Eronildes Araújo
Atletismo
"Faz tempo hein", assim o ex-velocista Eronildes Araújo deu início à entrevista, para relembrar o início e desenvolvimento da carreira. Entre os assuntos, Eron - como é conhecido no meio do esporte - falou das dificuldades enfrentadas ao longo dos anos, das principais conquistas, do tricampeonato Pan-Americano e da tristeza em ter participado de três Olímpiadas e não ter conquistado nenhuma medalha. O ex-velocista, que é nascido em Bom Jesus da Lapa (BA), ainda criança se mudou para Brasília (DF), mas fez o nome em Presidente Prudente, falou também sobre a expectativa de ser um dos condutores da tocha olímpica e sobre o projeto da Escola Eronildes Araújo de Atletismo, que espera tirar do papel em breve.
O IMPARCIAL - Como foi seu início no atletismo?
ERONILDES ARAÚJO - Foi na escola, do nada. Isso eu já vivia correndo de antes, mas sem saber que ia viver de atletismo. O professor fez um teste, eu acabei fazendo teste de 300 metros, isso na pista de terra. Ele achou bom, mas não falou nada. Depois ele veio falar comigo, que havia gostado, mas disse que não tinha condições para eu seguir lá. E me passou para outro treinador, Aí ele me apresentou para o Luiz Carlos Feijão, que foi o meu primeiro técnico.
OI - Passou por muitas dificuldades, antes de atingir a excelência?
ERON -Começo sempre é difícil. Eu fui, conversei com ele , que me pediu para voltar em algumas semanas para fazer o teste com o melhor atleta dele. Eu fiz nos 400 metros, e nesse dia eu ganhei do ‘cara’. Aí nisso ele falou se eu tinha interesse em ficar, pois eles iriam dar o passe, e eu fui ficando. Pegava ônibus lotado, da minha casa até a pista dava mais de 40 quilômetros, descia no ponto e chegava a pé, todos os dias. Mas como eu gostava, nem sentia. Com 17 anos, comecei a correr os 200 e 400 m, às vezes 200, mas os 400 era o que eu me sentia melhor.
OI - Como foi a primeira competição?
ERON -Nisso veio o primeiro torneio. Era o Jeb’s de 1987, em Campo Grande . Eu fiquei surpreso, pois nem sabia de nada. Pista de terra, e no primeiro dia eu nem fui muito bem, já no segundo dia, fui um pouquinho melhor e cheguei na final. Não sabia como devia fazer. Aí o técnico me mandou correr forte, eu fiz e ganhei, pelos 400 m. Daí em diante me animei, mas o Feijão falou que a minha especialidade era o 400 m com barreira, e mesmo não gostando de início, acabei seguindo.
Ex-velocista, que fez nome em PP, ostenta medalhas conquistadas ao longo da carreira
OI - Como chegou em Presidente Prudente?
ERON - Em 1989, eu fui para Marília . Fiquei lá um ano, mas as coisas eram meio precárias, aí o Jayme Netto me ligou, convidou para eu vir para Prudente. A pista aqui era boa, tinha mais gente para treinar, competia mais. O treinador entendia mais de barreiras, viajava com a gente, estava sempre na pista, e como o pessoal na sua maioria era de fora, além de comandante era preciso ser um pai e psicólogo também.
OI - É possível elencar a competição mais importante? Se sim, qual foi?
ERON - São três. A que abriu a porta para eu continuar foi a de Campo Grande, pelos 400. E eu segui. Para não parar de vez, e que a minha carreira decolou, foi o Pan, em 1991, em Havana, Cuba, já pelos 400 com barreiras. E daí por diante foram várias. Brasileiro, ibero-americano, entre outras. Mas a mais difícil foi a do Pan, que eu fui tri, em 1999, disputado no Canadá. Eu tinha vencido em 1991, e 1995, na Argentina. Aí a pressão para eu ganhar estava maior. A cabeça ficou a mil, mas ganhei e deu tudo certo.
OI - Não conquistar uma medalha olímpica te deixou frustrado?
ERON - Frustrado não, mas fiquei triste. Foram três olímpiadas, fiz o que pude, treinei o que me deram para treinar. Mas com certeza, se tivesse tudo o que os americanos têm, para um atleta olímpico, teria todas as condições. Quem me acompanhou sabe, eu sempre estava entre os principais atletas.
OI - Como enxerga a situação do atletismo nos dias de hoje?
ERON - Na minha época tinha a gente, aí veio o pessoal medalhista olímpico, aqui só falava em atletismo. Aí foi caindo, a gente se aposentou, mas não veio ninguém. Sei lá se é culpa, ou falta de união, técnico, federação. Eu sou recordista juvenil desde 1989. No brasileiro faz 15 ou 20 anos. Acho que falta ambição do atleta também, as coisas são muito mais fáceis do que na minha época. Falta a confederação, que precisa levar o pessoal para a Europa, fazer um camping.
OI - Qual a sua expectativa para ser um dos condutores da tocha olímpica, em Prudente?
ERON - Eu recebi um e-mail do Bradesco e estou esperando. Estou confiante e espero que eu seja escolhido. Se não for, eu vou ficar chateado, pois com a história que eu tenho, não tenho dúvida que merecia ser um dos representantes de Prudente.
OI - O que o esporte representa na sua vida?
ERON - É tudo. A importância é muito grande. Financeiramente, conduta, nunca mudei. Tanto que construí a minha família pelo atletismo. E graças a Deus não há nada, nem ninguém que tenha nada para falar de mim. Acredito que é necessário persistência e nunca desistir do sonho. Por mais que alguém possa te atrapalhar, tem que correr atrás, mudar de local, que uma hora vai dar certo. Eu, em momento algum da minha carreira, pensei em desistir. Nem no momento mais difícil, que foi quando fiz uma cirurgia em 1997, eu deixei de acreditar, e sempre acreditei que ia voltar em bem.
OI - Qual seu grande sonho no esporte?
ERON - Quando eu estava parando, sempre quis mexer com criança e nunca deu certo. Aí parei. Agora, conheci um empresário, e ele gostou da ideia, e está me ajudando. Criança, jovem, adulto até mesmo com idoso. Estamos vendo estatuto do projeto, sendo bem assessorado para buscar também dinheiro e criar uma boa estrutura. Vai se chamar: Escola de Atletismo Eronildes Araújo.