Prudentino viaja o país de carona, para reviver história da família Bata

Ideia de Paulo é se capacitar na República Tcheca, para dar sequência ao trabalho do bisavô: fabricar sapatos

VARIEDADES - Danielle Merlin

Data 06/04/2015
Horário 09:09
 

No dia 7 de janeiro deste ano, Paulo Bata de Oliveira Filho, 28, ex-aluno de Marketing da Toledo Prudente Centro Universitário (ele abandonou o curso no último termo), resolveu sair pelas estradas do país - de carona e sem nada no bolso -, em busca de autoconhecimento, novas experiências, conhecer lugares bacanas e fazer muitas amizades. Em 85 dias de viagem, até agora, foram mais de 11 mil quilômetros (km) percorridos, 67 km de caminhada, 31 cidades de cinco Estados (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul) visitadas, 29 hospedagens e 137 novos amigos. E o melhor: nenhum centavo gasto!

O que era apenas uma aventura acabou virando agora uma meta. Após mudar o destino e propósito do BataPorAí, em Curitiba (PR), visitando a cidade paulista de Batatuba (onde o bisavô Jan Antonín Bata escolheu para morar com a esposa Marie e os cinco filhos), Paulo resolveu abrir o baú da família e mais do que resgatar, quer reviver a história do patriarca, grande fabricante de calçados no mundo. As outras três cidades fundadas por Jan no país – Bataguassu (MS), Batayporã (MS) e Mariápolis (SP) - também já foram percorridas por ele.

Nesta segunda-feira, após passar uma semana com os familiares em Prudente, Paulo pega novamente a estrada, rumo a São Paulo. Entre os dias 18 e 27 de abril, fará um curso de permacultura (que ganhou) em Goiás. A ideia é chegar à República Tcheca (Europa), onde vai aprender o ofício da Família Bata. "Quero conhecer tudo que ele fez por lá, me capacitar, aprender a fazer sapatos e voltar para o Brasil para começar um projeto piloto numa das cidades que ele criou", adianta. Para isso, lançará uma campanha de doação de milhagens, na fan page #BataPorAí (www.facebook.com/BataPorAi), que já conta com 995 seguidores. "Quero mostrar para as pessoas que, apenas com atitude, coragem e amigos, podemos realizar qualquer coisa na vida". Confira, na íntegra, a entrevista, feita com a colaboração da Assessoria de Imprensa da Toledo.

 

O IMPARCIAL - Como você define essa sua atitude do BataPorAí?

PAULO BATA - Acredito que foi uma atitude de coragem, mas muito por conta do medo de viver uma vida sem sentido...

 

OI - Quando isso ocorreu?

PB - A ideia surgiu em dezembro do ano passado. Então comecei a questionar a família, de forma bem genérica , sobre o que eles achariam de uma viagem de carona de caminhão pelo país e tal... Comecei a prepará-los para o que estava por vir, mas eles não me levaram muito a sério. Virou gozação. Marquei de sair para essa jornada dia 28 de dezembro, mas não combinei direito com "minha coragem", portanto, ela me faltou. Os dias passavam, até que vi a seguinte frase num filme qualquer: "O que o ser humano precisa são apenas 20 segundos de coragem"... Isso pra mim fez muito sentido e toda a diferença. Tive meus 20 segundos e parti no dia 7 de janeiro.

 

OI - Como comunicou sua família e amigos desta decisão?

PB - Na verdade não comuniquei. Saí de casa sem avisá-los. Parti às 5h da manha quando todos já estavam dormindo. Até escrevi um bilhete para eles avisando sobre o que estava fazendo, mas esqueci virado para baixo e debaixo da Bíblia em cima da minha mesa de escritório. Quase matei a família do coração, mas graças a Deus todos passam bem no momento. Entrei em contato com eles quando cheguei ao meu primeiro destino, Curitiba às 8h da noite, pelo Facebook.

 

OI - Por que tomou esta decisão?

PB - Sinceramente não existe um único motivo. Estava insatisfeito com a vida que levava. Independente de tudo que fazia com ou sem sucesso, nada tinha muito sentido. Então resolvi sair, conhecer lugares novos, fazer novas amizades, ter experiências diversas e, consequentemente, me desenvolver interiormente.

 

OI - Quais foram as dificuldades iniciais e atuais?

PB - Minha maior dificuldade foi sair de casa, da minha zona de conforto. Esse é o maior obstáculo que superei até aqui. Tirando isso, a única dificuldade que enfrento são as caminhadas. Pois como viajo sem dinheiro nenhum , eu tenho que conseguir chegar até a casa de quem vai me hospedar caminhando. Normalmente as caronas que pego com caminhão me deixam nos trevos de entrada das cidades, pois não podem entrar no centro e/ou bairros. Por isso acabo andando em média cinco a oito quilômetros, com 30 quilos nas costas, em cada cidade que chego. Mas são bons momentos de reflexão, portanto, nem acho tão problemático isso...

 

OI - Como está sendo esta experiência?

