Há aproximadamente dois meses, uma das grandes preocupações que assolavam famílias e escolas de todo o país era um cenário de violência extrema a que alunos poderiam estar expostos. Os episódios de ataques a unidades escolares pelo Brasil levantaram a discussão sobre a importância de fortalecer a abordagem do diálogo das famílias com as crianças de seus convívios. O assunto ainda causa dúvidas entre muitos pais e responsáveis, que não sabem como abordá-lo em casa.
Diante da complexidade e delicadeza do assunto, a reportagem contatou o psicólogo de Iepê, que atende clientes de todo o Brasil e fora também, Guilherme Monteiro, que é especialista em Arteterapia e Saúde Mental, pós-graduado em psicodrama, para conversar a respeito. “Essa temática é de grandessíssima importância para ser tratada tanto no ambiente institucional, quanto social, familiar, porque é muito delicada, é um cenário que realmente assusta”, expõe o profissional.
Ele diz que vem percebendo dentro dos atendimentos que realiza que este é um tema que tanto pais, quanto as instituições têm algumas dificuldades se abordam ou não, e de que maneira. “Eu explico que precisam falar sim o que está acontecendo e de forma direta. Claro que de maneira acessível, com aquela adaptação da comunicação em relação à idade, à maturidade da criança. De maneira cuidadosa”, explica o especialista.
Guilherme diz que precisa ser dessa forma para não haver movimentos que causem ansiedade, uma preocupação e também sempre incentivando a criança à expressão dos sentimentos de que ela pode sim sempre levar aos pais e o que podem fazer caso estejam em um ambiente que estejam se colocando em risco. “Hoje escolas realizam treinamentos com os funcionários, com os alunos, então, é realmente fazer a informação chegar às crianças, aos adolescentes de forma acessível, sem exageros, de forma clara, real. Assim como outros vários perigos que podem acontecer, e novamente reforçar o afeto com essa criança”, acentua o psicólogo.
Com os acontecimentos foi comum ver pais preocupados, sem saber o que fazer. E como administrar situações de pânico e receio por parte das crianças causadas pelas atuais circunstâncias? Guilherme destaca que a comunicação é a chave de toda questão dificultosa. Agora, quando o pai percebe que o filho está com dificuldade, está se sentindo ansioso com estas situações, precisa reforçar as informações de forma precisa, clara, do que está acontecendo. Como isso: fazendo com que a criança entenda, que é sim uma realidade que está acontecendo, infelizmente, mas que todos os ambientes estão passando por adaptações.
“O tema está sendo discutido pela sociedade de forma mais cuidadosa, as instituições estão percebendo a importância de trabalhar isso. A orientação também é observar qual o contato que a criança está tendo com as mídias sobre essa temática”, salienta o psicólogo.
A exposição em excesso, conforme Guilherme, pode sim gerar ansiedade, causando grande desconforto na família, a ponto de não querer mandar mais a criança para a escola, assim como na escola a criança perder o foco e ter prejuízo em relação ao que está sendo ensinado. Segundo ele, uma prática de relaxamento também é bem bacana; uma rotina legal de alimentação; um espaço adequado para que seja abraçada. “Identificar esses sinais é difícil quando se tem essa barreira. Então, pais e responsáveis próximos atentos podem, a partir de um bom convívio familiar e social, conseguir constatar esses pequenos indícios e fazer os encaminhamentos corretos aos profissionais, como a um psicólogo, por exemplo”, frisa o profissional.
Nesse sentindo, o psicólogo Guilherme diz que consegue falar em família, casa e instituição e entende que é de conhecimento de todos que as crianças e adolescentes, de uma forma geral, acabam vendo a maioria dos adultos, seja da família, professores ou outros profissionais de instituições como aquela pessoa que vai sempre estar corrigindo, julgando. “A gente sabe que funciona dessa forma. Então, primeiramente precisamos ver como está a comunicação dessa família, dessa instituição, para que esta seja realmente plena e aberta com as crianças. O afeto sobre essa comunicação deve existir de uma forma onde, por exemplo, deve-se respeitar a privacidade da criança, entre outros pontos”, pontua.
O principal e primeiro ponto que deve haver, conforme o psicólogo, é uma comunicação aberta, livre e espontânea com a criança. Uma escuta ativa dos pais. Ou seja, estar realmente atento, por dentro do que está acontecendo na rotina escolar, de convivência da criança. Colocando realmente um espaço para um apoio emocional para ela saber que pode estar falando com os pais, com os responsáveis, por alguma questão que estejam se sentindo incomodados. “Os pais têm realmente a função de ficarem atentos aos detalhes e tentar sempre estar treinando essa comunicação e ser próximos dos filhos. A gente sabe que essa é uma barreira muito importante e delicada em se trabalhar”, enfatiza.