Seja no ambiente acadêmico ou na esfera profissional, a ideia de falar em público pode deixar adultos ou jovens em pânico. Na faculdade, os universitários precisam, mais do que nunca, colocar a sua timidez à prova e desafiar a si próprios durante a apresentação de seminários e defesa do temido TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Para driblar este medo, que pode despertar reações físicas e emocionais, há quem busque o apoio de um psicólogo ou até mesmo invista em cursos de teatro. Conforme o professor de teatro, Denilson Biguete, ambos, no entanto, não devem ser confundidos. Isso porque enquanto o atendimento psicológico tem finalidade terapêutica, a experiência teatral deve sempre ser encarada como um ofício.
A psicóloga Lara Casarotto explica que o medo de falar em público também pode ser chamado de fobia social e normalmente se dá em pessoas que possuem baixa autoestima e evitam ao máximo receber qualquer tipo de crítica. Os motivos que as levam a ter o nível de ansiedade tão elevado são diversos e dependem da estruturação cognitiva de cada uma. O que a profissional destaca como importante de ser compreendido é que a adolescência é uma “fase complicada”, tanto para quem vive quanto para quem está ao redor do jovem, portanto, é necessário sempre conversar e tentar entender o que tem travado a pessoa. “Muitas vezes, há outras coisas envolvidas, como um caso de bullying sofrido, por exemplo”, menciona.
TODO APOIO É VÁLIDO
Lara denota que a dificuldade para falar em público pode ocorrer em qualquer ambiente em que o orador seja colocado de frente para um grupo de pessoas, sendo que, às vezes, não precisa envolver nem mesmo uma multidão. Dois ou três ouvintes já são suficientes para que a ansiedade se eleve. “Pode ser que alguns locais sejam mais difíceis de lidar do que outros. Isso diz respeito às pessoas que estão lá e as marcas na história deste orador”, esclarece.
Nesse contexto, o procedimento adotado por psicólogos no tratamento do problema é a psicoterapia semanal, associada ao envolvimento do paciente em outras atividades coletivas, como esporte, atividade física, curso cultural, ioga e meditação. Ela argumenta que lidar com o público também ajuda, o que pode iniciado aos poucos e ampliado conforme a pessoa se sentir confortável e conseguir dominar melhor as relações sociais. “O importante é tentar encontrar formas de não se isolar cada vez mais e não se fechar em seu mundo, mas encarar de frente, buscando todo o auxílio possível”, ressalta.
OPORTUNIDADE DE SOCIALIZAÇÃO
Denilson salienta que o teatro, por si só, é uma linguagem coletiva que só pode ser exercitada em grupo e, justamente por este motivo, pressupõe o desenvolvimento da socialização. Outro aspecto é que o palco é o lugar da comunicação, desta forma, conclui-se que qualquer pessoa que busque esse artifício quer se expressar. Ao ser inserido neste ambiente, portanto, o indivíduo se encontra diante de conflitos e obstáculos pessoais cujo elemento fundamental são os medos, seja de acertar, de não executar da forma correta ou de ser julgado por isso.
Nesse sentido, as práticas teatrais oferecem aos alunos a possibilidade de se colocar em situações-limite e superarem os próprios desafios. Este processo, contudo, não ocorre da noite para o dia. “Depende muito das vivências, do repertório de informações e do conhecimento da pessoa, que passa a se desenvolver gradativamente. Muitos chegam aqui sem nem conseguirem falar e, aos poucos, vamos trabalhando a sua respiração, foco e atenção”, expõe.
COMO SE PORTAR
O mestre de cerimônias Ricardo Barcelos ministra aulas de como falar em público e, baseado em suas experiências em sala de aula, defende que não há uma fórmula para que as pessoas sejam bem-sucedidas nesse quesito, tendo em vista que é preciso analisar caso a caso e detectar quais são seus entraves e necessidades. Segundo ele, uma pessoa comunicativa pode sofrer um bloqueio ao ser submetida a uma situação em que precisa se expressar para um grupo de pessoas, assim como alguém que já domina a oralidade em público pode encontrar dificuldades no momento em que lhe dão um microfone.
De qualquer modo, o docente traça algumas dicas básicas para facilitar a apresentação, ter mais segurança e aliviar a tensão, tais como conhecer o conteúdo que será abordado e saber aliá-lo aos recursos multimídias; organizar o discurso em tópicos, sempre preocupado com o tempo disponível e com a ordem correta das mensagens; conhecer o público; adequar a linguagem; e ter uma boa postura.
PERFIL
Arquivo pessoal/Cedida
Nome completo: Gustavo Moraes Zattoni
Idade: 21 anos
Curso: Engenharia civil
Faculdade: Unoeste (Universidade do Oeste Paulista)
Cidade de origem: Bauru (SP)
O Imparcial: Quais os motivos que o levavam a ter vergonha de se expressar em público?
Acredito que o principal motivo foi a minha ansiedade, pois sou ansioso demais. Além, claro, do medo de não conseguir prender a atenção das pessoas e ficar falando para as paredes e de que elas zombassem da minha voz ou de algo que eu fizesse.
Quando você percebeu que o teatro poderia lhe ajudar nesse sentido?
