o aparecimento de uma outra doença, é o aparecimento de um segundo tumor primário [câncer]. Por exemplo, o paciente teve câncer de laringe porque fumava muito. Tratou com quimio e radio, inicialmente a doença não era avançável, ele respondeu completamente o tratamento. Dois anos e meio depois, esse paciente vem com dificuldade de engolir. Após exames, foi detectado um câncer no esôfago - é um segundo tumor primário, não é recidiva. E o fator de risco é o mesmo - o cigarro - que pode dar câncer na boca, laringe e esôfago.
O oncologista ressalta que após o tratamento de um paciente com câncer, é preciso manter o “seguimento”. “Toda vez que tratamos um paciente, mantemos o seguimento – o chamado follow-up, nós vamos seguir o paciente - se ele tiver tratamento e resposta completa vamos observar, e essa observação é num período de curto tempo, nos dois primeiros anos. Então, a cada 3, 4 meses, são solicitados exames, o paciente vem no retorno e analisamos cada tipo de câncer, pois cada um tem uma característica própria”.
André Genaro explica que a base desse período é em torno de 5 anos em média. “É a média que acompanhamos o paciente e aí também depende de uma série de fatores - se a doença foi tratada e não tem mais ou se a doença ainda persiste, não temos data para dar alta. Se é uma doença tratada de baixo risco, em média, acompanhamos o paciente em 5 anos. Se a doença é tratada, mas é de risco intermediário ou alto risco, às vezes aumenta esse tempo de seguimento para 7 ou até 10 anos”.
Ainda de acordo com o médico, nos dois primeiros anos esse tempo é o mais crítico, é quando existe um risco grande das recidivas aparecerem. Já depois desses dois primeiros anos, isso vai diminuindo. “Depois dos 5 anos a recidiva diminui bastante, por isso o tempo de seguimento, em média, é de 5 anos, mas existem cânceres que podem aparecer depois dos cinco anos e essa recidiva pode aparecer também. Para os cânceres de maior risco, é feito um acompanhamento mais prolongado. Vamos supor que a paciente teve um câncer de mama e estava no estágio 3, uma doença de alto risco. Ao invés de acompanhar por 5 anos, eu vou para 7 ou 10 anos de acompanhamento, porque existem riscos mesmo que depois de 5 anos da doença voltar”.
O médico ressalta também que existem mais de 100 tipos de cânceres, e cada um tem uma característica diferente, mas todos têm duas propriedades que dão à doença a característica de câncer: uma delas é a agressão local e a outra é de se espalhar pelo corpo, que é chamado de metástase. “Alguns tipos de câncer têm agressividade menor, outros agressividade intermediária e outros agressividade alta. A gente analisa uma série de fatores como o tipo da doença, o estágio da doença, vai analisar com exames de imagem para ver se a doença só está num ponto, se a doença se espalhou, se ela é localmente avançável e ainda não espalhou, para poder avaliar o que vai ser feito de tratamento e cada tipo tem um tratamento específico: tem câncer que vai para a cirurgia direto, outros tem que fazer quimioterapia ou quimio e radioterapia antes da cirurgia e tem câncer que não opera, que só trata com quimio”. Depois da cirurgia, tem câncer que precisa de tratamento complementar com quimio ou radio ou outros tratamentos como imunoterapia”.
Cada tipo de câncer apresenta um padrão tipo de recidiva. Por isso, é fundamental seguir as orientações do cirurgião oncológico para o seguimento após a finalização do tratamento. André Genaro reforça que para cada tipo de câncer existe um protocolo para acompanhar esse paciente. “É importante ressaltar a importância do acompanhamento regular com o oncologista e uma rotina de exames periódicos, pois qualquer indício de retorno da doença pode ser mais facilmente identificado”.
Ele acrescenta que não basta apenas fazer o acompanhamento correto, mas o paciente precisa seguir uma linha de raciocínio para evitar os fatores de risco que contribuíram para o aparecimento da doença. “Paciente que fuma, precisa parar de fumar, parar de beber, se alimentar corretamente, praticar exercícios físicos, isso ajuda a diminuir também as recidivas do câncer”, pontua o especialista.
Foto: Arquivo pessoal
Oncologista André Genaro fala sobre as recidivas do câncer