PB - Tudo que tenho vivido nesses dois meses de projeto tem sido sensacional. Optei por fazer essa viagem sem carteira, cartão, dinheiro e nem moeda. Esse detalhe tem feito toda a diferença nessa trip... Quebrei barreiras, bloqueios, paradigmas. Aprendi que quando a gente dá sem esperar nada em troca, acabamos recebendo sem a necessidade de retribuir. E, dessa forma, tenho conhecido pessoas de coração enorme e que estão se convertendo em grandes amizades que levarei para a vida.

 

OI - Como está fazendo para se manter (comida, bebida, local para dormir e outros)?

PB - A grande questão que surge quando digo que viajo sem dinheiro é com relação à alimentação. Confesso que quando saí de casa, minha maior preocupação era com higiene, principalmente local para tomar banho. Afinal comida ninguém nega, já um banheiro para um estranho são outros quinhentos. Mas nenhuma dessas aparentes dificuldades deu as caras. Segue o cardápio dos últimos 60 dias: sushi, lasanha, churrasco, macarronada italiana, lanches diversos, sem contar os cafés da manhã incríveis e os inúmeros restaurantes onde fui como convidado dos meus anfitriões.

 

OI - Em que esta experiência está te enriquecendo/te beneficiando?

PB - Todas essas experiências pelas quais tenho passado estão me ajudando a ser humano. O crescimento pessoal é algo indescritível e imensurável. Sem contar as amizades que tenho feito, desde pessoas simples, moradoras de bairros modestos, até as mais abastadas, empresários, políticos, etc... Network desses não tem dinheiro que pague. Você precisa conquistar aquilo que o dinheiro não compra. Caso contrário será um miserável, ainda que seja um milionário.

 

OI - Qual é o trajeto que pretende percorrer?

PB - De início eu tinha um roteiro na mão que contava com 50 cidades. Parti de Prudente rumo ao Chuí , para depois ir até Fernando de Noronha pelo litoral. Em seguida, a ideia era chegar até o Monte Roraima, também pelo litoral norte. Pretendia subir o monte e depois desceria até São Paulo pelo centro do país. Mas no mês passado, passei por uma experiência sensacional, que me fez mudar os planos e seguir em busca das minhas raízes. Cheguei a Batatuba , uma das cidades que meu bisavô fundou. E na sequência, visitei as outras três , também criadas por ele. Quero agora conhecer a República Tcheca, em busca do legado que ele deixou e também contar sua história através da minha página. Acho que as pessoas têm o direito de conhecer algo genial que esteve à disposição de todos, há décadas atrás, mas que se perdeu por conta de interesses políticos/econômicos que fizerem ele sucumbir.

 

OI - Nos lugares que passa, que tipo de atividade você faz? Apenas turismo?

PB - Na verdade, o que eu busco são novas experiências e boas histórias para contar. As fotos que tiro em pontos turísticos são apenas para ilustrar os locais por onde passo. Gosto que as pessoas que estão me hospedando me levem ou pelo menos indiquem lugares e pessoas legais da cidade para eu conhecer. Estou buscando conhecer lugares de acordo com a visão de quem mora, e não de quem vem de fora ... Quero me integrar ao local, à comunidade e não ser apenas alguém passageiro.

 

OI - É possível fazer amigos onde você passa?

PB - Amigos? É só o que tenho feito por onde passo. O simples fato de a pessoa parar para me dar uma carona, abrir a porta da sua casa para me receber por dois ou três dias, me dar um prato de comida, ou então me dar confiança e me contar uma boa história, já faz da pessoa minha amiga. Mas tem muitos que ultrapassam esses limites e, sem demagogia e/ou hipocrisia, viraram meus irmãos.

 

OI - Indicaria para outras pessoas esta iniciativa?

PB - Na minha modéstia opinião, acho que todo ser humano deveria tirar um ano para fazer uma trip dessas... Fez 18 anos, terminou o colegial, arruma mochila e vai pra estrada. Tire um ano para isso. Vá conhecer pessoas, cidades, negócios diversos... Ai quando voltar, com toda certeza estará muito mais preparado para decidir que faculdade fazer. Afinal, essa escolha definirá o que você irá fazer para o resto da vida.

 

OI - E para finalizar, o que espera com tudo isso?

PB - Não penso muito nisso. Meu plano na verdade é não ter um plano . Quero apenas ser feliz... Dar um sentido para minha vida. Dias atrás ouvi a seguinte frase: ‘Nunca se afaste dos seus sonhos, pois se eles se forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de existir’. Fica aí a reflexão...

 

TRAJETO PERCORRIDO ATÉ AQUI

Balneário Camboriú (SC) - Bataguassu (MS) - Batatuba (SP) – Batayporã (MS) - Cambará do Sul (RS) – Canela (RS) – Canoas (RS) - Carlos Barbosa (RS) - Cassino (RS) - Caxias do Sul (RS) – Chuí (RS) – Curitiba (PR) – Farroupilha (RS) – Florianópolis (SC) – Garibaldi (RS) – Gramado (RS) – Itajaí (SC) – Itu (SP) – Joinville (SC) – Jundiaí (SP) – Maringá (PR) - Nova Andradina (MS) – Osório (RS) – Pelotas (RS) – Piracaia (SP) – Piraquara (PR) - Porto Alegre (RS) - Presidente Prudente (SP) - Rio Grande (RS) - São Paulo (SP) - Três Coroas (RS).

 
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