Percebi em torno dos meus 17 anos, quando eu estava prestes a entrar para a faculdade. Sempre gostei bastante de jogar RPG [role-playing game], que bate muito na questão da interpretação. Isso me fazia bem, mas eu percebia que não conseguia ficar à vontade nem mesmo com as pessoas com quem eu tinha amizade. Então esse foi um dos motivos de eu querer fazer teatro. Por mais que a ideia fizesse com que eu me sentisse nervoso, me deixava animado.
As primeiras experiências dentro do curso foram difíceis?
Muito difíceis, pois o seu corpo não está acostumado a isso, sendo assim, ele estranha bastante. Isso porque o seu corpo demorou anos e anos para se tornar o que é e adaptá-lo é um pouco complicado. Deixo os créditos dessas palavras para Denilson Biguete, pois foi ele que me fez entender isso. Inicialmente, eu tinha dificuldades para me expressar tanto na fala quanto por meio de gestos corporais. Minhas palavras saíam enroladas e o corpo ficava travado, além de suar muito.
Quando você começou a sentir que estava evoluindo? As dificuldades ainda existem?
Eu iniciei o teatro há pouco tempo. Embora eu sempre tenha tido muita vontade, as pressões do vestibular e faculdade nunca deixaram. E me arrependo, claro. Devia ter corrido atrás antes, pois está sendo bom demais para mim. Apesar de ainda encontrar dificuldades, comecei a notar a evolução em torno de semanas após ter ingressado no curso. No entanto, está sendo uma evolução bem gradual.
Você acredita que as técnicas aprendidas devem refletir na sua vida acadêmica e profissional?
Sem dúvidas. Ajudam demais tanto nos seminários da faculdade e nas entrevistas de emprego quanto na vida pessoal, seja na formação de amizades ou na interação com outras pessoas. Além, claro, de refletir muito no nosso próprio autoconhecimento, pois nos ajuda a ter autocontrole e conhecimento de nossas emoções.
Neste processo de vencer a timidez, qual foi a técnica que você achou mais interessante?
Acho muito interessante quando o Denilson pede para representarmos emoções com o nosso próprio corpo. Pode parecer confuso, mas na hora sai. Também gosto muito da improvisação, que é algo que se bate muito na tecla.
Você também cogita participar de espetáculos teatrais?
Penso nisso com certeza. O interessante é que não entrei com o objetivo de participar deles, mas essa vontade se desenvolveu. Já ouvi muitos casos de pessoas que entraram para vencer a timidez e gostaram tanto que quiseram participar de espetáculos. Acredito que faça parte do processo.
DICA DE FILME
Divulgação
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)
O filme francês acompanha a personagem homônima que, desde a infância, foi privada de relações sociais, uma vez que seu pai suspeitava que a filha tivesse sérios problemas cardíacos. Ao chegar à idade adulta, Amélie começa a trabalhar em uma cafeteria e, embora mantenha amizades no ambiente de trabalho e na vizinhança, ainda se mostra introvertida e antissocial – muito resguardada em um universo particular que parece ter criado justamente para se sentir menos solitária. Tudo começa a mudar quando a jovem encontra uma caixinha escondida no banheiro de sua casa e resolve procurar o antigo morador do imóvel para devolvê-la. A emoção com a qual ele recebe a relíquia incentiva Amélie a ajudar outras pessoas a partir de pequenos gestos.
AGENDA
INSCRIÇÕES ABERTAS
Curso de Interpretação Teatral
Local: Centro Cultural Matarazzo
Endereço: Rua Quintino Bocaiúva, 749 – Vila Marcondes
Telefone: 3226-3399
Horário: De segunda a sexta, das 8h30 às 19h; e aos sábados, das 8h30 às 13h
Preço: Valores sob consulta
Atividade: O Centro Cultural Matarazzo está com inscrições abertas para o Curso de Interpretação Teatral para o segundo semestre, sendo que as aulas têm início em 4 de agosto. As turmas são divididas por idade (6 a 11 anos; 12 a 17 anos; acima de 14 anos; e acima de 18 anos) em quatro horários. O curso faz parte do Programa de Formação Sociocultural e Artístico da Secult (Secretaria Municipal de Cultura) de Presidente Prudente.
ATÉ 27 DE JULHO
Oficina de Técnica de Improvisação Teatral
Local: Centro Cultural Matarazzo
Endereço: Rua Quintino Bocaiúva, 749 – Vila Marcondes
Telefone: 3226-3399
Horário: De segunda a sexta, das 8h30 às 19h; e aos sábados, das 8h30 às 13h
Preço: Grátis
Atividade: A oficina pretende abordar os princípios básicos da improvisação teatral por meio de jogos e exercícios clássicos, tais como escuta, aceitação, motores, associações livres e imediatas, protagonismo e apoio, avançar/expandir e história compartilhada. Para a formação de uma turma única, são disponibilizadas 25 vagas para interessados acima de 16 anos. As aulas ocorrem de 1º a 10 de agosto, de segunda a sexta, das 19h às 22h; e aos sábados, das 14h às 16h.
NO TEATRO
Mainara Screpanti/Cedida
Mainara Screpanti e Taline Coelho em “Mary Poppins”, em Presidente Epitácio
Amanda Monteiro/Cedida
Vitória Monteiro em “Malévola”, em Presidente Venceslau
André Silva/Cedida
André Silva em "Estrangeiros", em Rancharia