Em 103 anos de história, por vários deles, a população esperou o desenvolvimento industrial de Presidente Prudente. Não ocorreu da forma que se pretendia. Isso não é de todo mal, porque a atividade econômica de uma cidade ou região está relacionada à sua vocação. Prudente não tem vocação para atrair indústrias, mas em compensação, tem descoberto outra propensão, que pode-se chamar de vocação do futuro: a ciência, a tecnologia e a inovação.
Há anos reconhecida como “cidade universitária”, a centenária Prudente conta com campus de diversas instituições de ensino superior privadas ( Unoeste [Universidade do Oeste Paulista], Fapepe/Uniesp [Faculdade de Presidente Prudente] e a Toledo Prudente Centro Universitário) e duas públicas, a FCT/Unesp (Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’) e a Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Presidente Prudente.
Nesses espaços de saber é que nasce o conhecimento científico em dezenas de áreas, as quais podemos condensar em três: ciências biológicas, exatas e humanas. Mais que isso, como diz a pesquisadora, docente e psicóloga Camélia Murgo, 45 anos, nas faculdades de Prudente faz-se ciência e cientistas.
É hora de apresentar Camélia com mais detalhamento. Ela afirma atuar em três áreas: “Desenvolvo pesquisas que fazem a aproximação e promovem diálogo entre educação e saúde nos cursos de Psicologia, Medicina e no mestrado em Educação da Unoeste”, conta. Ela, que vive em Prudente há 10 anos, já tem parte de seu coração prudentino, e afirma que nesta década pôde ver o crescimento expressivo da produção científica na cidade.
Sobre o crescimento na área de humanas, ela dá crédito a três eixos: o aumento no número de projetos que envolvem a comunidade prudentina e regional, o número crescente de publicações científicas e a formação dos alunos de graduação para que sejam profissionais pesquisadores. A respeito da última consideração, cabe a máxima: “não há pesquisa se não houver pesquisador”. Por algum tempo, a cidade importou seus cientistas, hoje está os formando e começa a receber as bonanças do investimento em aspectos como visibilidade, até internacional, e melhorias, como o desenvolvimento de pesquisas e intervenções em instâncias públicas, como a Secretaria de Saúde, Educação e Assistência Social.
Outro professor e pesquisador da Unoeste, o engenheiro agrônomo André Ricardo Zeist, 29 anos, de origem gaúcha, residente há dois anos na capital do oeste paulista, vê a cidade e região ainda carentes de desenvolvimento e apoio governamental. De qualquer forma, crê que para a região a ciência é solução. “Na minha área, agricultura, a região sofre com veranicos constantes e terreno arenoso. A ciência desenvolvida aqui é aplicada regionalmente para resolver os problemas locais”, fala. O pesquisador acredita que a tendência é que cada vez a ciência se consolide mais na cidade, sempre para propor soluções.
Por falar em soluções, é possível que seja esta palavra que tenha popularizado tanto a ciência nos últimos meses: a procura de uma solução para a pandemia da Covid-19. Um exemplo, que há anos efetua importantes pesquisas científicas, e se notabilizou com a pandemia, foi o geógrafo, professor titular do Departamento de Geografia da FCT/Unesp, Raul Borges Guimarães, morador de Prudente desde 1990.
“Trabalho há 30 anos as interfaces da geografia e a saúde. Tenho trabalhos sobre a regionalização da saúde, difusão espacial da dengue, da leishmaniose visceral, agora da Covid-19. A pandemia permitiu que mostrássemos para a população a importância da ciência para compreender o que está se passando e para encontrar saídas para os problemas”, afirma.
Perguntado se Prudente deve ser um polo para a formação de novos cientistas, Raul respondeu: “Esse deve ser um tema importante para pensarmos no desenvolvimento de Presidente Prudente. Temos aqui cinco instituições de ensino superior, milhares de professores e estudantes que vivem aqui por conta dos estudos. Prudente é um centro médico e de serviços, possui muitas empresas do setor agropecuário. Não faltam temas para pesquisas. Se juntarmos tudo isso num plano de desenvolvimento, Prudente se transforma em um polo tecnológico”.
Fotos: Cedidas
Camélia afirma que é preciso formar, na graduação, profissionais pesquisadores
Raul desenvolve pesquisa que tem ganhado destaque durante a pandemia da Covid-19
André é enfático ao dizer que a ciência é solução para os problemas regionais